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entrevista
"EUA voltarão a crescer", afirma economista
CRISTIANE BARBIERI
DA REPORTAGEM LOCAL
O economista Antonio
Corrêa de Lacerda afirma
que a crise prenunciada no
ano passado se concretizou.
Para ele, no entanto, isso não
deve ser motivo de preocupações adicionais, já que as
perspectivas da economia
mundial -e do Brasil- são
boas, e os Estados Unidos deverão voltar ao crescimento
já no próximo ano.
FOLHA - Os novos sinais negativos emitidos pela economia norte-americana são motivos de
maior preocupação?
ANTONIO CORRÊA DE LACERDA -
Ainda não. Vivemos agora é a
materialização dos indícios
que havia anteriormente. É
uma crise difícil de ser mensurada, mas se sabia que ela
resultaria em perdas de bancos, corretoras e afetaria a
economia real. É um quadro
difícil, mas a liquidez mundial não secou, e os fluxos para países em desenvolvimento continuam fortes.
FOLHA - O Brasil está imune?
LACERDA - O quadro é favorável porque o país enfrenta a
crise com nível recorde de
reservas. Outra vantagem é
que o grande propulsor do
PIB é a demanda doméstica,
que continua forte, bem como os investimentos.
FOLHA - Qual é o maior risco para o país: a crise americana ou
uma retração na economia chinesa, causada pela inflação?
LACERDA - A desaceleração
da China é um risco maior
para o Brasil. Mas, se a China, em vez de crescer 11% ao
ano, crescer 9% ou 8%, ainda
assim terá demanda altíssima. É um risco que pode ter
impacto, mas não vai inviabilizar a economia brasileira.
As commodities seguirão valorizadas e a China tem espaço para elevar juros e controlar a inflação sem brecar bruscamente a economia.
FOLHA - Os Bancos Centrais têm
ferramentas para reduzir a crise?
LACERDA - No curto prazo,
eles agiram bem dando liquidez ao mercado. O que pinta
é uma recessão curta nos
EUA e recuperação a partir
de 2009. Do ritmo de 5% que
a economia mundial vinha
crescendo, deve ficar agora
em torno de 4%.
FOLHA - Por que a crise é curta?
LACERDA - Os EUA estão
ajustando sua economia com
a recuperação nas exportações, trazida pelo dólar desvalorizado e pelo aumento da
competitividade. Além disso,
os EUA continuam emitindo
a moeda que é referência internacional e títulos que,
mesmo com taxas de juros
baixas, todos querem comprar. É uma situação bastante privilegiada. Pagam a desvalorização cambial com a
inflação maior, mas, como
economia vai desaquecer, o
espaço para o crescimento
da inflação será limitado.
FOLHA - Ainda há esqueletos escondidos ligados à crise das hipotecas de alto risco dos EUA?
LACERDA - Essa história ainda vai gerar muita surpresa.
Essa crise é quase uma metástase que se espalhou com
os repasses de títulos que saíram dos bancos e foram a outros mercados. Vão gerar
muitas perdas, mas isso não
muda a trajetória da economia mundial de crescimento.
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