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ECONOMIA NA TRINCHEIRA
Fundo prevê cenário melhor com o fim do conflito, mas diz que problemas persistem nos EUA
Mesmo sem guerra mundo patina, diz FMI
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
A economia mundial terá um
crescimento insignificante neste
ano e a sua recuperação, a partir
do ano que vem, está por um fio.
Relatório divulgado ontem pelo
FMI (Fundo Monetário Internacional) projeta 3,2% de crescimento global em 2003, contra 3%
no ano passado. A previsão anterior do Fundo para 2003 era de
3,7%. Para 2004, o FMI prevê expansão de 4,1% para o mundo.
"A perspectiva de um final mais
rápido e favorável para a guerra
no Iraque levantou uma nuvem
que pairava sobre a economia.
Mas muitos dos problemas existentes ainda estão lá", disse Kenneth Rogoff, economista-chefe do
Fundo, na divulgação do relatório
"Perspectivas para a Economia
Mundial" do FMI para 2003.
"As chances de uma recuperação hoje são maiores do que há
um ou dois meses, mas ainda há
muitas incógnitas pela frente",
afirmou Rogoff.
Estagnação persistente no Japão
e na Alemanha, crescimento medíocre na Europa e perigo de deflação em economias importantes
são alguns dos obstáculos apontados.
Além disso, Rogoff afirmou que
o mundo não voltará, "nem mesmo em décadas", a uma situação
de segurança anterior ao 11 de setembro de 2001.
"Isso implicará daqui para a
frente mais despesas com seguro,
maiores gastos no comércio internacional, queda da confiança e
uma diminuição importante na
velocidade da integração econômica mundial, disse.
Vulnerabilidade
A vulnerabilidade nos países
emergentes, principalmente na
América Latina e Turquia, ainda é
considerada "elevada", e há uma
preocupação com o fato de a recuperação mundial continuar dependendo fortemente da economia americana. Os EUA, segundo
o Fundo, "enfrentam uma série
de desafios".
Uma queda persistente no valor
do dólar, um aumento significativo neste ano no déficit fiscal (que
pode atingir US$ 400 bilhões) e a
incógnita sobre os custos finais da
guerra e a reconstrução do Iraque
são alguns deles.
"Declínios maiores nos mercados financeiros, perdas além do
projetado em fundos de pensão e
a possibilidade de novos escândalos empresariais aumentam ainda
mais os riscos", diz o relatório do
Fundo.
Rogoff criticou ainda o programa de corte de impostos do presidente George W. Bush. "A situação fiscal hoje recomendaria uma
prudência nesse tema", disse.
O Fundo prevê uma taxa de
crescimento de 2,2% para os EUA
neste ano e de 3,6% em 2004. "É
uma recuperação morna. Terá
maior força na segunda metade
deste ano", disse Rogoff.
Dependência perigosa
Em face de todas as limitações e
riscos que envolvem a economia
norte-americana, o relatório do
Fundo recomenda "urgente redução da dependência da economia
global" em relação aos EUA.
A expectativa de crescimento
para a zona do euro neste ano é de
apenas 1,1%. Para a Alemanha, de
0,5%. Para 2004, os números são
2,3% e 1,9% para a zona do euro e
a Alemanha, respectivamente.
O Japão, por sua vez, deve entrar no seu quinto ano consecutivo de deflação (quando a inflação
é negativa como reflexo da estagnação econômica), algo sem precedentes nos últimos 50 anos em
economias avançadas.
A previsão de crescimento para
o Japão neste ano é de 0,8%, e de
1% para 2004.
Os emergentes asiáticos continuam liderando as taxas de crescimento, com 6% projetados para
este ano e 6,3% para 2004.
"É um crescimento que não se
sustenta se o resto do mundo entrar em crise", disse Rogoff.
Assim como o Banco Mundial,
o FMI vê também "um espaço de
manobra restrito" para a reação
de bancos centrais mundiais.
Os instrumentos macroeconômicos clássicos, como redução de
taxas de juros, estariam no limite
para que possam ajudar a consolidar uma recuperação mais firme.
No máximo, podem corrigir instabilidades menores.
Tendo os EUA ainda como
"motor" do crescimento global,
toda a análise um pouco mais otimista do relatório concentra-se
em um cenário de guerra curta no
Iraque. "Nos últimos três meses,
as preocupações sobre os desdobramentos da guerra tiveram forte impacto sobre a economia, sobre os preços do petróleo e no
mercado financeiro. A questão
fundamental agora é saber se a resolução rápida poderá levar a
uma recuperação mais imediata",
afirmou Rogoff.
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