ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL

A meta de inflação referente a 2002 negociada com o FMI (Fundo Monetário Internacional) não deve ser cumprida. O IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) do ano passado, que será divulgado hoje, provavelmente ultrapassará 11% -teto da meta acordada com o Fundo pelo governo anterior.
Essa meta de inflação é apenas indicativa. Não se trata de critério de desempenho para que o governo consiga fazer novos saques de recursos previstos no acordo.
Mas, como o governo vai estourar o teto da banda larga (a mais alta prevista) da meta, será obrigado a consultar a diretoria executiva da instituição sobre medidas para conter a inflação, antes que novos desembolsos sejam aprovados. Isso será feito durante a revisão do acordo em fevereiro.
Nos bastidores, circulam dois possíveis desfechos para essa consulta. O FMI poderá sugerir novo aumento dos juros. Ou -o mais provável- o governo aumentará a meta de superávit primário deste ano. Isso não ajudaria a corrigir a inflação alta, mas demonstraria o compromisso do novo governo com a estabilidade econômica.

Erro herdado
O novo governo terá de se explicar, na verdade, por um erro de cálculo da administração anterior. No início de dezembro passado, o ex-ministro da Fazenda Pedro Malan e o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga enviaram uma carta ao FMI solicitando alteração das metas de inflação previstas no último acordo. Pediam que as metas trimestrais do IPCA acumulado em 12 meses fossem corrigidas para cima em dois pontos percentuais.
O Fundo concordou. O problema foi que a disparada dos preços naquele período confundiu o próprio BC que não conseguiu antever que o IPCA ficaria acima de 11%. Conclusão: o negociado foi que a meta para o centro do IPCA em 2002 subiria de 6,5% para 8,5% e o teto da banda larga passaria de 9% para 11%.
Essa mudança levará ao descumprimento do acordo com o Fundo. A expectativa média do mercado é que o IPCA em 2002 tenha ficado em 12,6%, segundo dados do BBV Banco.
O próprio BC, no fim de dezembro, divulgou projeções para inflação que estouram todas as metas trimestrais acertadas com o Fundo até setembro deste ano. Para 2002, a previsão é de 12,4%.


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