São Paulo, Quarta-feira, 10 de Fevereiro de 1999
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ECONOMIA REAL
Resistência dos lojistas é grande, mas empresas que dependem de importados conseguem fazer reajustes
Indústria dobra comércio e sobe preço

Lalo de Almeida/Folha Imagem
Placa no Carrefour informa sobre falta de produto por alta de preço


FÁTIMA FERNANDES
da Reportagem Local


A resistência é grande, mas, aos poucos, as indústrias estão conseguindo subir os preços das suas mercadorias, adotando como justificativa os aumentos de custos decorrentes da desvalorização do real. Os reajustes são menores do que os propostos, mas têm impacto no bolso do consumidor.
A Dixie Toga, fabricante de embalagens, informa que reajustou, na última quinzena de janeiro, entre 15% e 20%, em média, os preços das suas linhas. "Subiu o preço das matérias-primas que utilizamos", diz Sérgio Haberfeld, presidente do conselho de administração.
Segundo ele, a Dixie Toga usa papel, tinta, corantes e colas importados. Com a desvalorização do real, diz Haberfeld, os preços desses produtos subiram. A empresa também utiliza os plásticos para fabricar as embalagens. "Eles são produzidos no Brasil, só que o preço é cotado em dólar, é dependente, portanto, da variação cambial."
Haberfeld diz que os clientes, indústrias que utilizam embalagens de forma geral, sempre resistem aos aumentos, mas, quando a empresa explica as razões dos reajustes, eles acabam aceitando ao menos parte deles. "Ninguém quer aumentar preço, mas, em alguns casos, isso é inevitável."
A LG, fabricante coreana de eletroeletrônicos, também aumentou os preços -cerca de 30%, em média- da sua linha. As altas variam de 20% a 50%. "Produto montado no país teve aumento de custo menor do que o importado", diz Mário Kudo, diretor.
Assim como a Dixie Toga, a LG diz que o aumento de preços foi desencadeado pela desvalorização do real. "Está difícil negociar esses reajustes, mas são necessários."
A queda-de-braço entre a indústria e o comércio para negociar preços é diária, mas até mesmo os lojistas começam a considerar a necessidade deles. "Os aumentos são inevitáveis. O que não concordamos é com a imposição de altas de 30%", diz Valdemir Colleone, diretor da Lojas Cem.
A Companhia União informa que aumentou 25%, em média, os preços de três marcas de café - Pilão, Caboclo e União. "Subiu o preço do café verde, que é cotado em dólar", diz Aloisio Nunes de Almeida, gerente de relações institucionais da empresa.
Segundo ele, a empresa está abastecendo o comércio e a própria rede Carrefour, que havia interrompido as negociações com a empresa há cerca de duas semanas. Na época, a Companhia União tentou reajustar em 37% os preços. "Diminuímos o reajuste porque o dólar caiu."
Agora, o Carrefour decidiu romper negociações com a Sony. A rede informa aos clientes, por intermédio de uma placa no meio da loja, o motivo da falta de produtos da marca: aumento de preços.
A Sony informa que subiu os preços de alguns produtos em até 15%. Ichiu Shinohara, diretor da empresa, diz que não entendeu a reação do Carrefour. "Eles não fizeram pedidos em dezembro. Agora, depois da desvalorização do real, a realidade é outra."


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