São Paulo, sexta-feira, 10 de fevereiro de 2006

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Lula afirma que não vai negociar de cabeça baixa

PEDRO DIAS LEITE
ENVIADO ESPECIAL A ARGEL

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva definiu ontem em Argel qual será a tática que vai utilizar contra europeus e norte-americanos se a reunião comercial entre os líderes desses países, que ele defende há alguns meses, sair do papel. "Não espero facilidade na negociação, porque ninguém cede a ninguém. Ninguém ganha nada se começar negociando de cabeça baixa, dizendo, "sou pobre, pelo amor de Deus me dê uma coisinha". O que eles respeitam é a cabeça erguida", disse.
Lula já falou por telefone com alguns dos principais líderes mundiais na esperança de marcar essa reunião, para destravar as negociações da Rodada Doha, virtualmente parada em razão do impasse sobre subsídios agrícolas e abertura de mercados. Já falou, entre outros, com George W. Bush (EUA), Tony Blair (Reino Unido) e Jacques Chirac (França).
O presidente vai aproveitar a última etapa de sua viagem à África para tentar dar um impulso à idéia. Durante encontro sobre "governança progressista" perto de Pretória (África do Sul), vai abordar o tema com Blair, na busca de um destaque mundial.
O Brasil já tenta esse acordo desde antes da última reunião da Rodada Doha, em dezembro, em Hong Kong. Justamente uma das principais estrelas desse último encontro na opinião da imprensa internacional, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, espera que a reunião entre os líderes mundiais ocorra entre o início de março e o final de abril.
Se tudo correr como o Brasil planeja, a reunião acontece num desses dois meses e o próprio Lula viajaria a Viena, no início de maio, para uma cúpula entre países da América Latina e da União Européia. Lá, poderia colher todos os louros dos resultados de sua iniciativa.
"A Rodada Doha precisa de 500 reuniões e de muito convencimento. É como uma pessoa que precisa vender um produto, ou seja, estamos vendendo a idéia de que a geografia comercial precisa ser mudada em benefício dos mais pobres", disse Lula ontem.
"Nós estamos vendendo [a idéia] de que é preciso dar uma chance aos países menos desenvolvidos, para que a gente possa reduzir a violência, a pobreza e o terrorismo", disse.
As negociações estão travadas, na visão do Itamaraty, porque os atuais negociadores -os ministros das Relações Exteriores dos países e representantes dos blocos comerciais- foram ao ponto máximo que sua autonomia de negociação permite. Daqui para a frente, são decisões que só os líderes têm condições de tomar, como a redução dos subsídios aos agricultores europeus e a queda de alíquotas de importação.

Chirac no Brasil
Um dos principais entraves ao avanço das negociações na visão dos brasileiros é a França. Lula já falou por telefone com Chirac, mas a conversa não avançou, apesar de o francês ser simpático à idéia de um encontro sobre Doha. Num dos telefones, Chirac chegou a propor a Lula que ele marcasse a reunião com os líderes dos países mais poderosos. "Não posso convocar o G8", foi a resposta, segundo relatos do presidente a interlocutores.
Em maio, o francês deve fazer uma visita ao Brasil -e, sonha o Itamaraty, com tudo, senão resolvido, ao menos encaminhado, muito diferente de como estão hoje as negociações.


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