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TENSÃO PÓS-PIB
"Flexibilização" traria pequenas mudanças para estimular crescimento
Lula quer alterar política econômica e manter Palocci
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva quer "flexibilizar" a política
econômica com o ministro Antonio Palocci (Fazenda) no comando. "O PIB quebrou o encanto",
disse ontem à Folha um membro
da cúpula do governo, em referência à queda do Produto Interno Bruto no terceiro trimestre.
Nos bastidores, Palocci tem dado
sinais de que aceita alguma inflexão desde que não pareça uma
derrota sua e do Banco Central.
Publicamente, porém, o ministro
tem dito que está no cargo para
executar a política econômica nos
moldes atuais.
Em manifestações públicas na
última semana, Lula, ministros e
presidentes de estatais fizeram
críticas à política econômica. O
presidente falou em "ajustes" e
"reparos". Ontem, a Folha indagou a um dos mais importante
membros da cúpula do governo
qual era a posição real do presidente diante de tantas versões e
pressões. Resposta: flexibilizar
com Palocci.
Na palavras de quem conversou
com Lula, ele deseja "mudar o mínimo possível, mas o suficiente
para retomar o crescimento" da
economia em 2006, ano em que
pretende disputar a reeleição.
Lula tem dito que está convencido de que o BC errou na política
monetária, elevando os juros em
excesso. Tem afirmado reservadamente que "apostou 100% contra tudo e contra todos" para bancar Palocci e que "o resultado não
será o combinado". Lula esperava
uma alta do PIB de pelo menos
4% neste ano -chegou a falar em
5% em agosto, mas as previsões
mais realistas agora apontam para uma taxa em torno de 2,5%.
Como antecipou a Folha, Lula
pretende realizar ainda neste ano
uma reunião reservada com Palocci, o presidente do BC, Henrique Meirelles, e membros da cúpula do governo para debater
mudanças na política econômica.
Ministros como Dilma Rousseff
(Casa Civil) e Paulo Bernardo
(Planejamento) deverão participar. O líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP),
também pode ser convidado.
A intenção de Lula é cobrar uma
queda maior e mais rápida da taxa
básica de juros, a Selic, hoje em
18,5% ao ano. Mesmo quando fala
desse desejo, o próprio presidente
admite a ministros e auxiliares
que não é simples e que não sabe
qual caminho exatamente seguir.
Entende que não basta simplesmente reduzir os juros para voltar
a crescer e que, a menos de um
ano das eleições do ano que vem,
qualquer movimento mais brusco poderá redundar em fracasso.
Mais: o Banco Central sempre
reage com conservadorismo e
cautela quando se sente pressionado politicamente.
"Beco sem saída"
Em outros momentos ao longo
dos quase três anos em que está
na Presidência, Lula tentou mudar a política econômica. Teve
conversa nesse sentido com Palocci no final do ano de 2003, por
exemplo. Desistiu, sob a promessa de que os resultados seriam
apresentados. Por que seria diferente agora?
Na avaliação de Lula, mantida a
atual política econômica, ele poderá ser levado a "um beco sem
saída". Ele aguardava um melhor
resultado e teme ser vítima do
chamado "vôo de galinha" -a
economia cresce muito em um
ano (4,9% em 2004), cresce pouco
no seguinte (expectativa de 2005)
e assim por diante.
Daí ter falado em "ajustes" e
"reparos". Um auxiliar direto de
Lula avalia que o ministro da Fazenda tem demonstrado disposição em discutir uma flexibilização: "O Palocci se abateu muito
com o PIB [a notícia de que o resultado do terceiro trimestre caíra
além do esperado, 1,2% na comparação com o segundo trimestre
deste ano]".
Ou seja, de público Palocci sustenta que não haverá mudança,
mas, nos bastidores, ele próprio
avalia que precisa fazer uma leve
correção. O ministro da Fazenda
prega que qualquer medida precisa ser estudada com cuidado para
não minar a credibilidade conquistada no mercado.
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