São Paulo, Segunda-feira, 10 de Maio de 1999
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GLOBALIZAÇÃO
Empresas devem ter programas prevendo maior produção sem corte de pessoal
Nova administração descarta demissões

ANTONIO CARLOS SEIDL
da Reportagem Local

Os programas de administração de custos das empresas devem deixar de ser sinônimo de demissões em massa, passando a significar mais produção, mais eficiência, aumento de vendas e manutenção do nível de emprego.
A opinião é do professor Robert Kaplan, 60, da respeitável Harvard Business School (Estados Unidos), uma das maiores autoridades acadêmicas em gestão de custos. Dois de seus sistemas -o ABC, das iniciais em inglês de "custo baseado em atividade", e o "balanced scorecard", um método de medição dos desempenhos financeiro e não-financeiro das empresas, estão entre os mais utilizados em todo o mundo.
"É preciso olhar para o lado positivo da administração de custos. As empresas, à medida que se tornam mais eficientes e mais competitivas, podem alcançar mais consumidores e mais mercados nacionais e internacionais, sem, necessariamente, reduzir o nível de emprego", afirma o professor.
Para ele, a abertura comercial e a globalização econômica tornam, cada vez mais, imperativa a adoção de ferramentas de controle de custos para melhorar o desempenho das empresas.
Kaplan deu a entrevista que se segue à Folha durante sua presente visita ao Brasil. Na semana passada, apresentou o seminário "A revolução dos custos e do desempenho", promovido pela HSM Eventos Internacionais, com a presença de 700 executivos financeiros, em São Paulo.
Hoje e amanhã, Kaplan participa de seminários na Câmara Americana de Comércio, de São Paulo.

Folha - Como o processo de globalização econômica afeta a administração de custos das empresas brasileiras?
Robert Kaplan -
Torna o controle de custos muito mais importante. As empresas brasileiras, acostumadas a operar numa economia fechada à competição externa até o início desta década, podiam repassar suas ineficiências e seus altos custos para os preços e os consumidores tinham pouca escolha. Mas com a abertura dos mercados e a competição global, as empresas brasileiras, para sobreviver, têm de igualar as suas estruturas de custos às estruturas de custos das melhores empresas do mundo. O mundo globalizado não tolera ineficiência e desperdício.
Folha - Como o sr. avalia as estruturas de custos das empresas brasileiras?
Kaplan -
O Brasil, felizmente, parece ter deixado para trás a era de alta inflação, que tornava impossível entender o comportamento dos custos empresariais no país. A estrutura de custos era fortemente influenciada pelo rápido aumento dos preços. As estruturas de custos estavam excessivamente inchadas e as operações eram ineficientes. Com a eliminação da inflação, as empresas não podem mais transferir os custos para os preços. As empresas têm de entender e atacar seus custos.
Folha - Como os dois sistemas de gestão de custos desenvolvidos pelo senhor, em conjunto com outros especialistas da Harvard Business School, podem ajudar as empresas brasileiras?
Kaplan -
Os dois sistemas são complementares. O "balanced scorecard" nos diz onde devemos competir, que clientes devemos conquistar, o que é preciso fazer para criar valor para os clientes. O ABC mostra como estamos ganhando dinheiro com esses clientes. Foram criados, há cerca de dez anos, para resolver problemas de indústrias norte-americanas que estavam enfrentando a concorrência de empresas com atuação mundial, principalmente japonesas. Mais tarde, as mesmas técnicas foram aplicadas com sucesso por empresas prestadoras de serviços, tais como bancos e companhias de seguros.
Folha - Mas, no Brasil, a mera menção de programas de reestruturação de custos provoca temores de demissões em massa. Há uma correlação direta entre controle de custos e redução do nível de emprego?
Kaplan -
Quando uma empresa torna seus processos mais eficientes, ela pode alcançar o mesmo nível de produção com menos recursos, sejam esses recursos pessoas ou máquinas. As empresas podem tanto reduzir o número de seus empregados quanto -e essa é a solução preferível, em resposta ao aumento da produtividade e da eficiência- expandir a produção e vender mais nos mercados locais, regionais e também nos internacionais.
Folha - Quais são os principais resultados que as empresas brasileiras podem esperar da aplicação eventual de seus métodos de controle de custos?
Kaplan -
A maior visibilidade dos custos, que passam a ser alvo de medidas de aperfeiçoamento de processos. O método revela também que um significativo número de produtos ou de clientes pode estar na base de muitos prejuízos. O ABC tem a ver com custos, fornecendo um modelo preciso de determinação de custos e mostrando que fatores influenciam cada custo. Já o "balanced scorecard" ajuda a compreender os fatores que influenciam a receita de cada empresa.
Folha - Quando uma empresa deve adotar sistemas específicos de controle de custos?
Kaplan -
O controle dos custos é necessário para quem quer sobreviver e progredir no mundo global. O objetivo deve ser tornar-se mais produtivo e mais eficiente para atingir mais mercados e mais consumidores.
Folha - As empresas e os empregados devem temer a adoção de sistemas de gestão de custos?
Kaplan -
É por isso que não chamo de redução ou de controle de custos. Chamo de melhoria operacional ou de melhoria de processos. A idéia é melhorar a gestão dos custos para aprimorar e tornar mais eficientes os processos de produção e de atendimento ao cliente.


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