São Paulo, quarta-feira, 10 de maio de 2006

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CRISE NO AR

Credores adotam proposta que prevê 2 possibilidades de divisão a serem escolhidas pelo mercado; banco financia US$ 100 mi

Varig aprova cisão com o apoio do BNDES

JANAINA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO

Os credores da Varig aprovaram ontem em assembléia uma proposta unificada da empresa e dos funcionários representados pelo TGV (Trabalhadores do Grupo Varig) de leilão de uma parte da empresa dentro de um prazo estimado em, no mínimo, 60 dias.
A proposta contou com a aprovação das três classes de credores, que incluem funcionários, empresas de leasing e empresas estatais. E conta com apoio de US$ 100 milhões do BNDES.
Serão dois modelos distintos de venda de ativos da Varig. Na prática, quem vai definir o futuro da empresa é o mercado, por meio das ofertas a serem apresentadas em leilão.
O primeiro modelo prevê a venda da chamada Varig Operações, a parcela da companhia que reúne seus principais ativos, como rotas domésticas e internacionais. O lance mínimo inicial é estimado em US$ 860 milhões. Nesse modelo, as dívidas da empresa, estimadas em R$ 7 bilhões, seriam alocadas na Varig Relacionamento, uma parcela voltada para a venda de passagens, promoção de ações de marketing e de relacionamento com o cliente, que continuaria em recuperação judicial. Os credores da companhia aérea participam da administração dessa fatia da Varig por meio de um fundo de investimento e participações, que tem como gestor o banco Brascan.
O segundo modelo de venda oferece a Varig Regional ou Varig Doméstica aos investidores. Essa parcela é livre de dívidas e tem lance inicial estimado em US$ 700 milhões. Nesse caso, a Varig Internacional, que fica com a dívida, seguiria em recuperação judicial.
O aspecto preponderante do leilão é o valor da oferta. Se uma das ofertas para a Varig Doméstica for superior às realizadas para a Varig Operacional, vende-se a fatia nacional da companhia.

BNDES
Para sobreviver até a data do leilão, que deve ocorrer em no mínimo 60 dias, a Varig vai receber um financiamento de US$ 100 milhões. Os recursos virão do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), mas não serão liberados diretamente à companhia aérea.
Segundo Marcelo Gomes, diretor da Alvarez & Marsal (contratada para conduzir o processo de reestruturação), o banco vai convocar as empresas interessadas em receber o financiamento, que será repassado para a Varig.
Se a empresa que assumiu o financiamento não vencer o leilão, terá direito a uma remuneração de 200% do CDI (Certificado de Depósito Interbancário). O BNDES deverá financiar até 50% da operação de compra de uma das parcelas da Varig.
O presidente da Varig, Marcelo Bottini, afirmou que a decisão da assembléia marca uma nova etapa para a companhia. "A Varig por muito tempo foi conhecida por ter correntes distintas, vários grupos advogando a sua solução. Tivemos uma proposta única aprovada em assembléia, e isso é um marco", disse. A apresentação dessa proposta única resultou de uma longa negociação entre o TGV e a administração da Varig, representada pela consultoria Alvarez & Marsal.
Desde o início, os funcionários representados pelo TGV foram contrários à cisão da empresa em operações domésticas e internacionais. Afirmam que a companhia com vôos para o exterior não teria condições de sobreviver sem uma "alimentadora", uma empresa que operasse os trechos domésticos. "Temos preocupação com a hipótese de vingar a venda da unidade produtiva regional. É preciso ter muito cuidado no fechamento dos contratos para não prejudicar a viabilidade da Varig Internacional", disse Bottini.
Segundo Marcelo Gomes, as relações entre as duas fatias da Varig serão regidas por acordos operacionais. "Haverá um acordo operacional que prevê tanto code-share [compartilhamento de vôos] como fretamento. O investidor que adquirir a Varig Doméstica fica ligado como um alimentador da Internacional", disse.
A oferta do consultor Jayme Toscano, de US$ 1,9 bilhão, também foi apresentada, mas não teve votos válidos entre empresas de leasing e estatais porque não demonstrava a origem dos recursos. Toscano chegou a ser questionado formalmente por um dos credores: "Quem é o senhor? De onde vem o dinheiro?" Mas não teve resposta.


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