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Verba contida vai para fundo soberano
Aumento do superávit primário seria mantido até fim do governo, e formação de fundo poderia fortalecer o dólar
Contenção maior de gastos poderia também reduzir ímpeto do BC de elevar juros para combater pressões inflacionárias crescentes
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez reunião na quarta-feira de manhã no Palácio do
Planalto com conselheiros econômicos para discutir a elevação da meta de superávit primário (economia para abater a
dívida pública) dos atuais 3,8%
para 5% do PIB. Segundo apurou a Folha, a idéia é aumentar
o aperto fiscal para combater a
inflação, tentar amenizar a alta
dos juros e financiar investimentos brasileiros no exterior.
Neste ano, essa economia extra seria de R$ 34 bilhões.
A proposta prevê a elevação
do superávit primário até o final do mandato de Lula, em 31
de dezembro de 2010. O percentual que exceder os atuais
3,8% do PIB seria usado para
financiar o chamado fundo soberano -sob controle da Fazenda para comprar dólares e
investir em projetos de empresas brasileiras no exterior.
A intenção de Lula é tomar
uma decisão no final deste mês,
antes da reunião do Copom
(Comitê de Política Monetária
do Banco Central), em 3 e 4 de
junho. Nessa reunião, o BC deve elevar de novo a taxa básica
de juros, hoje em 11,75% ao
ano. O presidente avalia que, se
elevar o superávit, o BC poderá
ser mais ameno ao combater o
risco de inflação com novo aumento de juros, já que o consumo do governo seria reduzido.
A idéia foi dada pelo economista Luiz Gonzaga Belluzzo,
que viajou com Lula anteontem à noite para Salvador para
dar mais detalhes da proposta.
Belluzzo defende uma elevação
do superávit primário entre 1 e
1,5 ponto percentual, o que, no
limite, poderia levar o superávit a até 5,3% do PIB. No entanto, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, prefere trabalhar
com o limite de 5% do PIB.
Mantega e o presidente do
BC, Henrique Meirelles,
apóiam a proposta. Belluzzo,
Mantega e Meirelles participaram da reunião de quarta, na
qual estavam o presidente do
BNDES, Luciano Coutinho, e o
ministro da Comunicação Social, Franklin Martins.
Preocupado com o risco de
inflação e com a recente retomada de um processo de alta
dos juros para combater a elevação dos preços, Lula cobrou
medidas de Mantega. Belluzzo,
identificado com a linha desenvolvimentista, pregou maior
aperto fiscal para evitar que a
política monetária do BC seja
ainda mais rigorosa. Seria uma
forma de dar maior coordenação às políticas fiscal e monetária, agradando ao mercado.
Em fevereiro, uma sugestão
de Belluzzo foi aceita e implementada por Lula: medidas para tentar a valorização do real,
como a criação do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) para investidores externos
que compram títulos da dívida
pública brasileira.
Dilma resiste
Mantega já pediu ajuda ao
ministro do Planejamento,
Paulo Bernardo, que tente convencer Lula e a ministra Dilma
Rousseff (Casa Civil) a apoiarem a medida. Dilma se opôs a
tentativas anteriores de elevar
o superávit.
Os recursos para a elevação
do superávit primário viriam
do crescimento da arrecadação
de impostos e de corte de gastos. Lula já disse que deseja
preservar o PAC (Programa de
Aceleração do Crescimento) de
eventuais cortes.
Mantega e Belluzzo tentam
persuadir Lula de que ele poderá resolver ou minimizar vários
problemas da economia brasileira se elevar o superávit primário num modelo combinado
de criação do fundo soberano.
Esses problemas seriam: risco de inflação, real em alta na
comparação com o dólar e necessidade de fundos para financiar projetos privados do Brasil
em países vizinhos e na África.
Em recente viagem a Gana, Lula soube que a China financiaria obra de infra-estrutura no
país. Na volta, disse a auxiliares
que o Brasil deveria fazer esse
tipo de financiamento.
Como haveria maior aperto
fiscal, a demanda interna não
seria estimulada. Ou seja, ocorreria menos pressão inflacionária. O BC, então, poderia ser
menos rigoroso ao elevar os juros. A cada aumento da Selic, há
estímulo à entrada de dólar,
porque a taxa real brasileira já é
a mais alta do mundo e vale a
pena o investidor trocar dólares para investir em reais. Além
disso, aumenta o custo da dívida pública.
Com o fundo soberano, o Tesouro compraria a moeda americana e ajudaria, ainda que levemente, a reduzir a quantidade de dólares no mercado.
Esse fundo financiaria o pacote de ajuda que o Brasil quer
dar ao Paraguai. O presidente
eleito do Paraguai, Fernando
Lugo, quer rever o preço da
energia que o Brasil paga ao seu
país no tratado da usina binacional de Itaipu. O pacote de
ajuda de infra-estrutura seria
uma forma de evitar a revisão
do preço e um encarecimento
da energia para o consumidor
brasileiro.
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