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OPINIÃO ECONÔMICA
A comunicação do setor privado no governo Lula
MARISTELA MAFEI
O brasil começa a assistir a
uma completa mudança no
modo como a sociedade civil organizada se comunica com os governos e mantém, por intermédio
de seus representantes, canais de
interlocução com integrantes dos
poderes públicos para encaminhar seus pleitos.
Ainda não se sabe como esse relacionamento será estabelecido
com o novo governo, mas há claros indícios de que a imprensa,
notadamente o noticiário de economia e negócios, será fortalecida
e ganhará novo status.
A cultura política estabelecida
até a posse do governo Lula estava
alicerçada em círculo limitado de
interlocutores, a maior parte baseada em contatos e influências
pessoais. Esse leque está sendo
ampliado consideravelmente
agora, principalmente diante do
fato de que, seja por letargia, por
falta de articulação ou porque
quer realmente ouvir a contribuição de todos os setores da sociedade civil, o governo do PT tende
a maturar mais os processos de
consulta antes que a decisão seja
tomada.
Os dirigentes do PT são ávidos
devoradores de jornais e revistas.
É conhecido que o novo presidente lê no mínimo quatro jornais
por dia. E mais: em algumas ocasiões, tem o hábito de recortar reportagens e encaminhá-las para
interlocutores, com comentários
anexados.
Antes na oposição, os integrantes do PT liam majoritariamente
os cadernos de política; agora, na
condição de gestores, acrescentem-se a esse esforço o noticiário
de economia, negócios, informática e recursos humanos.
Na outra ponta, enquanto refazem suas articulações e procuram
novos caminhos na área de comunicação institucional, os agentes produtivos procuram modos
de aumentar sua visibilidade em
temas de interesse público, relativos aos seus segmentos, por meio
da mídia. É um modo legítimo e
rápido de se fazer notar e obter da
sociedade o reconhecimento pelo
seu trabalho.
Notam-se, ainda que timidamente, esforços de grandes corporações do setor industrial em
aumentar investimentos em projetos de responsabilidade social,
ambiente e marketing institucional. O setor financeiro volta-se
para planos de apoio e incentivo
ao microcrédito e para outros
produtos que reforçam os indícios de que os bancos são, ou deveriam ser, os grandes alicerces
do desenvolvimento econômico
sustentado.
Perceber o que acontece no
mercado neste momento é de importância vital para o reposicionamento do trabalho das agências de relações públicas, assessorias de imprensa e publicidade.
Notadamente, essas últimas têm,
agora, mais uma ferramenta para
enfrentar a crise que persegue o
setor há mais de um ano. O momento é propício para novos produtos na área de comunicação.
Entender o que o mercado precisa
neste novo momento e sair à frente é uma atitude ousada, que implica assumir riscos, como está
subentendido em qualquer atividade empresarial. E essa atitude
pode levar seus protagonistas a
serem reconhecidos pela inovação e pela profissionalização cada
vez mais acentuada do mercado.
A comunicação institucional será fortalecida com a maior relevância da imprensa e irá abrir espaço para encaminhar, no Brasil,
a oficialização do que se chama
nos EUA de "lobbying act", um
instrumento de relações públicas
que dá suporte às organizações
para que participem do debate
público em todos os assuntos que
lhes dizem respeito.
O lobby ético é aquele que deverá colocar à disposição dos clientes o que podemos chamar, no
Brasil, de "inteligência da informação". Trata-se da coleta e análise da informação pontual e direcionada, toda ela pincelada de informações públicas, destinadas a
contribuir para que as organizações aproveitem as oportunidades de se posicionar aberta e publicamente. O monitoramento de
veículos de imprensa, do "Diário
Oficial", do Senado, da Câmara,
das agendas dos ministros, projetos em andamento, reuniões e tudo o mais que diga respeito a determinado assunto será de fundamental importância para que as
empresas possam ter a oportunidade de se posicionar, de serem
ouvidas e de mostrar para a sociedade suas ações e contribuições.
A expertise e a logística das
grandes agências de publicidade e
das empresas de comunicação
empresarial irão contribuir ainda
mais para que os canais de comunicação com a imprensa sejam
democraticamente utilizados,
constituindo-se em mais um instrumento para que o Brasil tenha
uma gestão transparente e participativa.
Maristela Mafei, 43, é sócia-diretora do
grupo Máquina, agência de relações públicas que engloba as empresas Máquina
da Notícia e MQ Institucional, especializadas em comunicação da iniciativa privada.
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