|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Acordo antipirataria pode frear desenvolvimento, diz especialista
Pedro Roffe, de instituto europeu, alerta para efeitos de pacto de países ricos
LUCIANA COELHO
DE GENEBRA
O Acta (acordo comercial antipirataria, na sigla em inglês),
tratado que vem sendo negociado sob sigilo pelos EUA, a
União Europeia e mais nove
países, tende a restringir o comércio global e o desenvolvimento, avalia um dos principais especialistas no tema.
Para o chileno Pedro Roffe,
supervisor do Programa de
Propriedade Intelectual e Desenvolvimento do Centro Internacional para Comércio
Sustentável e Desenvolvimento, em Genebra, o acordo tem
como risco maior frear países
em desenvolvimento ao reproduzir, antes da hora, o modelo
de patentes dos desenvolvidos.
Em entrevista à Folha, Roffe,
que trabalhou por 30 anos no
Unctad (braço de comércio e
desenvolvimento da ONU), diz
que "não há dúvida de que o
propósito inicial seja consolidar avanços obtidos por esses
países com acordos bilaterais
em termos de observância",
afirma. Entre eles, a apreensão
de cargas de terceiros sob suspeita de falsificação.
FOLHA - O sr. espera que o Acta seja
concluído neste ano?
PEDRO ROFFE - Não. No texto que
acaba de ser divulgado falta
muito a ser negociado.
FOLHA - Mas dá para ter ideia de
que tipo de acordo será.
ROFFE - Os EUA e a UE manifestam há tempo o desejo de
avançar nos Trips [acordo sobre propriedade intelectual da
Organização Mundial do Comércio], que não criam um sistema judicial especial sobre observância -cada país o faz segundo seu sistema legal.
Buscam isso em tratados bilaterais, sobretudo com países
em desenvolvimento. O projeto
do Acta, não há dúvida, tem como propósito inicial consolidar
os avanços que foram obtidos.
FOLHA - Como isso afeta os países
em desenvolvimento?
ROFFE - Apesar de só servir para os signatários, ele vai fixar
padrões. E quando os EUA ou a
UE discutirem algum acordo de
livre comércio com outros países, vão incluir o Acta como
obrigação. Também há as medidas de fronteira, o trânsito de
genéricos. O Acta consolida esses princípios. É um risco sério
para os países emergentes.
FOLHA - Medidas assim podem ser
contestadas na OMC. Isso não cria
uma dubiedade?
ROFFE - Vai ser um problema
jurídico. Há risco que, no futuro, o Acta possa influir na legislação dos signatários, com impacto no comércio exterior.
FOLHA - Por que o acordo não trata
da melhor distribuição de conteúdo
na internet?
ROFFE - Excelente ponto. Eles
estão em contradição. Em princípio algo assim deveria facilitar o comércio, mas com essa
tendência protecionista estão
colocando obstáculos.
FOLHA - O Acta pode restringir o
comércio?
ROFFE - É o risco maior, pois os
países desenvolvidos têm instrumentos de salvaguarda fortes, que equilibram. Quando isso é exportado a outros, o comércio pode ser afetado.
O reforço da propriedade intelectual quando um país se desenvolve é aceitável. Mas cada
um [deveria] decidir segundo
seu grau de desenvolvimento.
FOLHA - Isso pode bloquear o desenvolvimento?
ROFFE - É a crítica que se faz.
Afinal, antes esses países tinham regras para a cópia legítima, que permitiu o desenvolvimento de sua indústria. Agora
estão obrigando países que ainda estão se desenvolvendo a
adotar os mesmos padrões.
Texto Anterior: Frase Próximo Texto: Folhainvest Entrar na Bolsa requer seleção cuidadosa Índice
|