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Preços da terra quebram recorde no país
Cotações em alta no setor de grãos, reação da pecuária e avanço dos biocombustíveis impulsionam valor de áreas agrícolas
Valorização, que tende a prosseguir neste ano, é um dos fatores que influem no
desmatamento verificado no limite da fronteira agrícola
GITÂNIO FORTES
DA REDAÇÃO
Produção em alta e intenção
de plantio recorde para a safra
2007/2008 fizeram com que o
preço da terra alcançasse valor
recorde nominal em termos
médios no país.
Segundo pesquisa do Instituto FNP, consultoria privada especializada em agronegócio, ao
longo de 2007, a valorização
chegou a 17,83%, ganho real
(acima da inflação) de 9,6% no
ano. O preço do hectare passou
de R$ 3.276 para R$ 3.860. Para
2008, apesar da turbulência
nos mercados internacionais,
que poderiam prejudicar investimentos, a perspectiva é de nova alta, com os negócios ainda
aquecidos.
Os motivos, segundo especialistas, são: o preço dos grãos
tende a se manter firme, a pecuária ensaia recuperação e os
biocombustíveis têm espaço
garantido pela frota flex, em
que pese não haver a euforia de
outros tempos na cana-de-açúcar. "Os fundamentos melhoraram", diz Jacqueline Bierhals,
responsável pela pesquisa de
terras do Instituto FNP.
Tomando um período mais
amplo para análise, de três
anos, o Estado de São Paulo registra as maiores valorizações
absolutas no valor do hectare.
As regiões de Araraquara, Bauru, Piracicaba, Ribeirão Preto e
Pirassununga tiveram o valor
do hectare duplicado em alguns
casos em áreas para o cultivo de
grãos, cana, café e pastagens.
Esse cenário fez com que
fundos de investimento, incluindo estrangeiros, se voltassem para o mercado de terras.
As regiões preferidas são as
consideradas de fronteira, em
Mato Grosso, no oeste baiano e
no chamado "Mapito" -Maranhão, Piauí e Tocantins.
A preferência se reflete nos
números. Um hectare de terra
agrícola que valia R$ 4.482 em
Luís Eduardo Magalhães, no
cerrado baiano, no começo de
2007, passou a R$ 7.000 depois
de um ano. No cerrado de Balsas (MA), o preço passou da faixa de R$ 485/R$ 890 para R$
1.300/R$ 1.430 em igual período. Em Alta Floresta (MT), a
terra de soja evoluiu de R$
1.360 a R$ 2.000.
A valorização da terra é um
dos fatores que influenciam indiretamente o desmatamento
no limite da fronteira agrícola.
A formação das lavouras é o terceiro capítulo de uma história
que sempre tem o primeiro ato
com a exploração das madeiras.
A segunda parte vem com a formação de pastos para a pecuária. O terceiro é o cultivo de
grãos ou de plantações perenes.
"A minha empresa não recomenda comprar terra na Amazônia, onde a lei obriga a preservação de 80% da propriedade", diz Alcides de Moura Torres Junior, diretor da Scot Consultoria. "O ônus jurídico não
compensa", afirma.
A região de desmatamento
não propicia nem um acompanhamento de um mercado formal. "Há muita invasão, "grilagem", não há como medir", diz
Jacqueline Bierhals, da FNP. O
máximo que existe é a exploração legalizada de seringueiras,
para extrair o látex, e de palma,
para obter óleo.
Concentração
Segundo Luiz Fernando Pereira Rodrigues, gerente substituto do Censo Agropecuário
do IBGE (Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística),
mesmo com grandes grupos investindo em terras, ainda é cedo para afirmar que avançou a
concentração fundiária no país.
"Em algumas regiões, os assentamentos multiplicaram o número de propriedades. Em outras, de produção em grande escala, isso [a concentração] pode
estar ocorrendo." O IBGE vai
consolidar essas informações
na versão final do censo, que
tem divulgação prevista para o
segundo semestre.
A disputa em torno de pequenas áreas leva à valorização em
determinadas regiões. O hectare agrícola de maior valor no
país fica na região de Jaraguá
do Sul e Rio do Sul, em Santa
Catarina. Lá, o valor do hectare
chega perto de R$ 30 mil em
várzeas sistematizadas para a
produção de arroz. Em São
Paulo, a disputa de várias atividades fez com que o Estado registrasse, no ano passado, as
maiores variações de preços.
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