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"Super-Bolsa" terá mais a cara da BM&F, diz Azevedo
Para Eduardo da Rocha Azevedo, ex-presidente da Bovespa, "nunca fez sentido" as duas Bolsas brasileiras operarem separadamente
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
Ex-presidente por quatro
gestões da Bovespa e fundador
da BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros), Eduardo da
Rocha Azevedo, 58, lança hoje o
seu livro de memórias com a
missão de contar como o mercado financeiro atravessou o
deserto da "desorganização
completa" da economia brasileira até se tornar o segundo em
crescimento no mundo, atrás
apenas do da China. "Não esperava que fosse tão longe, mas o
que não estava na conta é que
isso aconteceu no governo Lula", afirma.
Considerado inimigo número um do investidor Naji Nahas,
Azevedo conta no livro que
"moralizou" o mercado paulista, restringindo as operações
alavancadas [feitas com empréstimos].
"Hoje, tenho uma universidade, a Facamp [da qual é acionista]." Quando se discute a fusão das duas Bolsas que presidiu, Azevedo afirma que "nunca fez sentido" a operação separada e que a "super-Bolsa" terá mais a cara da BM&F.
FOLHA - Como será a Bolsa fruto da
fusão entre a Bovespa e a BM&F?
EDUARDO DA ROCHA AZEVEDO - Terá mais a cara da BM&F, que
tem uma administração mais
solta. A Bovespa é mais travada.
Quando criamos a BM&F, pensamos em tirar todos os defeitos da Bovespa. Teria de ter menos funcionários, ser focada em novos produtos e commodities.
A agricultura voltou a ter um
peso grande na economia. Se
houver um pressão da agricultura para que o governo tire alguns empecilhos sobre a negociação de commodities, vamos
ter um mercado grande.
FOLHA - Como deve evoluir o negócio? Qual o próximo passo?
AZEVEDO - Não tem motivo para não sair a fusão, os sócios são
os mesmos. Vão ficar uma holding e os mercados. Não vai ter
dois diretores-gerais. As "clearings" serão uma só. Isso dá
uma economia de custos muito
grande. Para fazer uma Bolsa
dessa, você tem de sair comprando tudo que é Bolsa na
América do Sul. A única dificuldade será no México, que está
muito próximo dos EUA. Só vai
ter lugar para seis Bolsas no
mundo: duas nos EUA -a de
Chicago e a de Nova York-,
uma na Europa, duas na Ásia
-uma chinesa e outra japonesa- e uma na América Latina.
FOLHA - Por que vocês já não inventaram as duas Bolsas juntas?
AZEVEDO - Na época, não tinha
regulação para a BM&F. A gente não precisava de autorização
de ninguém. A BM&F não podia ser feita pela Bovespa, porque aí precisaria de autorização da CVM [Comissão de Valores Mobiliários] e do BC
[Banco Central]. Imagina naquela época, em que o governo
detestava transparência, você
lançar um produto que demonstrava o tamanho da taxa
de juros. Então falamos: vamos
fazer uma Bolsa em separado
da Bovespa para não ter problema com órgão regulador.
FOLHA - O senhor imaginava que o
mercado chegaria tão longe?
AZEVEDO - O que não estava na
conta mesmo era que fosse no
governo Lula. Nosso mercado
tende a crescer muito mais. O
número de usuários é muito
pequeno perto do que ele pode
ter. Quando eu tinha 30 anos,
se falasse para um sujeito de 50
para aplicar na Bolsa, ele me
batia. A Bolsa era vista como
jogo. A poupança dele era dirigida para imóvel e para títulos.
O gozado é que vários títulos
que os governos lançaram não
foram pagos. Como você ia fazer mercado de capitais, com o
governo concorrendo?
FOLHA - Qual governo mais ajudou? E qual mais atrapalhou?
AZEVEDO - O governo Fernando Henrique Cardoso foi o que
mais atrapalhou. Para fazer a
privatização, a Lei Kandir [que
desobrigou a extensão do prêmio aos demais acionistas] acabou com o direito dos minoritários. Isso mudou com o Novo
Mercado, criação da Bolsa.
FOLHA - A Bolsa virou negócio só
de grande investidor?
AZEVEDO - Não é verdade. Tem
muito dinheiro de gente pequena, que está em fundo e em
clube de investimento. Não
tem mais é a figura do [corretor] independente.
"EDUARDO DA ROCHA AZEVEDO: A BOVESPA E A BM&F"
De: Ângela Ximenes
Editora: Contexto, 319 págs., R$ 49
Lançamento: hoje, às 18h30, na Livraria da Vila (al. Lorena, 1.731 - Jardins),
em São Paulo; amanhã, às 19h, na Livraria da Travessa (r. Visconde de Pirajá, 572 - Ipanema), no Rio
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