São Paulo, domingo, 10 de janeiro de 1999

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CLUBE DO BOLINHA
Para a primeira mulher a trabalhar na Bolsa de Nova York, avanço feminino é lento
Mulher estreou em Wall Street em 67

MARCELO DIEGO
de Nova York

Muriel Siebert tem um recorde do qual se orgulha: em 1967 se tornou a primeira mulher a trabalhar na Bolsa de Nova York. Apesar disso, Siebert acha que o avanço das mulheres no mercado financeiro está ocorrendo muito lentamente.
Em entrevista por fax à Folha, Siebert -que não revela a idade nem fala sobre sua vida privada- conta que entrou na Bolsa como operadora de uma pequena firma, por influência de um cliente.
Em 1975, ela se tornou a primeira proprietária de um escritório na mais importante Bolsa do mundo. Hoje, a Muriel Siebert & Co. tem escritórios na Flórida e na Califórnia, além de sua sede em Nova York.
Ela passou cinco anos licenciada da empresa, a partir de 1977, para servir como superintendente do Banco do Estado de Nova York, cuja principal missão era evitar a falência de diversos pequenos bancos regionais.
Em 1982, ela disputou a indicação do Partido Republicano para concorrer ao Senado, mas ficou em segundo lugar. Ela não pensa mais em repetir a tentativa.
Antes de ter sua própria companhia, Siebert trabalhou em outras empresas financeiras.
Ela nasceu em Cleveland e frequentou a Universidade Western Reserve, mas nunca finalizou o curso de economia. Posteriormente, foi agraciada com mais de dez títulos de doutorado por faculdades dos Estados Unidos.
Ela integra o "Hall da Fama" entre as mulheres mais importantes do país neste século. Sua empresa doa cerca de US$ 5 milhões por ano para entidades assistenciais, e ela se diz feliz por ter aberto o caminho para outras mulheres na Bolsa, um local com 3.100 empresas e e 4.480 empregados.
Hoje, pelo menos dez mulheres são donas de grandes escritórios na New York Stock Exchange (NYSE).

² Folha - Como a senhora resolveu entrar para a Bolsa de Nova York e quais as dificuldades iniciais?
Muriel Siebert -
Um cliente me deu a idéia, quando estávamos conversando sobre como expandir meu escritório. Ele sugeriu que eu comprasse uma cadeira na Bolsa de Nova York. Eu achava que havia alguma lei que impedisse mulheres de trabalhar lá, porque era realmente estranho nenhuma ter tido a iniciativa. Estudei o regimento interno e descobri que não havia nenhum tipo de restrição.
Eu era parceira de uma pequena firma, que estava fazendo negócios com a Merrill Lynch (uma das duas maiores corretoras de Nova York). Trabalhar para um escritório menor tornou as coisas mais fáceis para mim no começo.
Eu também sempre gostei do que fazia, o que me levou adiante para enfrentar os problemas.
Folha - Cresceram o espaço e a importância das mulheres no mercado?
Siebert -
Acho que o avanço está ocorrendo muito lentamente. Algumas mulheres figuram entre os melhores analistas existentes no mercado e estão sendo bem pagas por seu trabalho. Mas eu não vejo muitas executivas. Nas empresas, você não encontra uma mulher como presidente ou vice-presidente.
Elas estão fazendo dinheiro, mas não ocupando posição de destaque. Pode ser um problema cultural e infelizmente a cultura só muda com o tempo.
As mulheres não estão atingindo o topo da pirâmide tão rapidamente quanto eu acreditava, mas elas estão chegando aos poucos.
Folha - A senhora enfrentou resistência ou preconceito por ter sido a primeira mulher na Bolsa?
Siebert -
Não. Todo o evento foi uma sequência de acontecimentos. Fico feliz de ter sedimentado o caminho para outras mulheres trabalharem lá.
Quando você faz dinheiro para outras pessoas, elas não estão interessadas se você é mulher, homem, branco ou negro, porque o dinheiro é sempre o mesmo, sempre verde.
Elas realmente estão interessadas no dinheiro que vão ganhar.
Você só é julgado por sua performance.
Folha - Por que a senhora decidiu concorrer ao Senado?
Siebert -
Eu trabalhava no Banco do Estado de Nova York. Era republicana e tinha sido apontada para o cargo por um governo democrata (Hugh Carey). Eu estava no meio do fogo, porque minha posição era uma das maiores do Estado. Eu vi como as coisas eram feitas na política e achei que poderia fazer melhor. Achei que era poderosa, mas descobri que o sistema é muito duro.
Já pensei em concorrer novamente, mas já não acho que uma pessoa possa fazer a diferença.
Folha - A senhora tem algum modelo ou fonte de inspiração?
Siebert -
Não, não acho que existam modelos definidos.
Folha - Qual o futuro para as mulheres na Bolsa, um crescimento maior?
Siebert -
Estou confiando nas firmas de consultoria criadas pelas empresárias. Elas estão fazendo muito sucesso. Acho que há um grande espaço para as mulheres neste campo.
Uma mulher que se divorcia ou precisa de um plano de aposentadoria confia em outra mulher para seguir os conselhos de consultoria econômica. Acho que é um caminho fantástico.



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