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FLUTUAÇÃO SUJA
Para Arturo Porzecanski, BC deveria criar mecanismo transitório, até que as exportações reajam
Governo tem de vender dólares, diz ING
VANESSA ADACHI
da Reportagem Local
O economista-chefe para as
Américas do banco ING Barings,
Arturo Porzecanski, avalia que o
governo brasileiro deveria, já nos
próximos dias, adotar um mecanismo de intervenção no mercado
de câmbio, vendendo dólares para
tirar a pressão sobre a cotação.
Não se trata de uma intervenção
permanente. "Seria um mecanismo de venda de dólares para o curto prazo, até que a balança comercial se inverta e traga dólares naturalmente", disse Porzecanski em
entrevista à Folha.
Ele está em visita ao Brasil, conversando com clientes do banco a
respeito da crise do país.
Uma sugestão, segundo ele, seria
fixar um volume de venda diária
de dólares, por exemplo, de US$
100 milhões. Outro mecanismo
poderia ser a criação de um "gatilho": cada vez que o dólar subisse
mais que um determinado percentual, haveria um leilão da moeda.
"Seriam medidas para impedir
que o dólar fosse acima de R$ 2 novamente. Estamos muito perto e
isso é perigoso como sinal inflacionário, além de alimentar boatos."
De acordo com o economista do
ING, não é possível inverter o saldo da balança comercial subitamente. "O Brasil terá superávit,
mas não agora em fevereiro. Provavelmente em abril ou maio."
Até lá, disse ele, há muitas dívidas vencendo no exterior, o que está pressionando o câmbio. "O Banco Central está atuando como se
não tivesse caixa e isso gera expectativas inflacionárias", disse.
Para Porzecanski, esse foi um
dos dois erros cometidos pelo governo logo após a desvalorização.
O outro foi não ter aplicado um
choque de juros. "Um choque logo
após a desvalorização teria acalmado as expectativas, principalmente, de inflação."
Porzecanski avalia que não se
pode desvalorizar a moeda e no
curtíssimo prazo baixar os juros
nominais. "Ao contrário, tem de
haver juros nominais mais altos
para compensar a inflação e a
moeda mais fraca. Quanto mais rápido o governo matar as expectativas inflacionárias e controlar as
contas fiscais, mais rápido poderá
baixar os juros em definitivo."
Porzecanski avalia que tem faltado liderança do BC. Ele considera
Armínio Fraga um ótimo nome
para o cargo. "O governo precisa
colocar pessoas que saibam trabalhar em regime de câmbio livre."
Arturo Porzecanski descreve a si
próprio como um dos principais
críticos do governo brasileiro em
Wall Street nos últimos anos.
Segundo ele, no entanto, está havendo um pessimismo exagerado
em relação ao país no exterior.
"Acho que o Brasil tem chance de
fazer a desvalorização sem ter hiperinflação, moratória e problemas políticos sérios", afirmou ele.
Para isso, entretanto, a precondição é que o governo anuncie nas
próximas semanas cortes profundos em suas despesas.
Segundo ele, o histórico do país é
de aumentar as receitas para equilibrar as contas. "Mas o problema
está nas despesas. E a principal
medida seria um corte em sua folha de pagamentos."
Para ele, é muito importante cuidar das contas fiscais agora "para
evitar que a inflação transitória de
fevereiro e março crie raízes."
Caso o governo produza cortes
rápidos de despesa, Porzecanski
imagina que a inflação pode ficar
em 15% no ano. A taxa de câmbio
poderia terminar 99 ao redor de R$
1,80, oscilando em patamares elevados até abril.
O economista não concorda com
as avaliações, vindas de analistas
do exterior, de que o governo brasileiro pode ter dificuldades em rolar sua dívida interna. "Há muita
ignorância lá fora sobre isso. No
Brasil, a base de investidores que
compra os títulos do governo é
bastante sólida."
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