São Paulo, domingo, 09 de novembro de 2008

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Efeito Obama pode ser transitório diante da crise mundial

CHRIS GILES
KRISHNA GUHA
RALPH ATKINS
DO "FINANCIAL TIMES"

Ao invocar uma vez mais "aquele credo imemorial que resume o espírito de um povo: sim, nós podemos", Barack Obama resumiu, em seu discurso de vitória na semana passada, a mensagem de esperança que oferece aos Estados Unidos desorientados e a um mundo entusiástico.
Mas será que esse espírito conseguirá animar a economia dos EUA ou a mundial? Será que a evolução política, as propostas de política econômica ou forças econômicas naturais poderão dar início a uma recuperação, depois da queda livre dos últimos meses? Ou o presidente eleito está destinado a repetir o destino de seu predecessor, suportando uma recessão em seu primeiro ano de mandato e assistindo à queda da economia mundial ao seu redor, algo que causaria exatamente o cinismo e a dúvida que ele baniu na semana passada?
Os motivos de esperança se baseiam em duas forças poderosas que começam a se fazer sentir na economia mundial. Primeiro, a de que as mudanças na direção política e a adoção de novas propostas sirvam para impedir que a desaceleração se transforme em recessão. Segundo, a de que os declínios nos preços das commodities sejam tão influentes no aumento das rendas e do consumo nas economias avançadas quanto seus aumentos foram, ao causar o círculo vicioso de falhas que colocaram ainda mais pressão sobre um sistema financeiro já desgastado.
Mas as nuvens sombrias que envolveram o mundo nos dois últimos meses continuam.
Os números divulgados na semana passada foram mais uma vez pavorosos. Os índices de encomendas empresariais de outubro nos EUA, zona do euro e Reino Unido, tanto no setor industrial quanto no de serviços, foram péssimos.
Com essas forças contrativas, a esperança tem séria batalha a enfrentar. O resultado da eleição norte-americana representa uma possível causa de otimismo, no país e no exterior.
Obama pode ter a capacidade de falar aos temerosos consumidores norte-americanos, explicando as medidas tomadas para combater a crise, persuadindo-os a que sejam pacientes enquanto as medidas começam a fazer efeito, e assim sustentando sua confiança.
Mas o fator emocional positivo pode ser transitório, dada a magnitude dos problemas econômicos que o próximo presidente terá de enfrentar.
Um limite natural para a esperança será estabelecido pelo nível de desemprego nos EUA, que deve subir de 6,5% para 7,5% nos próximos meses.
Nos Estados Unidos e no Reino Unido, a crise já avançou do setor financeiro para a economia mais ampla. A maioria dos economistas considera que as economias desenvolvidas já estejam nos estágios iniciais de uma recessão.
As autoridades tentaram compensar a perda de ímpeto com uma série de medidas dramáticas que deram aos governos controle significativo sobre os bancos, colocaram os bancos centrais em posição central na intermediação financeira e reduziram o custo do dinheiro.
Essas ações foram projetadas para garantir que as economias evitem uma recessão. O dramático corte de juros de 1,5% decretado pelo Banco da Inglaterra, acompanhado por corte de 0,5% nos juros do BCE (Banco Central Europeu), são apenas parte de uma série de reações extraordinárias das autoridades nos últimos meses.
Um fator de encorajamento é que as medidas de ambos os lados do Atlântico tiveram algum efeito. Mas o processo vem sendo lento, e os "spreads" do mercado monetário continuam muito acima de antes da crise.
Até mesmo as respostas políticas agressivas que estão sendo adotadas podem não ser suficientes. Em todos os países, o novo medo é o de que a política monetária não seja tão eficiente quanto costuma no estímulo à demanda.
A política fiscal provavelmente representa a próxima opção a ser testada, ao menos nos Estados Unidos, em algumas partes da Europa e na Ásia.
Obama, com o forte mandato popular que conquistou e maiorias democratas ampliadas no Congresso, está bem posicionado para reduzir impostos e tentar reduzir o número de hipotecas executadas.
Por fim, líderes europeus também estão entusiasmados quanto à reunião do G20 nesta semana.
Há motivo para esperança na economia mundial, mas também motivos para medo. O grande perigo é que uma severa desaceleração econômica mundial crie uma imensa segunda onda de perdas de crédito ao consumidor e empréstimos empresariais.
Neste ano, o medo vinha sendo de que acabasse o tempo dos bancos para reparar os danos causados pelo "subprime".
A preocupação quanto ao ano que vem é que as poderosas forças da esperança, naturais e mobilizadas pelas autoridades, não se façam sentir antes que a inevitável desaceleração desfira novo golpe contra o sistema financeiro.

Tradução de PAULO MIGLIACCI



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