São Paulo, quinta-feira, 10 de março de 2005

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ANÁLISE

Alta de commodities pode ser bom sinal

JONATHAN FUERBRINGER
DO "NEW YORK TIMES"

Enquanto o aumento dos preços das matérias-primas muitas vezes é um indício preocupante de inflação, esses temores foram postos em segundo plano pelo outro significado do aumento -que o crescimento econômico está acelerando em várias regiões do mundo.
Alguns analistas também dizem que o impacto do aumento dos preços desses produtos sobre a inflação será brando.
O aumento "reflete a atividade pujante no mundo em desenvolvimento na Ásia, e no balanço isso significa que a economia global está se saindo melhor do que pensávamos", segundo Robert J. Barbera, economista chefe do ITG/ Hoenig.
Mas, depois que um índice de matérias-primas muito observado atingiu um pico de 24 anos anteontem, surgiram dúvidas nos mercados sobre essa interpretação otimista.
Enquanto os preços do petróleo cru, do óleo para calefação e do cobre, todos componentes do índice de commodities, atingiram seus níveis mais altos, o mercado de ações e os preços dos títulos do Tesouro americano caíram, fazendo os rendimentos subirem.

O petróleo cru para entrega em abril na Bolsa de Nova York fechou ontem a US$ 54,77 o barril, com alta de 0,33% em relação aos US$ 54,77 de terça-feira. O petróleo foi negociado a US$ 55,65 durante o dia, a apenas dois centavos do recorde atingido em outubro do ano passado. O preço da libra de cobre subiu 0,54%, para US$ 150,35.
O índice CRB-Reuters de 17 commodities subiu 1,05%, para 313,70, não distante de seu pico de 314,50 em janeiro de 1981. No último ano, o índice subiu 15%, sendo a maior parte no último mês.

Economia saudável
Ainda assim, para os investidores, o aumento no preço das matérias-primas, especialmente de materiais industriais, é positivo agora porque é um sinal de que a economia global está saudável, o que é bom para a recuperação da economia americana.
Quanto a seu impacto inflacionário, Barbera afirma que deverá ser muito menor que no passado. O motivo disso, segundo o economista, é que as matérias-primas industriais estão sendo usadas em países de baixos salários, como a China e outros asiáticos, para fazer produtos que podem ser vendidos mais barato em outras partes do mundo, reduzindo a pressão inflacionária.
Para sustentar seu argumento, ele nota que os preços de bens de consumo, excluindo alimentos e energia, subiram apenas 0,9% nos últimos 12 meses até janeiro. Nesse mesmo período, o índice CRB-Reuters de matérias-primas industriais subiu 4,8%.
"Então a ligação com a inflação é no máximo tênue", ele disse. "Não vejo a grande inflação associada a isso."
Os investidores pareciam ter seguido essa interpretação por algum tempo, já que o aumento do petróleo em outubro para mais de US$ 55 o barril e sua atual recuperação não provocaram um grande salto nas taxas de juros de longo prazo, que são sensíveis a temores de inflação.

Juros
Apesar do aumento nas taxas do Tesouro ontem, as taxas de longo prazo continuam abaixo de picos recentes e bem abaixo de onde estiveram quando o Federal Reserve começou a aumentar sua taxa referencial de juros de curto prazo em junho.
Em vez disso, os investidores pareceram acreditar que o aumento do petróleo apenas desaceleraria o crescimento, e essa interpretação ajudou a manter sob controle os juros de prazo mais longo.
Ward McCarthy, diretor administrativo da Stone & McCarthy Research Associates, disse que essa crença foi discutida ontem no mercado de títulos.
"O CRB está novamente avançando e parece que o mercado está repensando o nexo do petróleo, inflação, economia", ele disse. "Talvez seja mais uma ameaça inflacionária."
Ele disse que o enfoque foi para o recente pico de rendimento de 4,41% dos títulos do Tesouro para dez anos, e se ele for superado os temores de inflação poderão começar a influenciar mais os mercados de títulos.


Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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