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"EFEITO ITAMAR"
Bônus do Bradesco era esperado para as próximas duas semanas; BC examina emissão da República
Novas captações poderão ser atrasadas
VANESSA ADACHI
da Reportagem Local
O "efeito Itamar" jogou incertezas sobre operações de captação
externa brasileiras que estavam
sendo estruturadas e deveriam ir a
mercado em breve.
O apetite por papéis brasileiros
começava a ressurgir a conta-gotas, após toda a crise financeira, e
ainda não se pode medir com certeza até que ponto a ameaça de
moratória em Minas Gerais atrapalha o processo.
Na sexta-feira, quando já caía a
noite no Brasil, mas o mercado de
Nova York ainda estava a todo o
vapor, operadores de Wall Street
afirmavam que o bônus de US$ 100
milhões com prazo de um ano do
Bradesco poderia ter algum atraso.
É a única operação que já está
praticamente pronta. Os investidores vêm sendo sondados há semanas e a demanda já é certa. Os
papéis do banco brasileiro eram
esperados nas próximas duas semanas, antes da crise aberta por
Itamar Franco. O Bradesco costuma ser um dos pioneiros no retorno após crises. Procurado, o banco
não falou sobre o assunto.
A Folha apurou que os técnicos
do Banco Central também já vinham estudando a emissão do tão
esperado bônus da República, para
colocação em breve, ainda no primeiro trimestre. Agora, as condições devem ser reavaliadas.
O bônus da República é ansiosamente esperado porque abriria
portas para que empresas e bancos
do país voltassem ao mercado externo em seguida.
No início da semana passada, a
Cesp inaugurou as captações brasileiras de 99, com uma operação
de US$ 100 milhões por seis meses,
e alimentou certo otimismo em relação à retomada das operações.
Na terça-feira, por exemplo, o
Banco do Brasil anunciou que estuda fazer emissões até março. Segundo o diretor do BB, Rossano
Maranhão, o programa de emissão
de US$ 300 milhões a US$ 400 milhões para 99 já está aprovado.
"Voltamos ao mercado até março,
a depender das condições lá fora."
Até a notícia sobre o primeiro
bônus brasileiro em euros veio à
tona. A Bombril-Cirio quer captar
cerca de US$ 200 milhões em euros
em operação que está sendo estudada pelo banco Bozano, Simonsen para depois do Carnaval.
Enfim, o mercado ensaiou um
clima de otimismo, que acabou se
invertendo no final da semana.
"O mercado ficou inseguro, percebeu que tem muito chão ainda
para o Brasil percorrer. Hoje (sexta) está pior que no início da semana e ninguém comprou títulos do
Brasil, só vendeu", diz Felipe Pontual, responsável pela renda fixa
internacional do banco BBA.
"Todas as empresas e níveis do
governo que quiserem captar vão
ser afetados pela moratória mineira. O maior prejudicado é o próprio governo de Minas", diz o especialista Octávio de Barros, diretor-técnico da Sobeet (Sociedade
Brasileira de Estudos de Empresas
Transnacionais), uma organização
não-governamental de pesquisa.
O BNDES (Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e
Social), que tem um dos maiores
programas de bônus previsto para
99, mostra ceticismo.
A meta inicial para o ano era captar US$ 1,5 bilhão. "Isso não quer
dizer que vamos fazer tudo. Hoje,
não temos nada em andamento, as
condições estão muito ruins, a taxa
está absurda", diz Isac Zagury, diretor financeiro do BNDES.
Se antes da moratória russa as
empresas brasileiras pagavam, em
média, 8% a 9% em dólar ao ano,
agora as taxas estão variando ao
redor de 12% a 14%. Apenas em casos de risco muito bom, como Bradesco, a taxa tende a ser melhor. A
expectativa é que o Bradesco capte
a 10% ao ano.
A situação fica dramática em vista do volume de vencimento de dívidas no exterior ao longo de 99.
"Existe uma fila de empresas
querendo captar. A Sabesp tem
US$ 600 milhões vencendo este
ano e tem que captar mais", diz o
diretor financeiro do Bozano, Simonsen, Luiz Fernando Resende.
Segundo Octávio de Barros, há
US$ 15,7 bilhões de títulos externos brasileiros vencendo este ano.
Ele estima que as emissões ficarão
próximas a US$ 10 bilhões, em um
cenário conservador. Em 98, as
emissões foram mais que o dobro,
algo perto de US$ 22 bilhões.
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