São Paulo, sábado, 10 de janeiro de 2009

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Com crise, IPCA fecha 2008 dentro da meta

Inflação arrefece sob influência da queda das commodities e sobe 5,9% no ano; taxa em dezembro é a menor para o mês desde o Real

Apesar da desaceleração, taxa acumulada no ano foi a maior desde 2004; com alta de 11%, alimentos foram a maior fonte de pressão

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Com a crise financeira internacional, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) se desacelerou e fechou 2008 em 5,9%, abaixo do teto da meta oficial do governo -de 6,5%. O índice, porém, superou o de 2007 (4,46%) e foi o maior desde 2004 (7,60%), diz o IBGE.
Com a turbulência, cederam os preços das commodities e dos bens duráveis (dependentes de crédito) no final do ano, e o IPCA de dezembro sentiu tais efeitos: subiu 0,28%, percentual inferior ao 0,36% de novembro. Foi também o menor nível para o mês desde o Real.
A partir de agosto, a inflação se manteve num patamar mais baixo por conta dos impactos da crise, especialmente sobre o preço dos alimentos, que avançaram 0,36% em dezembro -ante 0,61% em novembro.
No acumulado do ano, no entanto, o grupo alimentação foi o grande vilão da inflação. Subiu 11,11% -maior taxa desde 2002-, sendo o principal responsável pela aceleração do IPCA de 2007 para 2008.
A alta dos alimentos ficou concentrada no primeiro semestre: 8,65%, contra 2,27% nos seis últimos meses do ano. Sozinho, o grupo alimentação representou 2,42 pontos percentuais do IPCA de 2008 -ou 41% da taxa.
Até outubro, quando a taxa em 12 meses bateu em 6,41%, havia o forte temor de estouro do teto da meta de inflação, principalmente num cenário de desvalorização cambial.
Segundo Nunes dos Santos, a influência da alta do dólar foi mais que compensada pelo recuo das commodities e pela retração da economia, o que impede repasses de aumentos de custos. "O efeito do câmbio não se manifestou ainda. Numa situação de redução da demanda, não há espaço para repasses."
Apenas em alguns casos isolados, como o de vestuário (alta de 0,99% em dezembro), é possível notar impacto da valorização do dólar, segundo ela. O setor depende de importações.
O economista Fábio Romão, da LCA, também avalia que os reflexos da crise preponderam. "A crise colaborou para segurar os preços. Provocou uma descompressão dos preços no atacado por causa da queda das commodities, o que acabou chegando ao varejo. Afetou também o nível de atividade e reduziu, com isso, os preços de bens duráveis, como veículos."
Diante da escassez de crédito e da menor confiança de consumidores, o preço dos automóveis novos caiu 2,25% em 2008. Os usados cederam ainda mais: 4,32%. Já os itens de TV, som e informática -também comprados a crédito- registram deflação de 7,72%.
Para Luiz Roberto Cunha, da PUC-RJ, "felizmente ou infelizmente, a inflação do final de 2008 reflete um quadro de queda do nível de atividade da economia", que deve perdurar ao menos no primeiro semestre.

Preços administrados
Adormecidos nos últimos anos, os serviços cujos preços são controlados e as tarifas públicas tiveram altas mais expressivas em decorrência da elevação dos índices de 2007, que corrigiram os contratos vigentes no ano passado. O grupo respondeu por 0,99 ponto percentual da inflação de 2008, contra 0,51 ponto registrado no ano anterior.
Para 2009, economistas preveem uma continuidade da queda dos preços de alimentos, que devem responder à deflação dos produtos agrícolas no atacado.
Segundo Francis Kinder, da Rosenberg & Associados, a única ressalva é a retração da safra, num cenário de produtividade em baixa com custo maior de produção e preços deprimidos -o que desestimula o plantio.
Por outro lado, espera-se uma aceleração dos preços administrados, realimentados por uma inflação maior em 2008 do que em 2007. Muitos itens atrelados a contratos como energia, aluguéis e telefonia são corrigidos em parte pelos IGPs. No ano passado, eles tiveram altas moderadas e abaixo da inflação. A energia subiu 1,11%. O telefone fixo, 3,64%.
Para 2009, a Rosenberg & Associados estima uma alta de 5,5% dos preços administrados.


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