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São Paulo, quinta-feira, 10 de abril de 2003

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ECONOMIA NA TRINCHEIRA

Fundo prevê cenário melhor com o fim do conflito, mas diz que problemas persistem nos EUA

Mesmo sem guerra mundo patina, diz FMI

FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

A economia mundial terá um crescimento insignificante neste ano e a sua recuperação, a partir do ano que vem, está por um fio.
Relatório divulgado ontem pelo FMI (Fundo Monetário Internacional) projeta 3,2% de crescimento global em 2003, contra 3% no ano passado. A previsão anterior do Fundo para 2003 era de 3,7%. Para 2004, o FMI prevê expansão de 4,1% para o mundo.
"A perspectiva de um final mais rápido e favorável para a guerra no Iraque levantou uma nuvem que pairava sobre a economia. Mas muitos dos problemas existentes ainda estão lá", disse Kenneth Rogoff, economista-chefe do Fundo, na divulgação do relatório "Perspectivas para a Economia Mundial" do FMI para 2003.
"As chances de uma recuperação hoje são maiores do que há um ou dois meses, mas ainda há muitas incógnitas pela frente", afirmou Rogoff.
Estagnação persistente no Japão e na Alemanha, crescimento medíocre na Europa e perigo de deflação em economias importantes são alguns dos obstáculos apontados.
Além disso, Rogoff afirmou que o mundo não voltará, "nem mesmo em décadas", a uma situação de segurança anterior ao 11 de setembro de 2001.
"Isso implicará daqui para a frente mais despesas com seguro, maiores gastos no comércio internacional, queda da confiança e uma diminuição importante na velocidade da integração econômica mundial, disse.

Vulnerabilidade
A vulnerabilidade nos países emergentes, principalmente na América Latina e Turquia, ainda é considerada "elevada", e há uma preocupação com o fato de a recuperação mundial continuar dependendo fortemente da economia americana. Os EUA, segundo o Fundo, "enfrentam uma série de desafios".
Uma queda persistente no valor do dólar, um aumento significativo neste ano no déficit fiscal (que pode atingir US$ 400 bilhões) e a incógnita sobre os custos finais da guerra e a reconstrução do Iraque são alguns deles.
"Declínios maiores nos mercados financeiros, perdas além do projetado em fundos de pensão e a possibilidade de novos escândalos empresariais aumentam ainda mais os riscos", diz o relatório do Fundo.
Rogoff criticou ainda o programa de corte de impostos do presidente George W. Bush. "A situação fiscal hoje recomendaria uma prudência nesse tema", disse.
O Fundo prevê uma taxa de crescimento de 2,2% para os EUA neste ano e de 3,6% em 2004. "É uma recuperação morna. Terá maior força na segunda metade deste ano", disse Rogoff.

Dependência perigosa
Em face de todas as limitações e riscos que envolvem a economia norte-americana, o relatório do Fundo recomenda "urgente redução da dependência da economia global" em relação aos EUA.
A expectativa de crescimento para a zona do euro neste ano é de apenas 1,1%. Para a Alemanha, de 0,5%. Para 2004, os números são 2,3% e 1,9% para a zona do euro e a Alemanha, respectivamente.
O Japão, por sua vez, deve entrar no seu quinto ano consecutivo de deflação (quando a inflação é negativa como reflexo da estagnação econômica), algo sem precedentes nos últimos 50 anos em economias avançadas.
A previsão de crescimento para o Japão neste ano é de 0,8%, e de 1% para 2004.
Os emergentes asiáticos continuam liderando as taxas de crescimento, com 6% projetados para este ano e 6,3% para 2004.
"É um crescimento que não se sustenta se o resto do mundo entrar em crise", disse Rogoff.
Assim como o Banco Mundial, o FMI vê também "um espaço de manobra restrito" para a reação de bancos centrais mundiais.
Os instrumentos macroeconômicos clássicos, como redução de taxas de juros, estariam no limite para que possam ajudar a consolidar uma recuperação mais firme. No máximo, podem corrigir instabilidades menores.
Tendo os EUA ainda como "motor" do crescimento global, toda a análise um pouco mais otimista do relatório concentra-se em um cenário de guerra curta no Iraque. "Nos últimos três meses, as preocupações sobre os desdobramentos da guerra tiveram forte impacto sobre a economia, sobre os preços do petróleo e no mercado financeiro. A questão fundamental agora é saber se a resolução rápida poderá levar a uma recuperação mais imediata", afirmou Rogoff.


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