São Paulo, terça-feira, 10 de maio de 2005

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INFRA-ESTRUTURA

Clientes querem investimento em trilhos

Governo terá de priorizar malha ou novos trens na Brasil Ferrovias

JANAÍNA LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

Colocar a Nova Brasil Ferrovias nos trilhos vai exigir do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) muito jogo de cintura. Os clientes da empresa, na maioria produtores de grãos de Mato Grosso, querem prioridade nos investimentos em trilhos e extensão da malha. Os sócios majoritários, governo e fundos de pensão, estão preocupados também em comprar vagões e locomotivas.
"Essa ferrovia só vai ser realmente viabilizada na hora em que chegar à cidade de Rondonópolis", disse à Folha o secretário de Infra-Estrutura de Mato Grosso, Luiz Antônio Pagot. "É lá que ela se tornaria competitiva para disputar com os caminhões o transporte de açúcar, álcool, proteínas e fibras, além dos grãos."
De acordo com o presidente da Brasil Ferrovias, Elias Nigri, a compra de vagões e locomotivas não concorre com os investimentos nas estradas de ferro. "Tudo é prioridade e será feito conforme planejado", disse ele. Questionado sobre o modelo de contrato, Nigri afirmou que seriam fechados por meio de licitações.
O problema é que o cobertor de recursos é curto para cobrir tantos investimentos. Antevendo o fato de que algum interesse será contrariado, Pagot decidiu negociar com os gestores da Nova Brasil Ferrovias. Os produtores mato-grossenses estariam dispostos a comprar vagões -como, aliás, vem fazendo- desde que o governo permita que banquem também a extensão da linha.
No traçado atual, a Nova Brasil Ferrovias vai de Santos (SP) a Alto Araguaia (MT), próxima à fronteira com Goiás. A intenção dos produtores -Bunge, Cargill, Grupo Amaggi e outros- é chegar à região sudeste de Mato Grosso. Isso facilitaria e baratearia o embarque para agricultores.
Na última sexta-feira, ao oficializar a decisão do governo de participar da operação de salvamento da antiga Brasil Ferrovias, o presidente do BNDES, Guido Mantega, anunciou que a empresa vai investir R$ 2,5 bilhões em trilhos, locomotivas e vagões.
O valor é mais que o dobro do que governo e fundos de pensão gastarão para reestruturar a Brasil Ferrovias -R$ 1,1 bilhão, entre dinheiro novo e abatimento de dívidas. Ao todo, a companhia tem dívidas estimadas em cerca de R$ 1,6 bilhão.
De olho nos contratos, os fabricantes de vagões já começaram a mexer os pauzinhos. O líder desse mercado é a Maxion Ioschpe. "Não temos nada acertado ainda, mas claro que vamos brigar", afirmou o empresário Ivoncy Ioschpe à Folha, pouco depois de ter sido elogiado pelo presidente da República, durante a cerimônia da última sexta-feira.
Na cola de Ioschpe, estão outros produtores: Usimec, braço da Usiminas que cuida do negócio, e o consórcio Metalmec. Baseado no Espírito Santo, ele conta com sócios capixabas, japoneses e chineses. Na página eletrônica da empresa, a Brasil Ferrovias já até aparece como cliente.
Quem dá uma olhada na intenção de compra da ferrovia entende o motivo da animação no mercado. De acordo com o plano de reestruturação, informado por um técnico da Brasil Ferrovias, ao todo serão adquiridos 6.026 vagões até 2009. A maior parte está concentrada em 2006, quando a empresa pretende adquirir 1.789 vagões.
Quanto às locomotivas, o apetite também é grande. Em um prazo de cinco anos, a intenção é a de que a frota ganhe 290 unidades de reforço. O ano que vem também é o mais vigoroso para a compra. Em 2006, a intenção é comprar 126 locomotivas. O mais provável é que sejam importadas dos Estados Unidos.


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