São Paulo, segunda-feira, 10 de março de 2008

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"Super-Bolsa" terá mais a cara da BM&F, diz Azevedo

Para Eduardo da Rocha Azevedo, ex-presidente da Bovespa, "nunca fez sentido" as duas Bolsas brasileiras operarem separadamente

TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

Ex-presidente por quatro gestões da Bovespa e fundador da BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros), Eduardo da Rocha Azevedo, 58, lança hoje o seu livro de memórias com a missão de contar como o mercado financeiro atravessou o deserto da "desorganização completa" da economia brasileira até se tornar o segundo em crescimento no mundo, atrás apenas do da China. "Não esperava que fosse tão longe, mas o que não estava na conta é que isso aconteceu no governo Lula", afirma.
Considerado inimigo número um do investidor Naji Nahas, Azevedo conta no livro que "moralizou" o mercado paulista, restringindo as operações alavancadas [feitas com empréstimos]. "Hoje, tenho uma universidade, a Facamp [da qual é acionista]." Quando se discute a fusão das duas Bolsas que presidiu, Azevedo afirma que "nunca fez sentido" a operação separada e que a "super-Bolsa" terá mais a cara da BM&F.  

FOLHA - Como será a Bolsa fruto da fusão entre a Bovespa e a BM&F?
EDUARDO DA ROCHA AZEVEDO
- Terá mais a cara da BM&F, que tem uma administração mais solta. A Bovespa é mais travada. Quando criamos a BM&F, pensamos em tirar todos os defeitos da Bovespa. Teria de ter menos funcionários, ser focada em novos produtos e commodities. A agricultura voltou a ter um peso grande na economia. Se houver um pressão da agricultura para que o governo tire alguns empecilhos sobre a negociação de commodities, vamos ter um mercado grande.

FOLHA - Como deve evoluir o negócio? Qual o próximo passo?
AZEVEDO
- Não tem motivo para não sair a fusão, os sócios são os mesmos. Vão ficar uma holding e os mercados. Não vai ter dois diretores-gerais. As "clearings" serão uma só. Isso dá uma economia de custos muito grande. Para fazer uma Bolsa dessa, você tem de sair comprando tudo que é Bolsa na América do Sul. A única dificuldade será no México, que está muito próximo dos EUA. Só vai ter lugar para seis Bolsas no mundo: duas nos EUA -a de Chicago e a de Nova York-, uma na Europa, duas na Ásia -uma chinesa e outra japonesa- e uma na América Latina.

FOLHA - Por que vocês já não inventaram as duas Bolsas juntas?
AZEVEDO
- Na época, não tinha regulação para a BM&F. A gente não precisava de autorização de ninguém. A BM&F não podia ser feita pela Bovespa, porque aí precisaria de autorização da CVM [Comissão de Valores Mobiliários] e do BC [Banco Central]. Imagina naquela época, em que o governo detestava transparência, você lançar um produto que demonstrava o tamanho da taxa de juros. Então falamos: vamos fazer uma Bolsa em separado da Bovespa para não ter problema com órgão regulador.

FOLHA - O senhor imaginava que o mercado chegaria tão longe?
AZEVEDO
- O que não estava na conta mesmo era que fosse no governo Lula. Nosso mercado tende a crescer muito mais. O número de usuários é muito pequeno perto do que ele pode ter. Quando eu tinha 30 anos, se falasse para um sujeito de 50 para aplicar na Bolsa, ele me batia. A Bolsa era vista como jogo. A poupança dele era dirigida para imóvel e para títulos. O gozado é que vários títulos que os governos lançaram não foram pagos. Como você ia fazer mercado de capitais, com o governo concorrendo?

FOLHA - Qual governo mais ajudou? E qual mais atrapalhou?
AZEVEDO
- O governo Fernando Henrique Cardoso foi o que mais atrapalhou. Para fazer a privatização, a Lei Kandir [que desobrigou a extensão do prêmio aos demais acionistas] acabou com o direito dos minoritários. Isso mudou com o Novo Mercado, criação da Bolsa.

FOLHA - A Bolsa virou negócio só de grande investidor?
AZEVEDO
- Não é verdade. Tem muito dinheiro de gente pequena, que está em fundo e em clube de investimento. Não tem mais é a figura do [corretor] independente.


"EDUARDO DA ROCHA AZEVEDO: A BOVESPA E A BM&F"
De:
Ângela Ximenes
Editora: Contexto, 319 págs., R$ 49
Lançamento: hoje, às 18h30, na Livraria da Vila (al. Lorena, 1.731 - Jardins), em São Paulo; amanhã, às 19h, na Livraria da Travessa (r. Visconde de Pirajá, 572 - Ipanema), no Rio


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