São Paulo, domingo, 10 de janeiro de 2010

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Manaus expande as conexões com o país

Crescimento da zona franca amplia e sofistica a logística necessária para abastecer a capital, que importa a maioria do que consome

Transportes de cabotagem, aéreo e rodofluvial formam a base que alimenta um complexo econômico que fatura US$ 30 bi por ano

AGNALDO BRITO
ENVIADO ESPECIAL A MANAUS (AM)

São 6h05. O Boeing-767/300 da ABSA (do grupo LAN Chile) inicia o taxiamento na pista auxiliar do aeroporto de Cumbica, em Guarulhos (SP). Cintos atados, o comandante Antonio Giostri acelera. São 6h11. As 180 toneladas brutas do Boeing sacodem a 300 km/h, e, antes do fim da pista, a cabine mira o céu. As 53,6 toneladas de carga são aguardadas em Manaus (AM). O transporte aéreo Manaus-São Paulo decolou.
A bordo, vai de tudo. Morango, pintinho de um dia, verdura, aço, componentes eletrônicos para o polo industrial de Manaus. O trânsito aéreo de mercadorias entre a região Sudeste e Manaus já beira as 10 mil toneladas de carga por mês, embarcadas em aviões de passageiros e de carga.
O vaivém de produtos já é maior do que toda a exportação aérea do Brasil para os Estados Unidos e os países europeus. "Fora os Estados Unidos, nenhum outro país do mundo gera um volume de carga aérea dentro do território como esse entre São Paulo e Manaus", afirma Alexandre Silva, gerente de vendas da ABSA. Por isso, a companhia, que lançou em março o primeiro voo regular, passou agora a oferecer dois voos por dia.

Mina de ouro
Importar comida não é um luxo em Manaus, é uma necessidade. O clima e o solo inviabilizam, segundo a Suframa (Superintendência da Zona Franca de Manaus), a produção de alimentos em escala. Quase tudo vem de fora: chega de navio, de avião, em carretas baú, despachado sobre balsas de Belém (PA) ou de Porto Velho (RO).
Colhida no dia anterior em Piedade (SP), a carga de 1.500 quilos de morangos chega ainda fresca aos mais de cem pontos de venda do fruto em Manaus. Paulo Otero de Souza, o "rei do morango", conhece o assunto como poucos. Há 35 anos, vende frutas na causticante Manaus. Correntes de ouro no pescoço, o paraense domina o setor na capital.
Vende 150 mil caixas de morango por ano. Tudo chega de avião. "Já tentei trazer baús carregados de morango. Aqui chegou só o caldo", brinca. Como tudo, o custo é alto: seis reais a bandeja de morango, que em São Paulo custa R$ 2. "Morango aqui nunca deu e não vai dar. Mas a turma gosta. Compra tudo", diz Souza na caótica sede de sua empresa, ao lado do Mercado da Banana, no centro de Manaus.

Cabotagem
Não muito longe dali, o Aliança Europa -um dos seis navios da maior companhia de navegação de cabotagem do país- descarrega 1.200 contêineres, a maior parte embarcada no porto de Santos.
Trazem insumos para a indústria na zona franca: grãos, produtos de limpeza, material de construção -cerâmica, cimento, vergalhão. Manaus se verticaliza.
A crise afetou o fluxo de comércio na região, mas a recuperação chegou com força. A Aliança avalia reativar a linha-expressa Manaus-São Paulo, explica Bruno Crelier, gerente de cabotagem da companhia.
Com a mudança, o tempo de viagem então baixaria para oito dias. Hoje, com as escalas no Nordeste, a viagem dura 11 dias e meio, tempo semelhante ao da mais importante modalidade de transporte para a região: a rodofluvial -que associa hidrovias e rodovias.
Segundo a Suframa, 80% das importações de fora do país para Manaus chegam por via marítima, o que inclui insumos vindos da Ásia e da Europa para a indústria eletroeletrônica.
Do que é produzido na região, também 80% são dedicados a abastecer o mercado brasileiro, diz Ana Maria de Souza, coordenadora geral de estudos econômicos da Suframa.
Os dados sobre o transporte na Amazônia ainda são incipientes, mas, apesar da deficiência, são esses canais os responsáveis por dar ao polo industrial o faturamento de US$ 30 bilhões por ano e emprego para 86 mil pessoas.


O jornalista viajou a convite da ABSA


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