São Paulo, domingo, 10 de janeiro de 1999

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"EFEITO ITAMAR"
Moratória mineira e incertezas sobre ajuste fiscal alijam empresas de fonte alternativa de dinheiro barato
Mercado de títulos se fecha para o Brasil

Evelson de Freitas - 07.jan.99/Folha Imagem
O governador de Minas Gerais, Itamar Franco, que declarou moratória


FERNANDO RODRIGUES
da Sucursal de Brasília

O mercado de títulos no exterior deve continuar fechado para o Brasil nos próximos meses, como efeito da crise aberta pela moratória de Minas Gerais, pelo histórico das cotações do papéis brasileiros no ano passado e por causa da incerteza sobre a implementação do ajuste fiscal.
Com esse mercado fechado, as empresas brasileiras continuarão alijadas de uma fonte alternativa de dinheiro barato (taxas que chegam a 10% ao ano -mais câmbio) se comparada aos custos no Brasil, onde só o juro básico está em 29%.
Desde quando a Rússia decretou moratória, em 17 de agosto do ano passado, o mercado para empresas brasileiras captarem no exterior se fechou. Os investidores começaram a temer pela capacidade do Brasil de honrar sua dívida externa -de US$ 230,459 bilhões, segundo o último dado oficial disponível, de outubro passado.
O ano de 98 fechou com preços depreciados para os papéis da dívida externa brasileira, conforme mostra tabela publicada hoje pela Folha (veja a tabela na página 2-6).
Havia uma expectativa no mercado de que a votação e a implementação do ajuste fiscal pudessem reverter essa situação.
Com a moratória mineira, esse plano de retomada foi arquivado por mais algum tempo.
"Agora, o mercado de títulos só vai se aquecer após algum sinal concreto da aprovação e da implementação do ajuste fiscal, que levará ao equilíbrio das contas públicas", diz Álvaro Simões, diretor do Banco Crédit Agricole Indosuez no Brasil.
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Lançamento
O Indosuez foi a instituição que liderou o lançamento de US$ 200 milhões em títulos do governo de Minas Gerais no exterior em 94.
Segundo Álvaro Simões, várias empresas grandes estavam se preparando para tentar lançar algum título em fevereiro, logo após a votação do ajuste fiscal pelo Congresso. Por causa da moratória mineira, essas operações devem ter entrado em compasso de espera.
O presidente do Banco Merrill Lynch no Brasil, Bernardo Parnes, concorda que a situação se complicou após a moratória mineira.
"A moratória de Minas Gerais nos faz voltar alguns passos atrás", diz Parnes.
Para ele, é importante esperar para saber quais serão os efeitos sobre os outros Estados.
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Cotações em 98
Mesmo antes da moratória mineira, a situação já não era favorável às empresas brasileiras que pretendessem captar dinheiro no exterior emitindo títulos.
Há um ano, várias empresas estavam conseguindo emitir papéis pagando juros anuais abaixo de 10% e com prazo de vencimento acima de três anos.
Hoje, o deságio desses papéis mostra que esse tipo de operação não é mais viável.
Na tabela que a Folha publica hoje está calculado o "yield" -palavra inglesa (pronuncia-se "i-ild") usada no mercado para descrever o ganho total que um investidor tem por ano ao comprar títulos- de papéis brasileiros.
Para fazer o cálculo do "yield", leva-se em conta o deságio do papel no mercado secundário, o prazo de vencimento e o juro pago sobre o valor de face.
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Variações
Por exemplo, o título da OPP Petroquímica, do Grupo Odebrecht, paga 11% ao ano e vence em outubro de 2001. Como é possível comprar esse título por apenas 65% do seu valor de face (cotação de 31 de dezembro passado), o ganho anual do investidor (o "yield") passa a ser 30,06%
Os "yields" de papéis brasileiros variavam, em 31 de dezembro passado, de 10,32% (título do governo federal, que vence em 2001) a 61,55% (papel da Sharp do Brasil, que vence em 2000).
A rigor, o "yield" é o patamar dos juros que uma empresa teria de oferecer para conseguir colocar novos títulos no mercado.
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