São Paulo, sexta-feira, 09 de dezembro de 2005

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Presidente reprova, e Dilma nega revisão de superávit

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

As novas declarações da ministra Dilma Rousseff sobre a política econômica desagradaram ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o que levou a chefe da Casa Civil a divulgar nota ontem para "esclarecer que não há discussões no governo sobre alterações na meta [de superávit fiscal] de 4,25% do Produto Interno Bruto definida para 2006".
Segundo relato de auxiliares, o presidente também não gostou de a ministra ter dito que o colega da Fazenda, Antonio Palocci Filho, continuaria no cargo. Lula considerou a frase "infeliz", pois a permanência ou não de ministros nos seus postos é assunto seu. Auxiliares e ministros dizem que Dilma não tem traquejo político e se excede em entrevistas.
Isso teria acontecido anteontem, quando ela afirmou que o superávit primário, toda a economia do setor público para pagar juros de sua dívida, poderia ser reduzido já no ano que vem, caso os juros caíssem e a economia crescesse. Lula não cogita mudar a meta de 2006. O superávit primário é um dos pilares da política econômica de Palocci, que gostaria de aumentá-lo. Em 2005, ele já será superior à meta oficial -deve terminar o ano em 4,7% do Produto Interno Bruto.
Anteontem, Dilma foi indagada se a meta poderia vir a ser alterada já a partir de 2006, ano de eleições e para o qual parte do PT e do governo defende maior liberdade para gastos públicos. Ela respondeu, em entrevista gravada:
"Esperamos. Nós temos sempre expectativas otimistas. Agora, eu acredito que, enquanto essa situação [juros altos e crescimento baixo] não se alterar, a meta do superávit no Brasil é 4,25%. Você me pediu para trabalhar com hipóteses, eu estou falando isso e registrando [aponta para o gravador], para que não haja uma distorção. Você me perguntou, se houver uma melhoria acentuada nas variáveis econômicas, muda o superávit?, eu respondo: sim. Agora, a meta que nós trabalhamos, cautelosa, é 4,25%".
O trecho constava da reportagem publicada pela Folha sobre a entrevista. Na nota de ontem, Dilma reafirmou que trabalhava com uma hipótese. "A ministra Dilma Rousseff esclarece que, ao responder a perguntas de jornalistas, ao término de uma reunião no Comando da Marinha, no último dia 7, considerou como hipótese de longo prazo a redução do superávit fiscal, dependendo, naturalmente, dos indicadores da economia."
Na entrevista anteontem, Dilma afirmou mais de uma vez que tudo indica uma queda nos juros no próximo ano, quando o crescimento deverá ficar "acima de 4%" em 2006 -ou seja, uma melhora nos indicadores econômicos.
Em outro trecho da nota, "a ministra ressalta que a meta de 4,25%, decidida pelo presidente, faz parte do projeto de lei do Orçamento Geral da União, em análise no Congresso Nacional".
Na entrevista anteontem, Dilma havia indicado que defendia mudanças no caso de um 2006 favorável: "Num cenário muito bom [a decisão sobre o superávit primário] é a posteriori, não tenho como saber antes de ele [esse cenário] ocorrer".

Bastidores
Nos bastidores, Palocci minimizou a entrevista de Dilma. Rapidamente, o desagrado presidencial com a entrevista chegou à Casa Civil, que divulgou a nota para tentar evitar um novo recrudescimento de divergências internas a respeito da política econômica.
Lula tem pedido que as críticas sejam feitas em reserva, mas seus auxiliares divergem abertamente. Na última semana, o presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Guido Mantega, e o presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli, criticaram os juros altos. O presidente do BC, Henrique Meirelles, respondeu aos ataques de público. (PEDRO DIAS LEITE, EDUARDO SCOLESE e KENNEDY ALENCAR)

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