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COMBUSTÍVEIS
Para sindicato, isso é sinal de adulteração e sonegação; postos sem bandeira vão de 3% para 36% do total de 98 a 2004
Postos vendem abaixo do "preço mínimo"
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL
Boa parte dos postos instalados
em São Paulo vende a gasolina a
preço abaixo do mínimo necessário para manter a sobrevivência
do estabelecimento. É o que constata levantamento do Sincopetro,
sindicato que reúne os postos
paulistas, com base em preços coletados pela ANP (Agência Nacional do Petróleo) entre 29 de janeiro e 4 de fevereiro deste ano.
Os postos em São Paulo pagam
hoje, em média, R$ 2,17 pelo litro
da gasolina para as distribuidoras
de combustíveis. A margem mínima para a sobrevivência de um
estabelecimento que opera de forma regular, segundo informa o
Sincopetro, é R$ 0,30 por litro. Isso significa que, para o consumidor, o litro da gasolina deveria
chegar hoje a R$ 2,47.
"E essa é a margem mínima necessária para o posto sobreviver.
O ideal mesmo seria acrescentar
entre R$ 0,35 e R$ 0,40 por litro",
afirma José Alberto Paiva Gouveia, presidente do Sincopetro.
Na sua análise, os preços da gasolina nos postos em São Paulo
revelam, como os encontrados no
bairro do Limão -de R$ 2,33, em
média, o litro- que a competição
entre os postos está bastante acirrada em São Paulo.
"Mais: mostra que, muito provavelmente, estabelecimentos
que vendem o litro da gasolina a
R$ 2,25 ou a R$ 2,35 trabalham de
forma ilegal. Ou o produto é adulterado ou o posto sonega ou não
paga imposto", afirma Gouveia.
A consulta de preços feita pela
ANP entre 29 de janeiro e 4 de fevereiro mostra que, em só cinco
bairros de São Paulo -de um
grupo de 29- o preço médio da
gasolina era superior a R$ 2,47. O
preço médio mais baixo, de R$
2,25, foi encontrado na Vila Nova
Conceição, mesmo sendo um
bairro de moradores de maior poder aquisitivo, mas cortado pelo
corredor da avenida Santo Amaro. O mais alto, de R$ 2,67, é no
Jardim América.
Para o Sincopetro, os postos que
vendem gasolina ao redor de R$
2,30 o litro podem estar acrescentando solvente à gasolina ou elevando a proporção de álcool anidro (estabelecida em 25%) que é
adicionada ao combustível.
Gouveia informa que o preço da
gasolina cobrado pelas distribuidoras varia de R$ 2,15 a R$ 2,19. O
preço médio é de R$ 2,17. "Como
pode haver diferenças tão grandes
de preços entre os postos se os
preços das próprias distribuidoras não são tão distintos?"
Leonardo Gadotti, diretor de
suprimentos e distribuição da Esso, diz que o consumidor tem de
ficar atento quando vê o preço da
gasolina entre R$ 2,20 e R$ 2,30.
"Mas o fato é que muitas vezes um
posto que trabalha com preço baixo acaba contaminando toda
uma região, levando outros estabelecimentos a reduzir os preços
também para não perder clientes", afirma Gadotti.
As ações da Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo para
evitar a sonegação de impostos no
setor de combustíveis, que incluem a cassação da inscrição estadual dos postos de gasolina,
contribuíram para reduzir a informalidade no setor. No ano passado, segundo informa o secretário da Fazenda do Estado de São
Paulo, Luiz Tacca Júnior, a arrecadação do setor de combustível aumentou em R$ 450 milhões como
resultado das fiscalizações nas
distribuidoras e nos postos.
"Há um esforço para combater
as irregularidades nesse setor.
Mas o fato é que essas ações não
podem parar, e a ANP precisa estar atenta às regiões que cobram
preços tão baixos", diz Gouveia.
O grande problema hoje do
mercado de combustível, segundo informa o diretor de uma
grande distribuidora, está no
mercado de álcool. Muitas usinas,
segundo informa, vendem o produto sem nota fiscal. O uso do solvente (paga 18% de ICMS em SP)
no lugar da gasolina (paga 25%
em SP) é outra prática irregular a
ser enfrentada pelo setor.
Os postos "bandeira branca",
que não têm compromisso com
uma única distribuidora para a
aquisição de combustível, são, segundo Gouveia, outra facilidade
para o comércio de combustíveis
irregulares. Nesses postos, os consumidores, geralmente, não sabem a origem dos produtos.
Em 1998, os postos "bandeira
branca" eram 3% do total de postos instalados no país (24,9 mil),
segundo levantamento da ANP.
Em 2004, já participavam com
36% do total de postos instalados
no país (33,6 mil).
"Essa é uma tendência mundial.
Mas o estabelecimento tem de informar a procedência do combustível", afirma Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infra-estrutura, consultoria especializada em petróleo.
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