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CLUBE DO BOLINHA
Para a primeira mulher a trabalhar na Bolsa de Nova York, avanço feminino é lento
Mulher estreou em Wall Street em 67
MARCELO DIEGO
de Nova York
Muriel Siebert tem um recorde
do qual se orgulha: em 1967 se
tornou a primeira mulher a trabalhar na Bolsa de Nova York.
Apesar disso, Siebert acha que o
avanço das mulheres no mercado financeiro está ocorrendo
muito lentamente.
Em entrevista por fax à Folha,
Siebert -que não revela a idade
nem fala sobre sua vida privada- conta que entrou na Bolsa
como operadora de uma pequena firma, por influência de um
cliente.
Em 1975, ela se tornou a primeira proprietária de um escritório na mais importante Bolsa
do mundo. Hoje, a Muriel Siebert
& Co. tem escritórios na Flórida
e na Califórnia, além de sua sede
em Nova York.
Ela passou cinco anos licenciada da empresa, a partir de 1977,
para servir como superintendente do Banco do Estado de Nova
York, cuja principal missão era
evitar a falência de diversos pequenos bancos regionais.
Em 1982, ela disputou a indicação do Partido Republicano para
concorrer ao Senado, mas ficou
em segundo lugar. Ela não pensa
mais em repetir a tentativa.
Antes de ter sua própria companhia, Siebert trabalhou em outras empresas financeiras.
Ela nasceu em Cleveland e frequentou a Universidade Western
Reserve, mas nunca finalizou o
curso de economia. Posteriormente, foi agraciada com mais de
dez títulos de doutorado por faculdades dos Estados Unidos.
Ela integra o "Hall da Fama"
entre as mulheres mais importantes do país neste século. Sua
empresa doa cerca de US$ 5 milhões por ano para entidades assistenciais, e ela se diz feliz por ter
aberto o caminho para outras
mulheres na Bolsa, um local com
3.100 empresas e e 4.480 empregados.
Hoje, pelo menos dez mulheres
são donas de grandes escritórios
na New York Stock Exchange
(NYSE).
²
Folha - Como a senhora resolveu entrar para a Bolsa de Nova
York e quais as dificuldades iniciais?
Muriel Siebert - Um cliente me
deu a idéia, quando estávamos
conversando sobre como expandir meu escritório. Ele sugeriu
que eu comprasse uma cadeira
na Bolsa de Nova York. Eu achava que havia alguma lei que impedisse mulheres de trabalhar lá,
porque era realmente estranho
nenhuma ter tido a iniciativa. Estudei o regimento interno e descobri que não havia nenhum tipo
de restrição.
Eu era parceira de uma pequena firma, que estava fazendo negócios com a Merrill Lynch (uma
das duas maiores corretoras de
Nova York). Trabalhar para um
escritório menor tornou as coisas mais fáceis para mim no começo.
Eu também sempre gostei do
que fazia, o que me levou adiante
para enfrentar os problemas.
Folha - Cresceram o espaço e a
importância das mulheres no
mercado?
Siebert - Acho que o avanço está ocorrendo muito lentamente.
Algumas mulheres figuram entre
os melhores analistas existentes
no mercado e estão sendo bem
pagas por seu trabalho. Mas eu
não vejo muitas executivas. Nas
empresas, você não encontra
uma mulher como presidente ou
vice-presidente.
Elas estão fazendo dinheiro,
mas não ocupando posição de
destaque. Pode ser um problema
cultural e infelizmente a cultura
só muda com o tempo.
As mulheres não estão atingindo o topo da pirâmide tão rapidamente quanto eu acreditava,
mas elas estão chegando aos
poucos.
Folha - A senhora enfrentou resistência ou preconceito por ter
sido a primeira mulher na Bolsa?
Siebert - Não. Todo o evento foi
uma sequência de acontecimentos. Fico feliz de ter sedimentado
o caminho para outras mulheres
trabalharem lá.
Quando você faz dinheiro para
outras pessoas, elas não estão interessadas se você é mulher, homem, branco ou negro, porque o
dinheiro é sempre o mesmo,
sempre verde.
Elas realmente estão interessadas no dinheiro que vão ganhar.
Você só é julgado por sua performance.
Folha - Por que a senhora decidiu concorrer ao Senado?
Siebert - Eu trabalhava no Banco do Estado de Nova York. Era
republicana e tinha sido apontada para o cargo por um governo
democrata (Hugh Carey). Eu estava no meio do fogo, porque minha posição era uma das maiores
do Estado. Eu vi como as coisas
eram feitas na política e achei que
poderia fazer melhor. Achei que
era poderosa, mas descobri que o
sistema é muito duro.
Já pensei em concorrer novamente, mas já não acho que uma
pessoa possa fazer a diferença.
Folha - A senhora tem algum
modelo ou fonte de inspiração?
Siebert - Não, não acho que
existam modelos definidos.
Folha - Qual o futuro para as
mulheres na Bolsa, um crescimento maior?
Siebert - Estou confiando nas
firmas de consultoria criadas pelas empresárias. Elas estão fazendo muito sucesso. Acho que há
um grande espaço para as mulheres neste campo.
Uma mulher que se divorcia ou
precisa de um plano de aposentadoria confia em outra mulher para seguir os conselhos de consultoria econômica. Acho que é um
caminho fantástico.
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