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FINANÇAS
Para autoridades monetárias, efeitos já são sentidos, como aumento nos juros pagos por emergentes e empresas
Menor apetite global por risco preocupa BCs
ÉRICA FRAGA
ENVIADA ESPECIAL A BASILÉIA
Representantes das autoridades
monetárias dos principais países
ricos e em desenvolvimento chegaram à conclusão ontem de que
é preciso muito cuidado e vigilância em relação à recente tendência
de menor apetite dos investidores
por risco. Afirmaram também
que esse movimento já tem levado a um aumento dos juros pagos
por mercados emergentes, como
o Brasil, e empresas para conseguirem financiamento.
Henrique Meirelles, presidente
do Banco Central, disse que o Brasil está bem preparado para enfrentar essas condições negativas.
Mas listou três principais possíveis perigos para o país neste momento: a continuação do aumento de aversão a risco, a alta das cotações de petróleo e a elevação dos
preços das demais commodities.
Questionado se os dois últimos
fatores poderiam ter impacto negativo sobre a inflação, ele se limitou a responder "vamos aguardar". Explicou, no entanto, que os
altos preços de petróleo são os
que tendem a ter impacto mais
negativo para o país, que é importador líquido do produto. Em relação às demais commodities,
afirmou que os efeitos de suas cotações elevadas são mistos, já que
o Brasil exporta muitas delas e importa outras.
Mas ele acrescentou que, de forma geral no mundo, o aumento
dos preços de insumos costuma
ter impacto negativo sobre o crescimento econômico. Por tudo isso, afirmou Meirelles, é recomendável aos emergentes que "mantenham atitude de maior cautela".
Mensagem similar havia sido
passada na manhã de ontem por
Jean Claude Trichet, presidente
do Banco Central Europeu (BCE)
e porta-voz do G10 -grupo dos
países mais desenvolvidos. Trichet afirmou que esse cenário de
menor apetite por risco ocorre em
razão de uma reavaliação dos fundamentos da economia global.
"Parece que tem havido uma reavaliação de riscos. [...] É um fenômeno que precisa ser observado
com muito cuidado.
Trichet lembrou ontem, logo
depois da reunião ocorrida na sede do BIS (Bank for International
Settlements), que várias instituições multilaterais já vinham chamando a atenção para o fato-
considerado perigoso-de que os
mercados financeiros talvez estivessem subavaliando os riscos para a economia global. A conseqüência disso era que as taxas de
juros cobradas para empréstimos, por exemplo, a países emergentes vinham muito baixas.
Ontem, representantes do G10 e
de países em desenvolvimento
que participaram do encontro na
Basiléia concordaram que esse cenário começa a mudar. Os maiores "spreads" (diferença entre as
taxas que países emergentes e empresas pagam para se financiar e
os juros pagos pelos títulos do Tesouro norte-americano) seriam
reflexo direto disso.
Crescimento
Apesar disso, Trichet reafirmou
ontem que um crescimento global em torno de 4% neste ano está
confirmado e que os mercados
emergentes, principalmente os
asiáticos, continuam contribuindo bastante para essa expansão.
Também disse que as expectativas de inflação em nível global estão sob controle. O petróleo, no
entanto, teria ajudado nos últimos meses a frear a expansão global e ainda representaria risco.
Meirelles afirmou que esse processo de reavaliação de riscos já
era esperado e que o Brasil vinha
se preparando para esse momento que, nas palavras dele, não representa "uma mudança dramática" do cenário internacional.
"Os "spreads" estavam muito
baixos e se esperava que, em algum momento, houvesse um reajuste desses "spreads'", disse.
Questionado sobre a possibilidade de aceleração da compra de
reservas internacionais para aumentar a proteção do país a choques externos, Meirelles disse que
o BC manterá o ritmo de aquisição de dólares dos últimos meses.
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