São Paulo, quinta-feira, 10 de abril de 2008

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Inflação surpreende e sobe 0,48%, puxada por alimentos

IBGE vê sinas de mudança de patamar no preço da comida e novas pressões

IPCA fecha primeiro trimestre com 1,52%; no acumulado de 12 meses, vai a 4,73%, acima do centro da meta para 2008, de 4,5%

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Sob forte pressão da alta dos alimentos, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) ficou em 0,48% em março, pouco abaixo do 0,49% em fevereiro. O índice ficou acima da expectativa do mercado -entre 0,30% e 0,40%- e pode estimular o Banco Central a elevar a taxa de juros em reunião na semana que vem.
O IPCA fechou o primeiro trimestre em 1,52%, mais do que o 1,26% do primeiro trimestre de 2007. No acumulado de 12 meses, o índice bateu em 4,73%. A cada mês, o indicador oficial de inflação se afasta mais do centro da meta traçada pelo governo -de 4,5% para este ano, com intervalo de tolerância de dois pontos para cima ou para baixo.
Para Eulina Nunes dos Santos, coordenadora de Índices de Preço do IBGE, há "sinais de que os preços dos alimentos mudaram de patamar" -para o alto. O motivo, diz, é a alta das commodities no mercado internacional. Segundo ela, a crescente demanda mundial por alimentos, especialmente em países emergentes com crescimento forte, como os asiáticos e alguns africanos, além da expansão do consumo doméstico -puxado pelo incremento de renda-, inflacionam o custo dos alimentos.
Só em março o grupo alimentação subiu 0,89% -mais do que o 0,60% de fevereiro. No trimestre, avançou 3,04% e superou o 1,28% de igual período do ano passado. Nunes disse ainda que a inflação está "mais espalhada agora do que no início do ano", quando os reajustes ficaram concentrados apenas em alimentos e mensalidades escolares.
Em março, também impulsionaram o índice energia elétrica (1,40%), álcool combustíveis (1,73%) e gasolina (0,76%) -preços administrados que se mantinham mais contidos.
Para abril, Nunes ressalta que estão previstas novas pressões inflacionárias, decorrentes dos reajustes de remédios, energia elétrica e aço -este último bate especialmente em veículos e artigos para o lar.
Na visão de Nunes, também não há indícios de que a pressão dos alimentos cederá. É que os preços no atacado já mostram nova rodada de aumentos, e as cotações internacionais seguem em trajetória de alta.
Para o economista Eduardo Moreira, da administradora de recursos BNYMellon/ARX, há, de fato, um crescimento da demanda por alimentos em razão da China e também da alocação de estoques de milho para a produção de biocombustível.
O economista não acredita, porém, que o grupo alimentação suba no mesmo ritmo de 2007, quando a taxa superou os 10%. É que no ano passado foram registradas restrições de oferta (em feijão, leite, carne e trigo, por exemplo), que não se repetirão em 2008.
Ao falar do reajuste do aço, o economista diz que é possível que ele nem chegue a pressionar veículos e eletrodomésticos, dependendo da concorrência com importados.
Mesmo com a pressão nos primeiros meses deste ano, Moreira avalia que a inflação ficará muito próxima do centro da meta -pouco acima ou ligeiramente abaixo, mas sem bater nos 5%. Ele diz que o câmbio -que permite importar produtos mais baratos- joga a favor.
Para a consultoria LCA, o resultado de março é "pontual" e não altera sua projeção para o ano -4,3%. "Boa parte da alta superior à que esperávamos [0,36%] em março deveu-se a pressões pontuais, que deverão ser "devolvidas" nos próximos meses. O bom comportamento dos preços dos serviços e a deflação dos bens duráveis sugerem continuar contidas as pressões associadas à demanda aquecida e ao repasse dos aumentos de custos."


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