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BCs vêem risco maior à economia mundial
Agravamento da crise nos EUA, dólar em queda e ameaça de inflação aumentam preocupações de presidentes de bancos centrais
Para banqueiro participante de encontro do BIS, na Suíça, situação "se agravou muito" desde a última reunião dos BCs, no mês de janeiro
MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A BASILÉIA (SUÍÇA)
O agravamento da crise nos
EUA, a forte queda do dólar e a
preocupação com efeitos globais de uma recessão na maior
economia do mundo dominam
o encontro de presidentes de
bancos centrais que ocorre hoje em Basiléia, na Suíça. A percepção é a de que as previsões
mais acertadas na última reunião do BIS (Banco de Compensações Internacionais), em
janeiro, foram aquelas feitas
pelos mais pessimistas.
A sensação foi reforçada pelos novos sinais negativos emitidos pela economia americana
na semana passada. Um deles
foi a divulgação de que em fevereiro houve o maior número de
demissões dos últimos cinco
anos, no segundo mês consecutivo de declínio no nível nacional de emprego. Com a má notícia, a taxa de desemprego americano chegou a 4,8%.
Além disso, na sexta, o Federal Reserve (o BC americano)
anunciou um plano para elevar
a liquidez do mercado, com
uma nova injeção de US$ 200
bilhões no volume de empréstimo concedido aos bancos.
A medida convenceu os investidores de que mais um corte na taxa de juros dos EUA está
a caminho para conter o risco
de recessão que, para muitos,
ou é inevitável ou já está instalada. Ben Bernanke, presidente
do Fed, que participou da reunião de janeiro, desta vez não
veio a Basiléia.
Para um banqueiro que participa da reunião de hoje, "a situação se agravou muito" desde
janeiro, "principalmente nos
EUA, mas também na Europa".
Para ele, o maior problema
continua sendo a falta de regulação do sistema bancário americano, onde nasceu a crise do
"subprime" (hipotecas de alto
risco), que contaminou boa
parte do mundo desenvolvido.
Há pressão externa para que
as autoridades econômicas dos
EUA imponham limites e exijam maiores garantias para esse tipo de transação arriscada.
"O problema é que são muitas
as agências econômicas no país,
e não se chega a um acordo."
Para tornar o cenário mais
complexo para os BCs, em meio
ao risco de recessão e dos sinais
de desaceleração nas economias desenvolvidas, persiste o
perigo da inflação, alimentado
pelo preço elevado dos alimentos e das matérias-primas, como o petróleo. Isso recoloca
um duro dilema para as autoridades monetárias, que já dominara as discussões de janeiro, e
que só piorou desde então: cortar juros para estimular a economia ou mantê-los inalterados para controlar a inflação?
Um dos principais alvos desse dilema, o presidente do Banco Central Europeu (BCE),
Jean-Claude Trichet, chegou a
Basiléia ontem no fim da tarde
e preferiu não dar declarações.
Trichet vem resistindo há meses às pressões para baixar os
juros na zona do euro, que estão em 4%. Na sexta-feira, um
dia depois de manter os juros
inalterados, Trichet disse que
os altos preços dos alimentos
"nos lembram que a globalização também pode levar a riscos
de inflação mundial".
O presidente do BC argentino, Martín Redrado, afirmou
ontem que os mercados emergentes estão no melhor momento dos últimos 30 anos para lidar com a crise. Mas fez um
alerta. "Os emergentes não são
uma ilha", disse, afirmando que
jamais usou a palavra "descolamento" para descartar o risco
de que as turbulências mundiais atinjam as economias em
desenvolvimento. "O que estou
dizendo é que os mercados estão fazendo uma distinção entre as economias com base sólida, como as nossas."
Redrado disse que possíveis
ações coordenadas para aumentar a liquidez do mercado
-como ocorreu no fim de
2007, quando o Fed, o BCE, o
Banco da Inglaterra e o Banco
da Suíça realizaram operação
conjunta-, se ocorrerem, deverão ser tomadas em termos
regionais. "Minha análise é a de
que cada região tem os seus
problemas. A ação do Fed na última sexta, por exemplo, certamente foi feita em coordenação
com o BCE." Ele acrescentou
que Brasil e Argentina estão em
constante contato para monitorar os riscos atuais.
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