São Paulo, quinta-feira, 10 de abril de 2008

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BNDES cobrará provas de funcionário que fez denúncia

Economista questionou transferência de ex-secretário-executivo do banco para a Vale

Contratação ocorreu após mineradora ter obtido a maior linha de crédito já liberada pelo banco; Vale defende novo empregado

ROBERTO MACHADO
DA SUCURSAL DO RIO

O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) informou, ontem, que a Comissão de Ética Profissional da instituição vai convidar o funcionário Maurício Dias David para prestar esclarecimentos sobre o pedido que o economista fez à comissão: que investigue se houve irregularidade ou "quebra de ética" na licença obtida pelo ex-secretário-executivo da presidência do BNDES, Luciano Siani Pires, para trabalhar na Vale.
Segundo a assessoria, "a Comissão de Ética abriu um procedimento interno de averiguação e vai convidar o denunciante para apresentar as provas das denúncias que fez". Não está previsto convite semelhante para Siani Pires.
No domingo, dia 6, Pires encaminhou a diversas gerências e diretorias do BNDES uma mensagem eletrônica comunicando o seu novo destino profissional: a diretoria de Planejamento Estratégico da Vale, onde começou a trabalhar na última segunda-feira, dia 7. Na semana anterior, no dia 1º de abril, o BNDES colocou à disposição da Vale um financiamento de R$ 7,3 bilhões -a maior linha de crédito já concedida pelo banco.
Na mesma segunda-feira, David pediu, também por meio de mensagem eletrônica (copiada para diversos setores do banco), que a Comissão de Ética se pronunciasse sobre o caso e fez acusações a Pires. Para David, houve "grave quebra da ética que deve vigir no serviço público". Ele argumenta que o ex-secretário da presidência ocupava um cargo de alto-escalão no BNDES na véspera do anúncio do empréstimo -e que se transferiu para a Vale imediatamente após a concessão da linha de crédito. No quadro funcional do banco, Pires era superintendente, destacado para ocupar a Secretária-Executiva da Presidência.
A autorização da licença foi aprovada numa reunião da diretoria do BNDES, em março. Trata-se de uma "Licença para Trato de Interesse Particular", contando a partir do dia 1º de abril, com validade de dois anos. Em tese, depois desse período, Pires poderia retornar.
Procurado pela Folha, o novo diretor da Vale encaminhou o pedido de entrevista à assessoria de imprensa da companhia. Segundo a assessoria, Pires "é um ótimo profissional, com uma carreira de sucesso, e a Vale tem por política contratar sempre os melhores profissionais". Ele já era integrante do Conselho de Administração da mineradora, indicado pelo próprio BNDES.
Funcionário concursado, o engenheiro Luciano Siani Pires foi chefe do departamento de Gestão da Carteira de Ações e chegou a ocupar o posto de chefe de gabinete da Presidência na gestão de Demian Fiocca -que saiu do BNDES, cumpriu "quarentena" e hoje também é diretor da Vale. Já o economista Maurício David chegou a assessorar o ex-presidente do banco Carlos Lessa e hoje atua na área de Insumos Básicos.
A legislação federal não faz referência direta a casos como o da licença obtida por Pires e sua transferência para a Vale. Só estabelece a chamada quarentena para presidentes e diretores de estatais.


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