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Lula defende mais poder a emergentes
Na reunião do G20, presidente diz que "G7 sozinho não tem mais condições de conduzir os assuntos econômicos do mundo'
Lula também pede que governantes evitem pânico; "não podemos, não devemos, não temos o direito de falhar", afirma
CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva abriu ontem o encontro dos ministros da Fazenda e presidentes de bancos centrais do G20 (as 20 maiores
economias do mundo) com um
discurso antipânico.
Depois de lembrar "a ameaça
de uma recessão generalizada
e, na sua esteira, a perda de milhões de empregos, o aumento
da pobreza e da exclusão", o
presidente disse: "Não podemos permitir que o pânico que
se instalou em muitos lugares
atinja os setores produtivos.
Cabe aos líderes mundiais, com
serenidade e responsabilidade,
não nos deixarmos contaminar
pelo medo".
O presidente lembrou que
pesa sobre o mundo a ameaça
de uma recessão global e disse
que nenhum país está livre do
contágio da crise financeira.
Uma vez mais, ressalvou que
o Brasil enfrenta a crise em
condições favoráveis e prometeu: "O governo não permitirá
que nosso crescimento seja
comprometido".
Como? Por meio de ações do
Banco Central e do Ministério
da Fazenda para permitir "níveis adequados de liquidez".
Lula repetiu a sua crítica recorrente ao que chamou ontem
de "aventura", qual seja o fato
de, "por muitos anos, especuladores tiveram lucros excessivos, investindo o dinheiro que
não tinham em negócios mirabolantes. Todos estamos pagando por essa aventura".
Em seguida, insistiu em uma
tese que contraria frontalmente a posição americana de não
permitir que a discussão sobre
uma eventual nova arquitetura
financeira global se transforme
em avanço do Estado.
Segundo Lula, "esse sistema
[especulativo] ruiu como um
castelo de cartas e com ele veio
abaixo a fé dogmática no princípio da não-intervenção do
Estado na economia. Muitos
dos que antes abominavam um
maior papel do Estado na economia passaram a pedir desesperadamente sua ajuda".
A resposta para a crise, conforme Lula já dissera nas Nações Unidas, deve ser "trazer
para a esfera pública decisões
antes tomadas por supostos
"especialistas", mas que só serviam interesses privados".
O presidente repetiu, por
exemplo, a necessidade de
"mecanismos universais" de
supervisão e regulação, o que,
de novo, contraria a posição
norte-americana que, historicamente, resiste a ceder suas
competências nessas áreas
-ou em quaisquer outras- para instituições multilaterais.
Nessa linha, Lula disse que
uma "verdadeira solução" dependerá de "um esforço concertado", o que exige que os governantes fujam da "tentação
de tomar medidas unilaterais".
Lula pediu também que os
países em desenvolvimento tenham participação nos "mecanismos decisórios". Mas não foi
específico sobre que tipo de
participação. Deixou também
aberta a possibilidade de reformar os organismos existentes
de gerência do sistema financeiro ou "criar novos".
A exemplo de seu ministro da
Fazenda, Guido Mantega, anteontem, Lula deu como superado o G7, o "clubão" dos sete
países mais ricos do mundo.
"É amplamente reconhecido
que o G7 sozinho não tem mais
condições de conduzir os assuntos econômicos do mundo.
A contribuição dos países
emergentes é também essencial", afirmou o presidente.
Na véspera, Mantega defendera transformar o G7, hoje o
principal instrumento de coordenação global, em G20, além
de uma reforma do Fundo Monetário Internacional.
Lula voltou a defender a conclusão da Rodada Doha de liberalização comercial. Concluir a
rodada, afirmou, "deixou de ser
uma oportunidade para passar
a ser uma necessidade".
Defender a conclusão de Doha é tema recorrente de Lula. O
assunto estava bloqueado e ficou mais marginalizado ainda
ante a crise financeira global.
O presidente terminou sua
fala em tom dramático. "Bilhões de seres humanos, sobretudo os mais vulneráveis, esperam que estejamos à altura do
desafio que a realidade nos colocou por diante".
Fechou com "não podemos,
não devemos, não temos o direito de falhar".
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