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TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS
Economistas dos EUA rejeitam tese da bolha
GILSON SCHWARTZ
da Equipe de Articulistas
Aconteceu na semana passada
um dos mais importantes conclaves de economistas do mundo,
promovido pela Associação dos
Economistas Americanos.
Os relatos da reunião mostram
que há uma convergência entre o
sentimento dos investidores em
Wall Street e a opinião de respeitados economistas acadêmicos.
Em declaração ao jornal "The
New York Times", o economista
Gregory Mankiw, de Harvard,
uma das estrelas no panteão dos
últimos anos, afirmou que, se as
pessoas acreditassem na tese da
bolha especulativa em Wall Street,
o assunto teria sido amplamente
discutido no evento.
O sentimento predominante, na
sua visão, é de absoluta confiança
na capacidade de o presidente do
banco central dos EUA, Alan
Greenspan, evitar uma crise na
Bolsa reduzindo as taxas de juros o
quanto for necessário.
Outro economista célebre, Alan
Blinder, de Princeton, atribui a boa
fase da economia norte-americana
a "choques de sorte". Entre esses
choques favoráveis estão a queda
nos preços do petróleo, a redução
nos preços de bens importados pelos EUA, a queda acelerada nos
preços de computadores e o declínio nos custos do sistema de saúde.
A condição cada vez mais precária
das relações de trabalho, reduzindo os custos de contratação, também ajuda. Uma terceira explicação foi dada pelo igualmente notável Edmund Phelps, de Columbia.
Para o economista, é a própria valorização das ações na Bolsa que
anima as decisões de investimento
das empresas e dá fôlego à expansão econômica dos EUA.
Vários indicadores econômicos
continuam dando sinais de elevado vigor nos EUA. O desemprego
voltou a cair, situando-se no nível
mais baixo dos últimos 28 anos. As
decisões de compra de imóveis novos estão num patamar recorde
desde os anos 70.
Em sua sondagem semestral com
economistas, o "Wall Street Journal" identificou um consenso em
favor do cenário de mais crescimento nos EUA em 99, ainda que
menos intenso. E o mais preciso
entre os profissionais ouvidos pelo
"Journal" foi elaborado por um
professor que também fundamenta suas análises na liderança de
Alan Greenspan.
Uma das poucas vozes dissonantes nesse coro de contentes continua sendo a de Paul Krugman, o
economista do MIT que acaba de
publicar um artigo na revista "Foreign Affairs" alertando para a
atualidade dos conceitos de "economia de depressão". Ou seja, seria ainda cedo demais para esquecer as lições da Grande Depressão
que se iniciou com a crise de 29.
Uma dessas lições é exatamente a
importância de relativizar a confiança exagerada em períodos de
grande euforia, que parecem prolongar indefinidamente uma expansão econômica marcada por
importantes avanços tecnológicos.
Era exatamente esse tipo de situação que prevalecia no início do século, quando economistas célebres
escreviam livros, às vésperas do
"crash", sugerindo cientificamente que aquela era a hora para comprar ações.
A reunião dos economistas dos
EUA na semana passada teve ainda
outro lance importante: a apresentação de uma proposta de transformação do Fundo Monetário Internacional (FMI) em emprestador de última instância, uma espécie de banco central global, feita
pelo economista-chefe da instituição, Stanley Fischer.
Pela primeira vez a questão da
crise em países endividados é
apresentada por um burocrata do
Fundo não como fruto da irresponsabilidade fiscal ou da corrupção mental em países atrasados,
mas como resultado de puras ondas de pânico financeiro.
Assim, a reunião dos economistas norte-americanos resultou
num quadro curioso e paradoxal.
Parece haver um consenso de
que o mais importante mercado financeiro do mundo não é presa de
uma bolha especulativa.
Mas, ao mesmo tempo, um dos
mais importantes economistas do
mundo afirma com todas as letras:
o sistema que gira em torno desse
mesmo mercado está hoje sujeito a
ondas de pânico financeiro que,
afinal, são típicas de bolhas especulativas.
Resta saber se a ação conjunta do
Fed e do FMI será capaz de amortecer o estouro dessas "bolhas que
não são bolhas". Até agora está
dando certo.
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