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Com crise, IPCA fecha 2008 dentro da meta
Inflação arrefece sob influência da queda das commodities e sobe 5,9% no ano; taxa em dezembro é a menor para o mês desde o Real
Apesar da desaceleração,
taxa acumulada no ano foi a
maior desde 2004; com alta
de 11%, alimentos foram
a maior fonte de pressão
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Com a crise financeira internacional, o IPCA (Índice de
Preços ao Consumidor Amplo)
se desacelerou e fechou 2008
em 5,9%, abaixo do teto da meta oficial do governo -de 6,5%.
O índice, porém, superou o de
2007 (4,46%) e foi o maior desde 2004 (7,60%), diz o IBGE.
Com a turbulência, cederam
os preços das commodities e
dos bens duráveis (dependentes de crédito) no final do ano, e
o IPCA de dezembro sentiu tais
efeitos: subiu 0,28%, percentual inferior ao 0,36% de novembro. Foi também o menor
nível para o mês desde o Real.
A partir de agosto, a inflação
se manteve num patamar mais
baixo por conta dos impactos
da crise, especialmente sobre o
preço dos alimentos, que avançaram 0,36% em dezembro
-ante 0,61% em novembro.
No acumulado do ano, no entanto, o grupo alimentação foi o
grande vilão da inflação. Subiu
11,11% -maior taxa desde
2002-, sendo o principal responsável pela aceleração do
IPCA de 2007 para 2008.
A alta dos alimentos ficou
concentrada no primeiro semestre: 8,65%, contra 2,27%
nos seis últimos meses do ano.
Sozinho, o grupo alimentação
representou 2,42 pontos percentuais do IPCA de 2008 -ou
41% da taxa.
Até outubro, quando a taxa
em 12 meses bateu em 6,41%,
havia o forte temor de estouro
do teto da meta de inflação,
principalmente num cenário
de desvalorização cambial.
Segundo Nunes dos Santos, a
influência da alta do dólar foi
mais que compensada pelo recuo das commodities e pela retração da economia, o que impede repasses de aumentos de
custos. "O efeito do câmbio não
se manifestou ainda. Numa situação de redução da demanda,
não há espaço para repasses."
Apenas em alguns casos isolados, como o de vestuário (alta
de 0,99% em dezembro), é possível notar impacto da valorização do dólar, segundo ela. O setor depende de importações.
O economista Fábio Romão,
da LCA, também avalia que os
reflexos da crise preponderam.
"A crise colaborou para segurar
os preços. Provocou uma descompressão dos preços no atacado por causa da queda das
commodities, o que acabou
chegando ao varejo. Afetou
também o nível de atividade e
reduziu, com isso, os preços de
bens duráveis, como veículos."
Diante da escassez de crédito
e da menor confiança de consumidores, o preço dos automóveis novos caiu 2,25% em 2008.
Os usados cederam ainda mais:
4,32%. Já os itens de TV, som e
informática -também comprados a crédito- registram
deflação de 7,72%.
Para Luiz Roberto Cunha, da
PUC-RJ, "felizmente ou infelizmente, a inflação do final de
2008 reflete um quadro de queda do nível de atividade da economia", que deve perdurar ao
menos no primeiro semestre.
Preços administrados
Adormecidos nos últimos
anos, os serviços cujos preços
são controlados e as tarifas públicas tiveram altas mais expressivas em decorrência da
elevação dos índices de 2007,
que corrigiram os contratos vigentes no ano passado. O grupo
respondeu por 0,99 ponto percentual da inflação de 2008,
contra 0,51 ponto registrado no
ano anterior.
Para 2009, economistas preveem uma continuidade da
queda dos preços de alimentos,
que devem responder à deflação dos produtos agrícolas no
atacado.
Segundo Francis Kinder, da
Rosenberg & Associados, a única ressalva é a retração da safra,
num cenário de produtividade
em baixa com custo maior de
produção e preços deprimidos
-o que desestimula o plantio.
Por outro lado, espera-se
uma aceleração dos preços administrados, realimentados
por uma inflação maior em
2008 do que em 2007. Muitos
itens atrelados a contratos como energia, aluguéis e telefonia
são corrigidos em parte pelos
IGPs. No ano passado, eles tiveram altas moderadas e abaixo
da inflação. A energia subiu
1,11%. O telefone fixo, 3,64%.
Para 2009, a Rosenberg &
Associados estima uma alta de
5,5% dos preços administrados.
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