UOL


São Paulo, segunda-feira, 10 de fevereiro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

OPINIÃO ECONÔMICA

A comunicação do setor privado no governo Lula

MARISTELA MAFEI

O brasil começa a assistir a uma completa mudança no modo como a sociedade civil organizada se comunica com os governos e mantém, por intermédio de seus representantes, canais de interlocução com integrantes dos poderes públicos para encaminhar seus pleitos.
Ainda não se sabe como esse relacionamento será estabelecido com o novo governo, mas há claros indícios de que a imprensa, notadamente o noticiário de economia e negócios, será fortalecida e ganhará novo status.
A cultura política estabelecida até a posse do governo Lula estava alicerçada em círculo limitado de interlocutores, a maior parte baseada em contatos e influências pessoais. Esse leque está sendo ampliado consideravelmente agora, principalmente diante do fato de que, seja por letargia, por falta de articulação ou porque quer realmente ouvir a contribuição de todos os setores da sociedade civil, o governo do PT tende a maturar mais os processos de consulta antes que a decisão seja tomada.
Os dirigentes do PT são ávidos devoradores de jornais e revistas. É conhecido que o novo presidente lê no mínimo quatro jornais por dia. E mais: em algumas ocasiões, tem o hábito de recortar reportagens e encaminhá-las para interlocutores, com comentários anexados.
Antes na oposição, os integrantes do PT liam majoritariamente os cadernos de política; agora, na condição de gestores, acrescentem-se a esse esforço o noticiário de economia, negócios, informática e recursos humanos.
Na outra ponta, enquanto refazem suas articulações e procuram novos caminhos na área de comunicação institucional, os agentes produtivos procuram modos de aumentar sua visibilidade em temas de interesse público, relativos aos seus segmentos, por meio da mídia. É um modo legítimo e rápido de se fazer notar e obter da sociedade o reconhecimento pelo seu trabalho.
Notam-se, ainda que timidamente, esforços de grandes corporações do setor industrial em aumentar investimentos em projetos de responsabilidade social, ambiente e marketing institucional. O setor financeiro volta-se para planos de apoio e incentivo ao microcrédito e para outros produtos que reforçam os indícios de que os bancos são, ou deveriam ser, os grandes alicerces do desenvolvimento econômico sustentado.
Perceber o que acontece no mercado neste momento é de importância vital para o reposicionamento do trabalho das agências de relações públicas, assessorias de imprensa e publicidade. Notadamente, essas últimas têm, agora, mais uma ferramenta para enfrentar a crise que persegue o setor há mais de um ano. O momento é propício para novos produtos na área de comunicação. Entender o que o mercado precisa neste novo momento e sair à frente é uma atitude ousada, que implica assumir riscos, como está subentendido em qualquer atividade empresarial. E essa atitude pode levar seus protagonistas a serem reconhecidos pela inovação e pela profissionalização cada vez mais acentuada do mercado.
A comunicação institucional será fortalecida com a maior relevância da imprensa e irá abrir espaço para encaminhar, no Brasil, a oficialização do que se chama nos EUA de "lobbying act", um instrumento de relações públicas que dá suporte às organizações para que participem do debate público em todos os assuntos que lhes dizem respeito.
O lobby ético é aquele que deverá colocar à disposição dos clientes o que podemos chamar, no Brasil, de "inteligência da informação". Trata-se da coleta e análise da informação pontual e direcionada, toda ela pincelada de informações públicas, destinadas a contribuir para que as organizações aproveitem as oportunidades de se posicionar aberta e publicamente. O monitoramento de veículos de imprensa, do "Diário Oficial", do Senado, da Câmara, das agendas dos ministros, projetos em andamento, reuniões e tudo o mais que diga respeito a determinado assunto será de fundamental importância para que as empresas possam ter a oportunidade de se posicionar, de serem ouvidas e de mostrar para a sociedade suas ações e contribuições.
A expertise e a logística das grandes agências de publicidade e das empresas de comunicação empresarial irão contribuir ainda mais para que os canais de comunicação com a imprensa sejam democraticamente utilizados, constituindo-se em mais um instrumento para que o Brasil tenha uma gestão transparente e participativa.


Maristela Mafei, 43, é sócia-diretora do grupo Máquina, agência de relações públicas que engloba as empresas Máquina da Notícia e MQ Institucional, especializadas em comunicação da iniciativa privada.


Texto Anterior: Transportes: Grupo Votorantim decide entrar no negócio de portos
Próximo Texto: Dicas/Folhainvest - Dicas: Santos Asset Management foi o que mais promoveu modificações
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.