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TELEFONIA
SDE e Ministério Público também devem analisar prática de concorrência desleal contra a Vésper; multa pode ser recorde
Anatel investiga espionagem da Telemar
FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL
A Anatel (Agência Nacional de
Telecomunicações) decidiu ontem investigar as ações de rastreamento e anticoncorrência da Telemar contra a concorrente Vésper/Embratel em 16 Estados.
A Anatel solicitou oficialmente
à Telemar e à Vésper informações
sobre caso publicado pela Folha
em sua edição de domingo.
A reportagem mostrou, com
base em documentos da própria
Telemar, que a empresa vem rastreando seus clientes e os da Vésper interessados em mudar para a
concorrente. Depois de identificados, os usuários recebem ofertas
chamadas de "matadoras" para
serem "blindados" e não trocarem de empresa. O rastreamento
ocorre desde maio de 2002.
O Ministério Público do Rio e a
SDE (Secretaria de Direito Econômico) também solicitaram à Folha cópias dos documentos que
embasaram a reportagem.
A Embratel, que adquiriu a Vésper no final de 2003, informou
ontem que o departamento jurídico da empresa está analisando o
caso para tomar providências.
Dependendo do conteúdo das
informações enviadas pelas operadoras à Anatel, a agência reguladora poderá abrir um processo
administrativo que pode resultar
em multa.
Em caso de uma representação
da Embratel (ou de qualquer outra pessoa) contra a Telemar na
SDE, o órgão deverá iniciar investigação e encaminhar o processo
ao Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica). O Cade
deverá então julgar o caso e aplicar uma multa.
Segundo Ruy Coutinho, ex-presidente do Cade (1992-96) e ex-secretário de Direito Econômico
(96-99), as práticas da Telemar reveladas pela Folha desrespeitam
pelo menos cinco pontos do artigo 20 da Lei Antitruste (8.884).
Coutinho também foi presidente
da comissão que redigiu o anteprojeto da lei, aprovada em 1994.
A Telemar, afirma Coutinho, teria infringido vários pontos da lei
ao: 1) limitar ou prejudicar a livre
concorrência; 2) dominar mercado relevante de bens ou serviços;
3) aumentar arbitrariamente os
lucros (como conseqüência do
item anterior) e; 4) exercer de forma abusiva posição dominante.
Coutinho considerou "não-convincente" a defesa apresentada pela Telemar (leia texto ao lado) e afirmou que a empresa pode
esperar um processo "ruidoso e
complicado" pela frente.
"O fato de a Telemar controlar
boa parte da infra-estrutura nas
regiões onde atua e ter uma posição dominante de mercado agrava a situação", diz. A Lei Antitruste considera ter posição dominante empresa ou grupo que detenha mais de 20% do mercado.
O ex-presidente do Cade disse
que a multa com base na Lei Antitruste pode chegar a 30% do valor
do faturamento bruto da empresa. A receita bruta da Telemar
atingiu R$ 22,1 bilhões no ano
passado. Mesmo que fosse multada em 1% do faturamento, por
exemplo, a empresa teria de pagar
R$ 220 milhões.
A maior multa já paga por uma
empresa por decisão do Cade foi
aplicada à White Martins, em junho de 2002. Atingiu R$ 22 milhões e correspondeu a 5% do faturamento da companhia.
Segundo o promotor Rodrigo
Terra, o Ministério Público do Rio
pretende acionar a Telemar, que
tem sede no Rio, com base no Código de Defesa do Consumidor.
Além de atacar a concorrente
Vésper com práticas consideradas ilegais, a Telemar usa "filtros
de crédito" como consultas ao
SPC e à Serasa para discriminar
novos usuários de telefone fixo.
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