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Efeito Obama pode ser transitório diante da crise mundial
CHRIS GILES
KRISHNA GUHA
RALPH ATKINS
DO "FINANCIAL TIMES"
Ao invocar uma vez mais
"aquele credo imemorial que
resume o espírito de um povo:
sim, nós podemos", Barack
Obama resumiu, em seu discurso de vitória na semana passada, a mensagem de esperança
que oferece aos Estados Unidos
desorientados e a um mundo
entusiástico.
Mas será que esse espírito
conseguirá animar a economia
dos EUA ou a mundial? Será
que a evolução política, as propostas de política econômica
ou forças econômicas naturais
poderão dar início a uma recuperação, depois da queda livre
dos últimos meses? Ou o presidente eleito está destinado a repetir o destino de seu predecessor, suportando uma recessão
em seu primeiro ano de mandato e assistindo à queda da
economia mundial ao seu redor, algo que causaria exatamente o cinismo e a dúvida que
ele baniu na semana passada?
Os motivos de esperança se
baseiam em duas forças poderosas que começam a se fazer
sentir na economia mundial.
Primeiro, a de que as mudanças
na direção política e a adoção
de novas propostas sirvam para
impedir que a desaceleração se
transforme em recessão. Segundo, a de que os declínios nos
preços das commodities sejam
tão influentes no aumento das
rendas e do consumo nas economias avançadas quanto seus
aumentos foram, ao causar o
círculo vicioso de falhas que colocaram ainda mais pressão sobre um sistema financeiro já
desgastado.
Mas as nuvens sombrias que
envolveram o mundo nos dois
últimos meses continuam.
Os números divulgados na
semana passada foram mais
uma vez pavorosos. Os índices
de encomendas empresariais
de outubro nos EUA, zona do
euro e Reino Unido, tanto no
setor industrial quanto no de
serviços, foram péssimos.
Com essas forças contrativas,
a esperança tem séria batalha a
enfrentar. O resultado da eleição norte-americana representa uma possível causa de otimismo, no país e no exterior.
Obama pode ter a capacidade
de falar aos temerosos consumidores norte-americanos, explicando as medidas tomadas
para combater a crise, persuadindo-os a que sejam pacientes
enquanto as medidas começam
a fazer efeito, e assim sustentando sua confiança.
Mas o fator emocional positivo pode ser transitório, dada a
magnitude dos problemas econômicos que o próximo presidente terá de enfrentar.
Um limite natural para a esperança será estabelecido pelo
nível de desemprego nos EUA,
que deve subir de 6,5% para
7,5% nos próximos meses.
Nos Estados Unidos e no Reino Unido, a crise já avançou do
setor financeiro para a economia mais ampla. A maioria dos
economistas considera que as
economias desenvolvidas já estejam nos estágios iniciais de
uma recessão.
As autoridades tentaram
compensar a perda de ímpeto
com uma série de medidas dramáticas que deram aos governos controle significativo sobre
os bancos, colocaram os bancos
centrais em posição central na
intermediação financeira e reduziram o custo do dinheiro.
Essas ações foram projetadas
para garantir que as economias
evitem uma recessão. O dramático corte de juros de 1,5% decretado pelo Banco da Inglaterra, acompanhado por corte de
0,5% nos juros do BCE (Banco
Central Europeu), são apenas
parte de uma série de reações
extraordinárias das autoridades nos últimos meses.
Um fator de encorajamento é
que as medidas de ambos os lados do Atlântico tiveram algum
efeito. Mas o processo vem sendo lento, e os "spreads" do mercado monetário continuam
muito acima de antes da crise.
Até mesmo as respostas políticas agressivas que estão sendo adotadas podem não ser suficientes. Em todos os países, o
novo medo é o de que a política
monetária não seja tão eficiente quanto costuma no estímulo
à demanda.
A política fiscal provavelmente representa a próxima
opção a ser testada, ao menos
nos Estados Unidos, em algumas partes da Europa e na Ásia.
Obama, com o forte mandato
popular que conquistou e
maiorias democratas ampliadas no Congresso, está bem posicionado para reduzir impostos e tentar reduzir o número
de hipotecas executadas.
Por fim, líderes europeus
também estão entusiasmados
quanto à reunião do G20 nesta
semana.
Há motivo para esperança na
economia mundial, mas também motivos para medo. O
grande perigo é que uma severa
desaceleração econômica
mundial crie uma imensa segunda onda de perdas de crédito ao consumidor e empréstimos empresariais.
Neste ano, o medo vinha sendo de que acabasse o tempo dos
bancos para reparar os danos
causados pelo "subprime".
A preocupação quanto ao ano
que vem é que as poderosas forças da esperança, naturais e
mobilizadas pelas autoridades,
não se façam sentir antes que a
inevitável desaceleração desfira novo golpe contra o sistema
financeiro.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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