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Problemas da montadora são "lição" ao Japão
MARTIN FACKLER
DO "NEW YORK TIMES", EM TÓQUIO
Quando Akio Toyoda, o presidente da Toyota, pediu desculpas pelos recalls que macularam a reputação de sua empresa, falou não apenas sobre o
destino da companhia mas
também sobre o de seu país.
No passado um dos maiores
símbolos da ascensão japonesa
ao pináculo do poderio econômico mundial, a Toyota se tornou um dos mais visíveis símbolos de seu declínio. E, mesmo
antes dos recalls, os rivais japoneses na Coreia do Sul e na China haviam começado a superar
o Japão em setores cruciais como semicondutores e televisores de telas planas.
Muitos economistas afirmam esperar que o trauma da
Toyota se torne o golpe perturbador de que o Japão necessita
para compreender que sua dependência da indústria e da exportação de produtos manufaturados, que serviu tão bem ao
país depois da Segunda Guerra
Mundial, já não é sábia.
Yukio Noguchi, professor da
Universidade Waseda, em Tóquio, disse que o Japão precisará se tornar uma economia pós-industrial de serviços, uma
transição dolorosa que os EUA
e o Reino Unido empreenderam nos anos 80. Outros consideram que o Japão deveria se
concentrar em produtos de alto
preço e alto lucro, como robôs.
A Toyota é a maior companhia do Japão por faturamento
(US$ 230 bilhões no ano passado) e nos últimos anos vem
sendo a empresa mais lucrativa
e o maior contribuinte do país.
A Toyota também é a maior
anunciante do Japão e isso faz
com que os grandes veículos de
mídia temam criticá-la. Em
2008, o então presidente da Toyota chegou a ameaçar suspender os anúncios nos veículos
"excessivamente críticos".
Orgulho ferido
A montadora desfrutou por
longo tempo de status quase sagrado no Japão como a maior
praticante do "monozukuri",
um ideal secular de perfeição
no artesanato, visto na cerâmica e na produção de espadas
num passado distante do Japão. O possível definhamento
desse ideal abalou a autoimagem da Toyota, gerando incômodo na mídia e preocupações
quanto à economia.
Em termos mais amplos, isso
pode acelerar uma transição
que já estava a caminho, ainda
que em câmera lenta, desde que
começou a estagnação econômica japonesa, nos anos 90. Segundo o governo, a indústria
respondeu por 22% da produção econômica total do país em
2008, ante 28% em 1990.
A transição se desacelerou
nos anos 2000, quando a fraqueza do iene alimentou um
boom de exportações que deu
ao Japão seu maior período de
crescimento desde a guerra.
No entanto, quando os consumidores dos EUA e de outros
países reduziram suas compras
de automóveis e televisores, o
Japão se tornou a grande economia mais prejudicada.
A participação da indústria
na economia, porém, ainda
continua bem acima dos 12%
dos EUA. E poucos no país advogam uma mudança abrupta.
Em lugar disso, a sensação é a
de que o Japão precisa encontrar um novo equilíbrio ao
substituir suas indústrias convencionais por mais tecnologia
da informação e software.
Ao mesmo tempo, o Japão
ainda pode desfrutar de suas
vantagens como centro industrial de alta qualidade, mantendo produtos mais caros, como
máquinas-ferramentas e tecnologias de energia alternativa.
Alguns afirmam que as companhias japonesas correm o
risco de se obcecar demais com
a engenharia sofisticada, a ponto de deixar de lado elementos
que atraem os consumidores,
tais como o design ou a facilidade de uso. Foi o que aconteceu à
Sony, dizem, cujo walkman digital é um produto superior ao
iPod em termos de engenharia,
mas muito menos popular.
A mudança será difícil para o
Japão, onde muitas autoridades parecem apegadas ao velho
modelo da indústria pesada.
Caso o país consiga realizar a
transição, poderá se tornar um
modelo. Mas, se fracassar, os
economistas advertem que
continuará a sofrer a concorrência de nações nas quais os
salários são mais baixos.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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