São Paulo, sábado, 10 de janeiro de 2009

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EUA fecham 1,1 milhão de vagas em 2 meses

Taxa de desemprego chegou a 7,2% em dezembro, pior resultado em 16 anos; em 2008, 2,6 milhões de postos foram extintos

Perdas atingem a todos os setores, liderados por manufaturas e construção civil; pressão sobre Obama ganha força em todo o país

ANDREA MURTA
DE NOVA YORK

A rápida deterioração da economia dos EUA resultou em dezembro em um corte dramático de 524 mil postos de trabalho, o que elevou a taxa de desemprego do país a 7,2% -o pior índice em 16 anos-, segundo relatório do governo. Em todo o ano de 2008, 2,6 milhões de norte-americanos viram seus empregos desaparecerem, 73% apenas nos últimos quatro meses.
A evolução do índice de desemprego reflete a espiral negativa da recessão no país. Em abril a taxa era de 5%; em novembro, já chegava a 6,8%, e no último mês pulou mais 0,4 ponto percentual. O número de desempregados hoje chega a mais de 11 milhões nos EUA.
Praticamente todos os setores enfrentam fortes perdas. Na construção civil, 101 mil vagas foram cortadas (630 mil em 12 meses), além de 149 mil em manufaturas (800 mil no ano). O varejo, sofrendo com a queda nas vendas, eliminou 67 mil postos e serviços profissionais e de negócios perderam 113 mil postos. Os campos financeiro, editorial e hoteleiro tiveram destino similar.
"Essa situação é sem precedentes", afirmou ao "New York Times" Mark Zandi, economista-chefe do site de avaliação de risco Moody's Economy.com. "Vai de costa à costa. Não há nenhum refúgio no mercado de trabalho, não há lugar seguro."
As únicas áreas a observar crescimento foram educação e saúde, que contrataram mais 45 mil trabalhadores em dezembro, e o governo, que acrescentou 7.000 postos.
O Birô de Estatísticas do Trabalho, responsável pelo relatório, também revisou de 533 mil para 584 mil as perdas de novembro, no pior mês desde 1974. Assim, só em outubro e novembro, 956 mil empregos foram cortados. Somando-se novembro e dezembro, o número ultrapassou 1,1 milhão.
Em números absolutos, os 2,6 milhões de vagas perdidas são o pior resultado anual desde 1945. Com o resultado ajustado para o tamanho da população economicamente ativa, o número é o mais dramático desde 1982 e o terceiro pior desde a Segunda Guerra.
Sob alguns aspectos, esse não é o pior cenário do país nas últimas décadas. Entre 1974 e 1975, a queda no número total de homens e mulheres trabalhando foi de 2,7%; entre 1981 e 1982, a queda foi de 3,1%. Desta vez, a perda nos 12 meses até novembro é de 1,9%.
Os dados aumentam a pressão sobre o presidente eleito Barack Obama, que reiterou ontem apelos para que o Congresso aprove rapidamente um pacote de estímulo de até US$ 800 bilhões. "As perdas de dezembro são uma lembrança dramática sobre a necessidade um plano agressivo", disse Obama. "Este é o momento de agir, agir sem demora."
Apesar da urgência, Alexander Keyssar, professor de políticas públicas da Universidade Harvard e especialista em desemprego, afirmou à Folha que os EUA continuarão a perder vagas em grande quantidade por ao menos seis a oito meses. "Acho que há uma boa chance de chegarmos ao final do ano com a taxa de desemprego acima de 10%", disse.
Para Keyssar, os bilhões gastos até agora pelo governo e pelo Fed para resgatar o setor financeiro foram "praticamente inúteis". "Não acho que as grandes injeções de liquidez no mercado precisem de mais tempo; simplesmente não funcionaram. A mudança para um tipo de gasto público em estilo keynesiano tem mais chances de ter impacto, mas vão demorar a fazer efeito."


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