São Paulo, segunda-feira, 10 de março de 2008

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entrevista

"EUA voltarão a crescer", afirma economista

CRISTIANE BARBIERI
DA REPORTAGEM LOCAL

O economista Antonio Corrêa de Lacerda afirma que a crise prenunciada no ano passado se concretizou. Para ele, no entanto, isso não deve ser motivo de preocupações adicionais, já que as perspectivas da economia mundial -e do Brasil- são boas, e os Estados Unidos deverão voltar ao crescimento já no próximo ano.  

FOLHA - Os novos sinais negativos emitidos pela economia norte-americana são motivos de maior preocupação?
ANTONIO CORRÊA DE LACERDA
- Ainda não. Vivemos agora é a materialização dos indícios que havia anteriormente. É uma crise difícil de ser mensurada, mas se sabia que ela resultaria em perdas de bancos, corretoras e afetaria a economia real. É um quadro difícil, mas a liquidez mundial não secou, e os fluxos para países em desenvolvimento continuam fortes.

FOLHA - O Brasil está imune?
LACERDA
- O quadro é favorável porque o país enfrenta a crise com nível recorde de reservas. Outra vantagem é que o grande propulsor do PIB é a demanda doméstica, que continua forte, bem como os investimentos.

FOLHA - Qual é o maior risco para o país: a crise americana ou uma retração na economia chinesa, causada pela inflação?
LACERDA
- A desaceleração da China é um risco maior para o Brasil. Mas, se a China, em vez de crescer 11% ao ano, crescer 9% ou 8%, ainda assim terá demanda altíssima. É um risco que pode ter impacto, mas não vai inviabilizar a economia brasileira. As commodities seguirão valorizadas e a China tem espaço para elevar juros e controlar a inflação sem brecar bruscamente a economia.

FOLHA - Os Bancos Centrais têm ferramentas para reduzir a crise?
LACERDA
- No curto prazo, eles agiram bem dando liquidez ao mercado. O que pinta é uma recessão curta nos EUA e recuperação a partir de 2009. Do ritmo de 5% que a economia mundial vinha crescendo, deve ficar agora em torno de 4%.

FOLHA - Por que a crise é curta?
LACERDA
- Os EUA estão ajustando sua economia com a recuperação nas exportações, trazida pelo dólar desvalorizado e pelo aumento da competitividade. Além disso, os EUA continuam emitindo a moeda que é referência internacional e títulos que, mesmo com taxas de juros baixas, todos querem comprar. É uma situação bastante privilegiada. Pagam a desvalorização cambial com a inflação maior, mas, como economia vai desaquecer, o espaço para o crescimento da inflação será limitado.

FOLHA - Ainda há esqueletos escondidos ligados à crise das hipotecas de alto risco dos EUA?
LACERDA
- Essa história ainda vai gerar muita surpresa. Essa crise é quase uma metástase que se espalhou com os repasses de títulos que saíram dos bancos e foram a outros mercados. Vão gerar muitas perdas, mas isso não muda a trajetória da economia mundial de crescimento.

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