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Manaus expande as conexões com o país
Crescimento da zona franca amplia e sofistica a logística necessária para abastecer a capital, que importa a maioria do que consome
Transportes de cabotagem, aéreo e rodofluvial formam a base que alimenta um complexo econômico que fatura US$ 30 bi por ano
AGNALDO BRITO
ENVIADO ESPECIAL A MANAUS (AM)
São 6h05. O Boeing-767/300
da ABSA (do grupo LAN Chile)
inicia o taxiamento na pista auxiliar do aeroporto de Cumbica,
em Guarulhos (SP). Cintos atados, o comandante Antonio
Giostri acelera. São 6h11. As 180
toneladas brutas do Boeing sacodem a 300 km/h, e, antes do
fim da pista, a cabine mira o
céu. As 53,6 toneladas de carga
são aguardadas em Manaus
(AM). O transporte aéreo Manaus-São Paulo decolou.
A bordo, vai de tudo. Morango, pintinho de um dia, verdura,
aço, componentes eletrônicos
para o polo industrial de Manaus. O trânsito aéreo de mercadorias entre a região Sudeste
e Manaus já beira as 10 mil toneladas de carga por mês, embarcadas em aviões de passageiros e de carga.
O vaivém de produtos já é
maior do que toda a exportação
aérea do Brasil para os Estados
Unidos e os países europeus.
"Fora os Estados Unidos, nenhum outro país do mundo gera um volume de carga aérea
dentro do território como esse
entre São Paulo e Manaus",
afirma Alexandre Silva, gerente
de vendas da ABSA. Por isso, a
companhia, que lançou em
março o primeiro voo regular,
passou agora a oferecer dois
voos por dia.
Mina de ouro
Importar comida não é um
luxo em Manaus, é uma necessidade. O clima e o solo inviabilizam, segundo a Suframa (Superintendência da Zona Franca
de Manaus), a produção de alimentos em escala. Quase tudo
vem de fora: chega de navio, de
avião, em carretas baú, despachado sobre balsas de Belém
(PA) ou de Porto Velho (RO).
Colhida no dia anterior em
Piedade (SP), a carga de 1.500
quilos de morangos chega ainda fresca aos mais de cem pontos de venda do fruto em Manaus. Paulo Otero de Souza, o
"rei do morango", conhece o assunto como poucos. Há 35
anos, vende frutas na causticante Manaus. Correntes de
ouro no pescoço, o paraense
domina o setor na capital.
Vende 150 mil caixas de morango por ano. Tudo chega de
avião. "Já tentei trazer baús
carregados de morango. Aqui
chegou só o caldo", brinca. Como tudo, o custo é alto: seis
reais a bandeja de morango,
que em São Paulo custa R$ 2.
"Morango aqui nunca deu e não
vai dar. Mas a turma gosta.
Compra tudo", diz Souza na
caótica sede de sua empresa, ao
lado do Mercado da Banana, no
centro de Manaus.
Cabotagem
Não muito longe dali, o
Aliança Europa -um dos seis
navios da maior companhia de
navegação de cabotagem do
país- descarrega 1.200 contêineres, a maior parte embarcada
no porto de Santos.
Trazem insumos para a indústria na zona franca: grãos,
produtos de limpeza, material
de construção -cerâmica, cimento, vergalhão. Manaus se
verticaliza.
A crise afetou o fluxo de comércio na região, mas a recuperação chegou com força. A
Aliança avalia reativar a linha-expressa Manaus-São Paulo,
explica Bruno Crelier, gerente
de cabotagem da companhia.
Com a mudança, o tempo de
viagem então baixaria para oito
dias. Hoje, com as escalas no
Nordeste, a viagem dura 11 dias
e meio, tempo semelhante ao
da mais importante modalidade de transporte para a região: a
rodofluvial -que associa hidrovias e rodovias.
Segundo a Suframa, 80% das
importações de fora do país para Manaus chegam por via marítima, o que inclui insumos
vindos da Ásia e da Europa para
a indústria eletroeletrônica.
Do que é produzido na região, também 80% são dedicados a abastecer o mercado brasileiro, diz Ana Maria de Souza,
coordenadora geral de estudos
econômicos da Suframa.
Os dados sobre o transporte
na Amazônia ainda são incipientes, mas, apesar da deficiência, são esses canais os responsáveis por dar ao polo industrial o faturamento de
US$ 30 bilhões por ano e emprego para 86 mil pessoas.
O jornalista viajou a convite da ABSA
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