São Paulo, sexta-feira, 09 de dezembro de 2005

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TENSÃO PÓS-PIB

"Flexibilização" traria pequenas mudanças para estimular crescimento

Lula quer alterar política econômica e manter Palocci

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer "flexibilizar" a política econômica com o ministro Antonio Palocci (Fazenda) no comando. "O PIB quebrou o encanto", disse ontem à Folha um membro da cúpula do governo, em referência à queda do Produto Interno Bruto no terceiro trimestre. Nos bastidores, Palocci tem dado sinais de que aceita alguma inflexão desde que não pareça uma derrota sua e do Banco Central. Publicamente, porém, o ministro tem dito que está no cargo para executar a política econômica nos moldes atuais.
Em manifestações públicas na última semana, Lula, ministros e presidentes de estatais fizeram críticas à política econômica. O presidente falou em "ajustes" e "reparos". Ontem, a Folha indagou a um dos mais importante membros da cúpula do governo qual era a posição real do presidente diante de tantas versões e pressões. Resposta: flexibilizar com Palocci.
Na palavras de quem conversou com Lula, ele deseja "mudar o mínimo possível, mas o suficiente para retomar o crescimento" da economia em 2006, ano em que pretende disputar a reeleição.
Lula tem dito que está convencido de que o BC errou na política monetária, elevando os juros em excesso. Tem afirmado reservadamente que "apostou 100% contra tudo e contra todos" para bancar Palocci e que "o resultado não será o combinado". Lula esperava uma alta do PIB de pelo menos 4% neste ano -chegou a falar em 5% em agosto, mas as previsões mais realistas agora apontam para uma taxa em torno de 2,5%.
Como antecipou a Folha, Lula pretende realizar ainda neste ano uma reunião reservada com Palocci, o presidente do BC, Henrique Meirelles, e membros da cúpula do governo para debater mudanças na política econômica. Ministros como Dilma Rousseff (Casa Civil) e Paulo Bernardo (Planejamento) deverão participar. O líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), também pode ser convidado.
A intenção de Lula é cobrar uma queda maior e mais rápida da taxa básica de juros, a Selic, hoje em 18,5% ao ano. Mesmo quando fala desse desejo, o próprio presidente admite a ministros e auxiliares que não é simples e que não sabe qual caminho exatamente seguir.
Entende que não basta simplesmente reduzir os juros para voltar a crescer e que, a menos de um ano das eleições do ano que vem, qualquer movimento mais brusco poderá redundar em fracasso. Mais: o Banco Central sempre reage com conservadorismo e cautela quando se sente pressionado politicamente.

"Beco sem saída"
Em outros momentos ao longo dos quase três anos em que está na Presidência, Lula tentou mudar a política econômica. Teve conversa nesse sentido com Palocci no final do ano de 2003, por exemplo. Desistiu, sob a promessa de que os resultados seriam apresentados. Por que seria diferente agora?
Na avaliação de Lula, mantida a atual política econômica, ele poderá ser levado a "um beco sem saída". Ele aguardava um melhor resultado e teme ser vítima do chamado "vôo de galinha" -a economia cresce muito em um ano (4,9% em 2004), cresce pouco no seguinte (expectativa de 2005) e assim por diante.
Daí ter falado em "ajustes" e "reparos". Um auxiliar direto de Lula avalia que o ministro da Fazenda tem demonstrado disposição em discutir uma flexibilização: "O Palocci se abateu muito com o PIB [a notícia de que o resultado do terceiro trimestre caíra além do esperado, 1,2% na comparação com o segundo trimestre deste ano]".
Ou seja, de público Palocci sustenta que não haverá mudança, mas, nos bastidores, ele próprio avalia que precisa fazer uma leve correção. O ministro da Fazenda prega que qualquer medida precisa ser estudada com cuidado para não minar a credibilidade conquistada no mercado.


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