São Paulo, terça-feira, 10 de maio de 2005

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FINANÇAS

Para autoridades monetárias, efeitos já são sentidos, como aumento nos juros pagos por emergentes e empresas

Menor apetite global por risco preocupa BCs

ÉRICA FRAGA
ENVIADA ESPECIAL A BASILÉIA

Representantes das autoridades monetárias dos principais países ricos e em desenvolvimento chegaram à conclusão ontem de que é preciso muito cuidado e vigilância em relação à recente tendência de menor apetite dos investidores por risco. Afirmaram também que esse movimento já tem levado a um aumento dos juros pagos por mercados emergentes, como o Brasil, e empresas para conseguirem financiamento.
Henrique Meirelles, presidente do Banco Central, disse que o Brasil está bem preparado para enfrentar essas condições negativas. Mas listou três principais possíveis perigos para o país neste momento: a continuação do aumento de aversão a risco, a alta das cotações de petróleo e a elevação dos preços das demais commodities.
Questionado se os dois últimos fatores poderiam ter impacto negativo sobre a inflação, ele se limitou a responder "vamos aguardar". Explicou, no entanto, que os altos preços de petróleo são os que tendem a ter impacto mais negativo para o país, que é importador líquido do produto. Em relação às demais commodities, afirmou que os efeitos de suas cotações elevadas são mistos, já que o Brasil exporta muitas delas e importa outras.
Mas ele acrescentou que, de forma geral no mundo, o aumento dos preços de insumos costuma ter impacto negativo sobre o crescimento econômico. Por tudo isso, afirmou Meirelles, é recomendável aos emergentes que "mantenham atitude de maior cautela".
Mensagem similar havia sido passada na manhã de ontem por Jean Claude Trichet, presidente do Banco Central Europeu (BCE) e porta-voz do G10 -grupo dos países mais desenvolvidos. Trichet afirmou que esse cenário de menor apetite por risco ocorre em razão de uma reavaliação dos fundamentos da economia global. "Parece que tem havido uma reavaliação de riscos. [...] É um fenômeno que precisa ser observado com muito cuidado.
Trichet lembrou ontem, logo depois da reunião ocorrida na sede do BIS (Bank for International Settlements), que várias instituições multilaterais já vinham chamando a atenção para o fato- considerado perigoso-de que os mercados financeiros talvez estivessem subavaliando os riscos para a economia global. A conseqüência disso era que as taxas de juros cobradas para empréstimos, por exemplo, a países emergentes vinham muito baixas.
Ontem, representantes do G10 e de países em desenvolvimento que participaram do encontro na Basiléia concordaram que esse cenário começa a mudar. Os maiores "spreads" (diferença entre as taxas que países emergentes e empresas pagam para se financiar e os juros pagos pelos títulos do Tesouro norte-americano) seriam reflexo direto disso.

Crescimento
Apesar disso, Trichet reafirmou ontem que um crescimento global em torno de 4% neste ano está confirmado e que os mercados emergentes, principalmente os asiáticos, continuam contribuindo bastante para essa expansão. Também disse que as expectativas de inflação em nível global estão sob controle. O petróleo, no entanto, teria ajudado nos últimos meses a frear a expansão global e ainda representaria risco.
Meirelles afirmou que esse processo de reavaliação de riscos já era esperado e que o Brasil vinha se preparando para esse momento que, nas palavras dele, não representa "uma mudança dramática" do cenário internacional.
"Os "spreads" estavam muito baixos e se esperava que, em algum momento, houvesse um reajuste desses "spreads'", disse.
Questionado sobre a possibilidade de aceleração da compra de reservas internacionais para aumentar a proteção do país a choques externos, Meirelles disse que o BC manterá o ritmo de aquisição de dólares dos últimos meses.


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