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BNDES cobrará provas de funcionário que fez denúncia
Economista questionou transferência de ex-secretário-executivo do banco para a Vale
Contratação ocorreu após mineradora ter obtido a maior linha de crédito já liberada pelo banco; Vale defende novo empregado
ROBERTO MACHADO
DA SUCURSAL DO RIO
O BNDES (Banco Nacional
de Desenvolvimento Econômico e Social) informou, ontem,
que a Comissão de Ética Profissional da instituição vai convidar o funcionário Maurício
Dias David para prestar esclarecimentos sobre o pedido que
o economista fez à comissão:
que investigue se houve irregularidade ou "quebra de ética"
na licença obtida pelo ex-secretário-executivo da presidência
do BNDES, Luciano Siani Pires, para trabalhar na Vale.
Segundo a assessoria, "a Comissão de Ética abriu um procedimento interno de averiguação e vai convidar o denunciante para apresentar as provas
das denúncias que fez". Não está previsto convite semelhante
para Siani Pires.
No domingo, dia 6, Pires encaminhou a diversas gerências
e diretorias do BNDES uma
mensagem eletrônica comunicando o seu novo destino profissional: a diretoria de Planejamento Estratégico da Vale, onde começou a trabalhar na última segunda-feira, dia 7. Na semana anterior, no dia 1º de
abril, o BNDES colocou à disposição da Vale um financiamento de R$ 7,3 bilhões -a
maior linha de crédito já concedida pelo banco.
Na mesma segunda-feira,
David pediu, também por meio
de mensagem eletrônica (copiada para diversos setores do
banco), que a Comissão de Ética se pronunciasse sobre o caso
e fez acusações a Pires. Para
David, houve "grave quebra da
ética que deve vigir no serviço
público". Ele argumenta que o
ex-secretário da presidência
ocupava um cargo de alto-escalão no BNDES na véspera do
anúncio do empréstimo -e que
se transferiu para a Vale imediatamente após a concessão
da linha de crédito. No quadro
funcional do banco, Pires era
superintendente, destacado
para ocupar a Secretária-Executiva da Presidência.
A autorização da licença foi
aprovada numa reunião da diretoria do BNDES, em março.
Trata-se de uma "Licença para
Trato de Interesse Particular",
contando a partir do dia 1º de
abril, com validade de dois
anos. Em tese, depois desse período, Pires poderia retornar.
Procurado pela Folha, o novo diretor da Vale encaminhou
o pedido de entrevista à assessoria de imprensa da companhia. Segundo a assessoria, Pires "é um ótimo profissional,
com uma carreira de sucesso, e
a Vale tem por política contratar sempre os melhores profissionais". Ele já era integrante
do Conselho de Administração
da mineradora, indicado pelo
próprio BNDES.
Funcionário concursado, o
engenheiro Luciano Siani Pires
foi chefe do departamento de
Gestão da Carteira de Ações e
chegou a ocupar o posto de
chefe de gabinete da Presidência na gestão de Demian Fiocca
-que saiu do BNDES, cumpriu
"quarentena" e hoje também é
diretor da Vale. Já o economista Maurício David chegou a assessorar o ex-presidente do
banco Carlos Lessa e hoje atua
na área de Insumos Básicos.
A legislação federal não faz
referência direta a casos como
o da licença obtida por Pires e
sua transferência para a Vale.
Só estabelece a chamada quarentena para presidentes e diretores de estatais.
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