São Paulo, quarta-feira, 10 de março de 2004

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Estudo vê risco maior nas operações do Fundo, que aplica 72% do crédito em três países; Brasil tem sozinho 34%

Concentração de empréstimos preocupa FMI

GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Estudo elaborado no mês passado pelo Departamento Financeiro do FMI (Fundo Monetário Internacional) aponta que cresceu, nos últimos anos, o risco envolvido nas operações do organismo -e indica que o Brasil é candidato a uma observação mais rigorosa.
Segundo os dados citados no documento, discutido em 25 de fevereiro pela diretoria do FMI, o Brasil responde sozinho por 34% do crédito concedido pelo Fundo. Sua dívida, pelos dados do Banco Central atualizados até setembro último, é de US$ 33,459 bilhões.
O segundo maior devedor, a Turquia, detém 23% do total que o FMI tem hoje a receber. O terceiro é a Argentina (15%), que até ontem ameaçava aplicar um calote na dívida e provavelmente inspirou o estudo.
Os temores do FMI começam, justamente, pela elevada concentração das operações de crédito: 72% de suas operações estão voltadas para três países.
A concentração segue trajetória crescente. Na crise da dívida externa dos anos 80, o Brasil era, mais uma vez, o maior devedor do Fundo, mas sua participação nos créditos não passava de 13%.
Em 98, os três maiores devedores de então -Rússia, Coréia do Sul e Indonésia- respondiam por 64% do crédito.
"Desde 2000, a parcela do crédito concedido aos maiores tomadores tem crescido de forma marcante, despertando questões em alguns setores sobre a vulnerabilidade do Fundo ao risco de crédito", diz o estudo.
Outra preocupação é com a coincidência nas listas de maiores devedores e de países que passam mais tempo na dependência do socorro do FMI.
O texto faz referência a outro documento do FMI, aprovado pela diretoria em abril do ano passado, sobre a necessidade de "reforçar a vigilância" sobre os países que praticam o chamado "uso prolongado" de recursos do organismo -pelo critério então adotado, entram nessa categoria países que passam sete dos últimos dez anos sob a tutela do FMI.
"Ao final de 2004, o Brasil terá tido acordos com o Fundo por seis anos seguidos, faltando um para a marca de referência do uso prolongado", diz o estudo de fevereiro -acrescentando que a Turquia completará cinco anos de acordos, enquanto a Argentina já está na relação dos dependentes crônicos.
Segundo o FMI, o uso prolongado, mais comum entre países considerados miseráveis, pode implicar riscos para os recursos do organismo e ser resultado de "fraqueza na elaboração de um programa e na sua implementação".

Novo cenário mundial
O Fundo observa ainda que a relação dos cinco maiores devedores é a mesma desde 2001 -incluindo, além dos três líderes do ranking, a Indonésia e a Rússia, que foram os epicentros das crises que abalaram a economia global em, respectivamente, 1997 e 1998.
As turbulências nos países emergentes estão entre os fatores que, segundo o texto elaborado pelos técnicos do Fundo, levaram o FMI a elevar a concentração de seus empréstimos e a concessão de empréstimos em volumes excepcionais -muito acima do limite convencional de 100% da cota de cada país no Fundo.
"O uso de fluxos voláteis de capital privado como a principal fonte de financiamento para economias emergentes; a crescente integração e liberalização dos mercados; crescente globalização e interdependência financeira entre os países" são as razões citadas pelo estudo.


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