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Lula afirma que não vai negociar de cabeça baixa
PEDRO DIAS LEITE
ENVIADO ESPECIAL A ARGEL
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva definiu ontem em Argel qual
será a tática que vai utilizar contra
europeus e norte-americanos se a
reunião comercial entre os líderes
desses países, que ele defende há
alguns meses, sair do papel. "Não
espero facilidade na negociação,
porque ninguém cede a ninguém.
Ninguém ganha nada se começar
negociando de cabeça baixa, dizendo, "sou pobre, pelo amor de
Deus me dê uma coisinha". O que
eles respeitam é a cabeça erguida", disse.
Lula já falou por telefone com
alguns dos principais líderes
mundiais na esperança de marcar
essa reunião, para destravar as negociações da Rodada Doha, virtualmente parada em razão do
impasse sobre subsídios agrícolas
e abertura de mercados. Já falou,
entre outros, com George W.
Bush (EUA), Tony Blair (Reino
Unido) e Jacques Chirac (França).
O presidente vai aproveitar a última etapa de sua viagem à África
para tentar dar um impulso à
idéia. Durante encontro sobre
"governança progressista" perto
de Pretória (África do Sul), vai
abordar o tema com Blair, na busca de um destaque mundial.
O Brasil já tenta esse acordo
desde antes da última reunião da
Rodada Doha, em dezembro, em
Hong Kong. Justamente uma das
principais estrelas desse último
encontro na opinião da imprensa
internacional, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim,
espera que a reunião entre os líderes mundiais ocorra entre o início
de março e o final de abril.
Se tudo correr como o Brasil
planeja, a reunião acontece num
desses dois meses e o próprio Lula
viajaria a Viena, no início de
maio, para uma cúpula entre países da América Latina e da União
Européia. Lá, poderia colher todos os louros dos resultados de
sua iniciativa.
"A Rodada Doha precisa de 500
reuniões e de muito convencimento. É como uma pessoa que
precisa vender um produto, ou
seja, estamos vendendo a idéia de
que a geografia comercial precisa
ser mudada em benefício dos
mais pobres", disse Lula ontem.
"Nós estamos vendendo [a
idéia] de que é preciso dar uma
chance aos países menos desenvolvidos, para que a gente possa
reduzir a violência, a pobreza e o
terrorismo", disse.
As negociações estão travadas,
na visão do Itamaraty, porque os
atuais negociadores -os ministros das Relações Exteriores dos
países e representantes dos blocos
comerciais- foram ao ponto
máximo que sua autonomia de
negociação permite. Daqui para a
frente, são decisões que só os líderes têm condições de tomar, como a redução dos subsídios aos
agricultores europeus e a queda
de alíquotas de importação.
Chirac no Brasil
Um dos principais entraves ao
avanço das negociações na visão
dos brasileiros é a França. Lula já
falou por telefone com Chirac,
mas a conversa não avançou, apesar de o francês ser simpático à
idéia de um encontro sobre Doha.
Num dos telefones, Chirac chegou a propor a Lula que ele marcasse a reunião com os líderes dos
países mais poderosos. "Não posso convocar o G8", foi a resposta,
segundo relatos do presidente a
interlocutores.
Em maio, o francês deve fazer
uma visita ao Brasil -e, sonha o
Itamaraty, com tudo, senão resolvido, ao menos encaminhado,
muito diferente de como estão
hoje as negociações.
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