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Brechó carioca socorre "pobres envergonhados"
Grupo no Rio vende roupas para ajudar aqueles que "perderam tudo rapidamente'
"Pobres cadastrados" são tratados por números, para evitar constrangimentos; roupas vêm de doações, pois o grupo não aceita dinheiro
AUDREY FURLANETO
DA SUCURSAL DO RIO
"Quem é o "pobre envergonhado'?", pergunta o panfleto
do grupo Apoio Fraternal. "É o
que possuiu bens de fortuna e
agora luta com a miséria. É o
chefe de família remediada,
surpreendido pelo desemprego. É o velhinho sem pecúlio ou
a viúva pobre que já desfrutaram de certa posição social."
O grupo que ajuda os "ex-ricos" mantém um brechó num
casarão em Laranjeiras, bairro
da zona sul do Rio.
Na tarde de sexta-feira circulavam pelas salas da casa jovens
descolados e senhoras à procura de roupas -de raposas e casacos de pele a conjuntinhos
Valentino, vestidos de festa
com pedraria (a R$ 30) e calças
jeans (a R$ 2 cada).
"Não podemos falar em "pobreza envergonhada'", afirma a
presidente do Apoio Fraternal,
Neusa Marins de Castro, 70.
Ela trabalha há 16 anos no brechó, que tem ainda móveis, livros e bijuterias.
"Dizem que é um termo feio.
Você acha? Eu não. São pessoas
que perderam tudo rapidamente. Sair do [status] ruim para o
bom é tranquilo, mas sair do
bom para o ruim é terrível", explica Marins de Castro.
O grupo tem 60 "pobres envergonhados" cadastrados. Todos são tratados por números,
para não precisar se identificar.
As roupas doadas ao brechó são
vendidas e a arrecadação é
transformada em remédios e
em outros benefícios para as famílias cadastradas. "Dinheiro
não!", diz a presidente.
Para ser aceito no grupo, o
"pobre envergonhado" deve escrever uma carta contando sua
ascensão e declínio. Em reuniões mensais, os cerca de 50
voluntários analisam as histórias e decidem quem se enquadra no perfil.
"O que mais vemos aqui são
famílias de uma classe média
quebrada, pessoas que tinham
apartamento próprio e, de repente, sofreram um revés na vida", conta Castro.
Além dos remédios, roupas e
assistência médica, o ex-rico
ganha "auxílio moral" do visitante do grupo -"ele visita,
conforta, consola, ensina,
orienta"- e "conforto espiritual", por meio de "bons conselhos" e orações na capela nos
fundos do casarão.
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