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CONTAS PÚBLICAS
Tesouro e BC se utilizam de parte das reservas para resgatar papéis externos; medida deve enfraquecer real
País usa dólar fraco para recomprar dívida
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Na surdina, o Tesouro Nacional
e o Banco Central começaram, no
mês passado, a usar parte dos recursos depositados nas reservas
internacionais do país para resgatar, antecipadamente, títulos da
dívida externa brasileira. A estratégia deve ampliar a margem do
BC para recomprar dólares no
mercado interno e, assim, tentar
conter a queda na sua cotação.
A medida só foi anunciada ontem pelo secretário do Tesouro,
Joaquim Levy, e pelo diretor de
Política Monetária do BC, Rodrigo Azevedo. De acordo com Levy,
já foram resgatados, até agora,
US$ 2,3 bilhões em títulos.
As compras irão se concentrar
em papéis da dívida externa que
vencem até 2010 e nos chamados
"bradies", que foram emitidos pelo Brasil para refinanciar os contratos rompidos pelo país na moratória dos anos 80. Ao todo, esses
dois tipos de títulos somam, hoje,
cerca de US$ 20 bilhões.
De acordo com Azevedo, porém, não há meta a ser alcançada
nessas recompras. "Sua implantação será gradual, de acordo com
as condições de mercado", disse o
diretor do BC.
Levy afirmou que o resgate antecipado faz parte de um programa mais amplo do governo para
aproveitar o forte ingresso de dólares registrado recentemente para melhorar o perfil do endividamento público. "Estamos usando
os dólares que estão entrando no
Brasil, que o BC comprou, para
resgatar uma parte da nossa dívida externa", disse o secretário.
Com os resgates da dívida, o governo economiza em juros que
deveriam ser pagos aos seus credores ao longo dos anos, embora
nem o Tesouro nem o BC soubessem informar, ontem, qual será o
valor dessa economia.
Desde o final do ano passado, o
BC tem comprado dólares no
mercado de câmbio para reforçar
as reservas internacionais. As
aquisições também têm o efeito
de forçar a alta -ou, pelo menos,
impedir uma queda maior- da
cotação da moeda dos EUA.
Reservas
Hoje, as reservas estão próximas
de US$ 57 bilhões, e o BC já dava
sinais de que considerava que elas
estavam cada vez mais próximas
do limite. Isso porque a manutenção de reservas num nível muito
elevado tem um custo igualmente
alto: num cenário em que as taxas
de juros brasileiras são maiores
do que a média internacional,
manter dólares em caixa significa
perder dinheiro que poderia estar
sendo aplicado no resgate da dívida pública.
Entre dezembro e janeiro, o BC
já havia reduzido em 40% o total
de dólares adquiridos no mercado interno. Ontem, Levy sinalizou
que a recompra dos títulos brasileiros no exterior aumentará o
poder da intervenção do governo
no câmbio: "Se entrar mais dólares [nas reservas], tem mais dívida para abater", afirmou o secretário do Tesouro, numa referência aos US$ 20 bilhões em papéis
que podem ser resgatados.
Azevedo foi mais cauteloso e
não quis comentar eventuais efeitos que as recompras anunciadas
ontem podem ter na taxa de câmbio. "O mercado dirá", afirmou.
No ano passado, também com o
objetivo de melhorar o perfil de
seu endividamento, o governo já
havia quitado antecipadamente
sua dívida de US$ 15,5 bilhões
com o FMI (Fundo Monetário Internacional) e outra de US$ 2,5 bilhões com o Clube de Paris. Além
disso, foram resgatados cerca de
US$ 5,6 bilhões em C-Bonds, papel que, entre os "bradies", era o
mais negociado no mundo.
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