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São Paulo, sábado, 10 de maio de 2003

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MERCADO ANIMADO

Investidores inflam papéis brasileiros em busca de juros altos, mas já consideram ter ido longe demais

Mercado já desconfia de euforia emergente

DA REDAÇÃO

Um movimento global de caça a aplicações de elevada rentabilidade abriu as portas do mercado internacional para o Brasil, que paga juros muito superiores aos dos países desenvolvidos. Mas administradores de grandes fundos de investimentos já começam a alertar que a euforia tenha ido longe demais -e talvez já seja o momento de uma pausa.
"Houve uma corrida e tanto em um curto espaço de tempo, e não seria surpresa se houvesse uma pausa para recuperarmos o fôlego", disse Todd Henry, especialista de carteiras de investimentos em mercados emergentes da T. Rowe Price International.
Dados da consultoria EmergingPortfolio.com Fund Research demonstram que o fluxo de capital para os papéis emergentes já chega a US$ 1,556 bilhão somente neste ano, mais do que o dobro do total registrado em 2002.
Nos quatro primeiros meses do ano, de acordo com dados da consultoria norte-americana Lipper, os fundos de investimentos de papéis latino-americanos renderam em média 14,6%. Foi o melhor retorno registrado, entre 35 tipos de fundos pesquisados. Carteiras com ações dos EUA renderam 4%, enquanto fundos com papéis de empresas globais tiveram ganho médio inferior a 1%.
A América Latina tem se beneficiado da estagnação econômica nas principais economias do planeta e das preocupações quanto as efeitos da Sars (síndrome respiratória aguda grave) nas economias asiáticas. Os baixo juros pagos nos EUA, cujos títulos oferecem os menores retornos em quatro décadas, fazem investidores com mais apetite procurar aplicações de maior rentabilidade, ainda que de risco também maior.
Mas, com os expressivos ganhos conquistados, especialmente no Brasil, analistas consideram que já não existe espaço para valorizações significativas. Os C-Bonds, principais papéis brasileiros negociados no exterior, chegaram a ser negociados a menos da metade de seu valor de face no ano passado, e ontem bateram novo recorde histórico (US$ 0,91).
"Pode-se argumentar que em setembro do ano passado o ágio (risco-país) era excessivo. Mas parece que o pêndulo se moveu para além do que seria o valor justo, porque, no momento, estamos lidando com preços que indicariam condições quase perfeitas", disse Colin Lundgren, da American Express Asset Management. "Comprar um produto de alto retorno simplesmente porque todo o mundo está comprando com certeza me dá certo nervosismo."
No ano passado, houve uma aguda seca de crédito motivada pelos escândalos e concordatas envolvendo algumas das maiores companhias dos EUA.
Os latino-americanos tiveram a torneira ainda mais seca por causa da moratória argentina e do receio da vitória de Lula. Muito se falava que o Brasil iria quebrar, o financiamento externo evaporou, e o dólar chegou perto de R$ 4.
O novo governo conquistou credibilidade externa, a aversão ao risco arrefeceu e as torneiras voltaram a se abrir ao país. Prova disso foi a bem-sucedida emissão de US$ 1 bilhão em títulos da República, a primeira em um ano.
Os juros nos EUA e na Europa devem seguir baixos por mais algum tempo, como indicaram as autoridades monetárias nesta semana, o que continuará favorecendo o fluxo de capital especulativo para emergentes. Ainda assim, analistas consideram que os fundamentos macroeconômicos de alguns países já não justificam os preços de seus papéis.


Com agências internacionais


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