São Paulo, quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

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VINICIUS TORRES FREIRE

Um copo d'água no fogo grego


Rumor sobre ajuda à Grécia baixa fogo da especulação aqui e no mundo, mas Europa ainda não sabe o que fazer


O MERCADO fez festa ontem para uma eventual ajuda da União Europeia à Grécia. Houve apenas uma redução temporária da especulação. O custo do seguro para os títulos da dívida de governos europeus caiu, embora o de empresas tenha continuado a subir.
Em suma, cai a incerteza, vendem-se dólares, compram-se commodities, moedas e títulos de risco, "business as usual". Mas o que se sabe sobre o apoio à Grécia? Há uma cúpula da União Europeia amanhã, que não estava marcada para discutir o caso. Dois parlamentares governistas alemães disseram ontem que a Alemanha estuda alguma ajuda à Grécia. Oficialmente, o governo alemão negou ontem qualquer decisão a respeito. Membros da Comissão Europeia de Economia e Finanças disseram que haverá alguma ajuda.
Membros do governo alemão disseram reservadamente a repórteres da mídia financeira global em Berlim não muito mais do que "algo precisa ser feito" para impedir a sangria grega e contágio no resto da europa dita periférica. A mídia britânica vazava que o Reino Unido quer que o FMI ajude a Grécia. Diplomatas franceses, por sua vez, dizem que a França está sobre pressão de Espanha e Portugal para que se socorra a Grécia.
Portugal e Espanha reativaram a crise da periferia europeia, na semana passada, quando não conseguiram tomar recursos no mercado na quantidade desejada. A Espanha não vai falir, tem bancos em ordem, mais reputação na praça etc. Mas, se tiver de cortar ainda mais seu deficit para acalmar especulações, pode ter problemas políticos. Cortar gastos e arrochar a economia com 20% de desemprego não é nada prudente.
Os franceses dizem ainda que o recurso ao FMI seria "vergonha" para o euro e a Europa; que uma ajuda teria de ocorrer na forma de ajuda direta de um consórcio de governos europeus, com dinheiro dos Tesouros; que a Alemanha ainda estaria sobre o muro a respeito do que fazer do caso grego. Se houver ajuda, será em troca de sangue, suor e lágrimas.
O apodrecimento dos papéis da dívida dos governos europeus pode prejudicar bancos detentores desses títulos, encarece o financiamento das dívidas e, se não contido, estimula o cassino financeiro. Ou seja, podem ser armadas posições financeiras a fim de derrubar o valor desses títulos (o que significa alta de juros na praça, na prática) e encarecer o custo de seguro dessas dívidas e eleva juros.
O rumor positivo sobre a Grécia pode dar um susto em quem aposta fichas no naufrágio grego e, talvez, desestimular novas operações que procuram derrubar o país, seus títulos financeiros e seus credores. O problema é que, se nada for feito, não é nada improvável que voltem a especulação contra a Grécia e fugas precaucionais para ativos seguros, o que levanta o dólar, derruba o real, commodities e, enfim, a Bolsa daqui.
No ano passado, temia-se que a quebra do Leste Europeu micasse bancos dos primos ricos da Europa Central e Ocidental. Então houve a cúpula do G20: mandaram avisar que haveria dinheiro do FMI para tapar os buracos das contas dos países do Leste. E não aconteceu nada de mais grave, afora para os habitantes desses países. Como a moeda grega é o euro e o problema grego correu o Mediterrâneo, contagiando a Europa latina, alguma coisa mais séria deve sair.

vinit@uol.com.br


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