São Paulo, segunda-feira, 10 de março de 2008

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BCs vêem risco maior à economia mundial

Agravamento da crise nos EUA, dólar em queda e ameaça de inflação aumentam preocupações de presidentes de bancos centrais

Para banqueiro participante de encontro do BIS, na Suíça, situação "se agravou muito" desde a última reunião dos BCs, no mês de janeiro

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A BASILÉIA (SUÍÇA)

O agravamento da crise nos EUA, a forte queda do dólar e a preocupação com efeitos globais de uma recessão na maior economia do mundo dominam o encontro de presidentes de bancos centrais que ocorre hoje em Basiléia, na Suíça. A percepção é a de que as previsões mais acertadas na última reunião do BIS (Banco de Compensações Internacionais), em janeiro, foram aquelas feitas pelos mais pessimistas.
A sensação foi reforçada pelos novos sinais negativos emitidos pela economia americana na semana passada. Um deles foi a divulgação de que em fevereiro houve o maior número de demissões dos últimos cinco anos, no segundo mês consecutivo de declínio no nível nacional de emprego. Com a má notícia, a taxa de desemprego americano chegou a 4,8%.
Além disso, na sexta, o Federal Reserve (o BC americano) anunciou um plano para elevar a liquidez do mercado, com uma nova injeção de US$ 200 bilhões no volume de empréstimo concedido aos bancos.
A medida convenceu os investidores de que mais um corte na taxa de juros dos EUA está a caminho para conter o risco de recessão que, para muitos, ou é inevitável ou já está instalada. Ben Bernanke, presidente do Fed, que participou da reunião de janeiro, desta vez não veio a Basiléia.
Para um banqueiro que participa da reunião de hoje, "a situação se agravou muito" desde janeiro, "principalmente nos EUA, mas também na Europa". Para ele, o maior problema continua sendo a falta de regulação do sistema bancário americano, onde nasceu a crise do "subprime" (hipotecas de alto risco), que contaminou boa parte do mundo desenvolvido.
Há pressão externa para que as autoridades econômicas dos EUA imponham limites e exijam maiores garantias para esse tipo de transação arriscada. "O problema é que são muitas as agências econômicas no país, e não se chega a um acordo."
Para tornar o cenário mais complexo para os BCs, em meio ao risco de recessão e dos sinais de desaceleração nas economias desenvolvidas, persiste o perigo da inflação, alimentado pelo preço elevado dos alimentos e das matérias-primas, como o petróleo. Isso recoloca um duro dilema para as autoridades monetárias, que já dominara as discussões de janeiro, e que só piorou desde então: cortar juros para estimular a economia ou mantê-los inalterados para controlar a inflação?
Um dos principais alvos desse dilema, o presidente do Banco Central Europeu (BCE), Jean-Claude Trichet, chegou a Basiléia ontem no fim da tarde e preferiu não dar declarações. Trichet vem resistindo há meses às pressões para baixar os juros na zona do euro, que estão em 4%. Na sexta-feira, um dia depois de manter os juros inalterados, Trichet disse que os altos preços dos alimentos "nos lembram que a globalização também pode levar a riscos de inflação mundial".
O presidente do BC argentino, Martín Redrado, afirmou ontem que os mercados emergentes estão no melhor momento dos últimos 30 anos para lidar com a crise. Mas fez um alerta. "Os emergentes não são uma ilha", disse, afirmando que jamais usou a palavra "descolamento" para descartar o risco de que as turbulências mundiais atinjam as economias em desenvolvimento. "O que estou dizendo é que os mercados estão fazendo uma distinção entre as economias com base sólida, como as nossas."
Redrado disse que possíveis ações coordenadas para aumentar a liquidez do mercado -como ocorreu no fim de 2007, quando o Fed, o BCE, o Banco da Inglaterra e o Banco da Suíça realizaram operação conjunta-, se ocorrerem, deverão ser tomadas em termos regionais. "Minha análise é a de que cada região tem os seus problemas. A ação do Fed na última sexta, por exemplo, certamente foi feita em coordenação com o BCE." Ele acrescentou que Brasil e Argentina estão em constante contato para monitorar os riscos atuais.


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