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NA ÚLTIMA HORA
Estudo vê risco maior nas operações do Fundo, que aplica 72% do crédito em três países; Brasil tem sozinho 34%
Concentração de empréstimos preocupa FMI
GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Estudo elaborado no mês passado pelo Departamento Financeiro
do FMI (Fundo Monetário Internacional) aponta que cresceu, nos
últimos anos, o risco envolvido
nas operações do organismo -e
indica que o Brasil é candidato a
uma observação mais rigorosa.
Segundo os dados citados no
documento, discutido em 25 de
fevereiro pela diretoria do FMI, o
Brasil responde sozinho por 34%
do crédito concedido pelo Fundo.
Sua dívida, pelos dados do Banco
Central atualizados até setembro
último, é de US$ 33,459 bilhões.
O segundo maior devedor, a
Turquia, detém 23% do total que
o FMI tem hoje a receber. O terceiro é a Argentina (15%), que até
ontem ameaçava aplicar um calote na dívida e provavelmente inspirou o estudo.
Os temores do FMI começam,
justamente, pela elevada concentração das operações de crédito:
72% de suas operações estão voltadas para três países.
A concentração segue trajetória
crescente. Na crise da dívida externa dos anos 80, o Brasil era,
mais uma vez, o maior devedor
do Fundo, mas sua participação
nos créditos não passava de 13%.
Em 98, os três maiores devedores de então -Rússia, Coréia do
Sul e Indonésia- respondiam
por 64% do crédito.
"Desde 2000, a parcela do crédito concedido aos maiores tomadores tem crescido de forma marcante, despertando questões em
alguns setores sobre a vulnerabilidade do Fundo ao risco de crédito", diz o estudo.
Outra preocupação é com a
coincidência nas listas de maiores
devedores e de países que passam
mais tempo na dependência do
socorro do FMI.
O texto faz referência a outro
documento do FMI, aprovado pela diretoria em abril do ano passado, sobre a necessidade de "reforçar a vigilância" sobre os países
que praticam o chamado "uso
prolongado" de recursos do organismo -pelo critério então adotado, entram nessa categoria países que passam sete dos últimos
dez anos sob a tutela do FMI.
"Ao final de 2004, o Brasil terá
tido acordos com o Fundo por
seis anos seguidos, faltando um
para a marca de referência do uso
prolongado", diz o estudo de fevereiro -acrescentando que a
Turquia completará cinco anos
de acordos, enquanto a Argentina
já está na relação dos dependentes
crônicos.
Segundo o FMI, o uso prolongado, mais comum entre países considerados miseráveis, pode implicar riscos para os recursos do organismo e ser resultado de "fraqueza na elaboração de um programa e na sua implementação".
Novo cenário mundial
O Fundo observa ainda que a relação dos cinco maiores devedores é a mesma desde 2001 -incluindo, além dos três líderes do
ranking, a Indonésia e a Rússia,
que foram os epicentros das crises
que abalaram a economia global
em, respectivamente, 1997 e 1998.
As turbulências nos países
emergentes estão entre os fatores
que, segundo o texto elaborado
pelos técnicos do Fundo, levaram
o FMI a elevar a concentração de
seus empréstimos e a concessão
de empréstimos em volumes excepcionais -muito acima do limite convencional de 100% da cota de cada país no Fundo.
"O uso de fluxos voláteis de capital privado como a principal
fonte de financiamento para economias emergentes; a crescente
integração e liberalização dos
mercados; crescente globalização
e interdependência financeira entre os países" são as razões citadas
pelo estudo.
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