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LUÍS NASSIF
Os cineastas
e política cultural
O poder de "lobby" de alguns setores do cinema nacional foi exemplarmente demonstrado nesse episódio da
manifestação de alguns cineastas cariocas contra o que tacharam de "dirigismo cultural" do
governo na definição de critérios para a aplicação das verbas
culturais das estatais.
O pretexto para o carnaval armado foi a decisão de uma estatal -a Eletrobrás- de colocar
nas condições para patrocínio a
inclusão de temas sociais. Foi
uma decisão algo amadora, porém isolada. Por que esse carnaval todo?
O que está por trás disso é a
tentativa de manutenção de um
amplo processo de distorção na
alocação dos incentivos à cultura.
No plano privado, a falta de
diretrizes e normas adequadas
permitiu às grandes empresas
escoar, por meio da lei, suas despesas de marketing institucional. Nas estatais, o processo foi
pior. Deveriam, no mínimo, seguir políticas de governo. Por
tal, não se entenda atender demandas políticas, mas princípios de atuação, com regras claras de transparência e impessoalidade.
No ano passado, as verbas da
BR Distribuidora para o cinema
nacional superaram os R$ 50
milhões, muito mais que o dinheiro disponível do Ministério
da Cultura. E no que resultou
tudo isso? Certamente não em
uma indústria de cinema consolidada. Com todo o investimento sendo bancado pelo contribuinte, os cineastas pouco se importaram em buscar o retorno
nas bilheterias, em estimular a
organização de uma produção
profissionalizada. Não avançaram na montagem de estúdios,
na promoção comercial do filme
brasileiro no exterior.
Outra distorção extraordinária foi a apropriação do espaço
público por grupos privados.
Como as contribuições culturais
para acervos públicos acabam
caindo na vala comum dos cofres estaduais, foram constituídos clubes de amigos de diversas
instituições, que passaram a receber as verbas e a serem beneficiários da exploração comercial
de locais públicos.
Enquanto isso, a música popular brasileira, tendo penetração internacional, excelência,
podendo cumprir papel econômico de exportação, diplomático e comercial, jamais mereceu
política de governo.
É hora de pensar em correções
de rumo nessas políticas de incentivo. É imoral em um país
com as necessidades do Brasil
que casas de show, programas
de marketing de empresas e devaneios de cineastas sejam bancados quase integralmente com
dinheiro do contribuinte.
Dinheiro de incentivos das estatais deve se submeter a políticas públicas discutidas de forma
transparente. A idéia de trazer
para as estatais a experiência de
regulamentação adotada pela
Petrobras na gestão passada, como pretende a Secom, pode ser
útil.
Mas, para ser produtiva, seria
importante que a atual direção
da Petrobras abrisse os números
e divulgasse os projetos aprovados no passado. Talvez aí se possa entender como, dispondo de
todo esse mecanismo de transparência, além do famoso projeto Petrobrax (de troca de nome
da empresa), a companhia bancou um "projeto cultural" de R$
1,5 milhão para "remodelação
visual" (troca de placas) do parque Beto Carrero.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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