São Paulo, terça-feira, 10 de maio de 2005

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LIGAÇÕES PERIGOSAS

Juiz em NY prorroga prazo de vigência de liminar; Citi questiona valor que banqueiro tem a receber

Acordo Dantas/Telecom Italia segue suspenso

PEDRO DIAS LEITE
DE NOVA YORK

A Justiça de Nova York decidiu ontem prorrogar o prazo de vigência da liminar que suspende negócio de US$ 447 milhões entre o banqueiro Daniel Dantas e a Telecom Italia. O acordo entre o brasileiro e a companhia italiana continua suspenso ao menos até as 17h de sexta-feira, mas o juiz deve decidir hoje se mantém a decisão até a próxima audiência, agendada para o dia 19.
Na quarta-feira passada, o tribunal já havia concedido a liminar, que, na prática, inviabiliza a volta dos italianos ao bloco de controle da Brasil Telecom.
O Citigroup, que move a ação contra Dantas em Nova York, argumenta que o acordo tem algo escuso e, além disso, descumpre decisão da corte norte-americana do mês passado, que proibia Dantas de fazer negócios que venham a prejudicar a telefônica brasileira, em que o banco norte-americano tem grande participação.
Ontem, no tribunal em Nova York, os advogados do Citi finalmente disseram o que vêem de errado no acordo.
Segundo os norte-americanos, dos US$ 447 milhões que Dantas vai receber da Telecom Italia, US$ 297 milhões são pelas ações do brasileiro, dono do Opportunity, na Brasil Telecom. Acontece que o valor de mercado desses papéis, que são negociados na Bolsa, estava perto de US$ 100 milhões no final do mês passado.
É nessa diferença de quase US$ 200 milhões que o Citi vê algo errado: por que os italianos pagariam tanto a mais?, questiona o banco, em sua tentativa de barrar a venda das ações.
Os advogados de Dantas conseguiram ontem, ao menos, que o juiz ouça novas testemunhas no processo na próxima audiência, no dia 19. Mas, durante quase todo o julgamento, o juiz Lewis Kaplan foi muito duro com os advogados do brasileiro. "Fala sério, eu já advogava provavelmente antes de você nascer, então podemos ir ao que interessa?", disse o magistrado a certa altura, quando o advogado Philip Korogolos tentava provar seu argumento.
Em outro momento, o juiz comparou a venda das ações do Opportunity à Telecom Italia com alguém que compra um pretzel de US$ 0,25 por US$ 100.
A certa altura, chegou a insinuar que a defesa não estava preparada para o caso. Os advogados de Dantas, a todo momento, interrompiam o que estava falando para conversar. Em alguns momentos, hesitavam. A única pessoa do Opportunity presente era o número dois do banco, Artur Carvalho. Ele não quis falar com os repórteres após o julgamento.

Legítimo
Os advogados de Dantas tentaram convencer o juiz de que o acordo é legítimo e não fere nenhum direito do Citi, que não teria por que contestar a transação. Além disso, argumentam que o grupo norte-americano só é contra o acordo porque buscava ele próprio um acerto semelhante com os italianos.
O Citi detém cerca de 45% das ações da Brasil Telecom. Outros 45% são controlados pelos fundos de pensão brasileiros, e o Opportunity, de Dantas, fica com os 10% restantes. Por uma teia de acordos legais no Brasil e no exterior, o banqueiro brasileiro controlava a empresa até o início deste ano, quando a insatisfação dos parceiros foi tanta que conseguiram retirá-lo na Justiça. Mesmo com as decisões que determinam seu afastamento, rivais dizem que Dantas usa a intrincada estrutura legal que criou para se beneficiar.
Além da batalha jurídica nos EUA, Dantas enfrenta contestações dos fundos de pensão brasileiros na Justiça de seu país.


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