São Paulo, quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

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União Europeia sinaliza que prepara socorro à Grécia

Indícios de ajuda animam mercados; dúvida é sobre a forma como se daria o apoio

Expectativa é que presidentes e premiês dos 27 países da UE discutam crise grega em reunião amanhã em Bruxelas


LUCIANA COELHO
DE GENEBRA

A União Europeia deu indícios ontem de que deve oferecer algum tipo de apoio à Grécia em sua tentativa de reduzir o deficit orçamentário e superar a crise de confiança que disseminou temores de declaração de moratória. A questão é que forma tomaria esse apoio.
O presidente da Comissão Europeia, o português José Manuel Durão Barroso, ecoou os governos dos países na linha de tiro (além da Grécia, Portugal, Espanha e Itália) e atribuiu a turbulência atual a um ataque especulativo contra o euro.
Presidentes e premiês dos 27 países do bloco se reúnem informalmente amanhã em Bruxelas para debater uma estratégia econômica para os próximos anos. O presidente do Banco Central Europeu, Jean-Claude Trichet, anunciou que participará do encontro, o que é incomum em eventos do tipo.
A notícia animou os mercados por ter sido entendida como sinal de que a crise da dívida nos países mediterrâneos estará em discussão. A Bovespa subiu 2,5% (leia à pág. B6).
"A situação difícil na Grécia é objeto de preocupação comum para a zona do euro", disse ontem o comissário europeu para Questões Econômicas e Monetárias, Joaquin Almunía, ao Parlamento Europeu. "Há graves riscos de contágio."
Almunía -que, com a posse da nova Comissão Europeia hoje, será substituído pelo finlandês Olli Rehn- exortou os governos a apoiarem a proposta grega de cortes no Orçamento, que prevê reduzir o deficit dos atuais 12,7% para abaixo do teto de 3% fixado pela UE até 2013. Mas disse que há riscos e pediu à comissão firmeza ao cobrar dos países-membros que cumpram suas obrigações.
Analistas ouvidos pela Folha questionam a viabilidade do plano grego, que se baseia em projeção de crescimento otimista demais, além de prever medidas impopulares como cortes na folha do funcionalismo e aumentos de impostos.
Caso a moratória se torne iminente, no entanto, há consenso de que a UE acorrerá para evitar um efeito dominó que ponha em risco o euro.
Mas o Tratado de Maastricht, que serve de estatuto econômico ao bloco, veta operação de socorro nos moldes tradicionais. Por isso economistas defendem a possibilidade de a Grécia recorrer ao FMI, que já tem mecanismos azeitados de socorro.
Almunía ontem foi enfático ao dizer, segundo agências de notícias, que a UE "não precisa chamar o FMI": "Temos instrumentos suficientes no Tratado para lidar com uma situação como enfrentamos neste momento na Grécia". A declaração indica como o tema vai além da questão econômica e entra na esfera do orgulho para os governos europeus, a maioria dos quais vê aí um atestado de que não deram conta de resolverem seus problemas.
Ainda assim, a ideia ganha adeptos entre governos da UE que não usam o euro -segundo o "Financial Times", Reino Unido e Suécia já a encamparam, o que prenuncia racha.
Uma alternativa ao FMI seria países-membros oferecerem empréstimos diretos a Atenas. Outra, a criação de um Fundo Monetário Europeu.


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