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GLOBALIZAÇÃO
Empresas devem ter programas prevendo maior produção sem corte de pessoal
Nova administração descarta demissões
ANTONIO CARLOS SEIDL
da Reportagem Local
Os programas de administração
de custos das empresas devem deixar de ser sinônimo de demissões
em massa, passando a significar
mais produção, mais eficiência,
aumento de vendas e manutenção
do nível de emprego.
A opinião é do professor Robert
Kaplan, 60, da respeitável Harvard
Business School (Estados Unidos),
uma das maiores autoridades acadêmicas em gestão de custos. Dois
de seus sistemas -o ABC, das iniciais em inglês de "custo baseado
em atividade", e o "balanced scorecard", um método de medição
dos desempenhos financeiro e
não-financeiro das empresas, estão entre os mais utilizados em todo o mundo.
"É preciso olhar para o lado positivo da administração de custos.
As empresas, à medida que se tornam mais eficientes e mais competitivas, podem alcançar mais consumidores e mais mercados nacionais e internacionais, sem, necessariamente, reduzir o nível de emprego", afirma o professor.
Para ele, a abertura comercial e a
globalização econômica tornam,
cada vez mais, imperativa a adoção
de ferramentas de controle de custos para melhorar o desempenho
das empresas.
Kaplan deu a entrevista que se
segue à Folha durante sua presente
visita ao Brasil. Na semana passada, apresentou o seminário "A revolução dos custos e do desempenho", promovido pela HSM Eventos Internacionais, com a presença
de 700 executivos financeiros, em
São Paulo.
Hoje e amanhã, Kaplan participa
de seminários na Câmara Americana de Comércio, de São Paulo.
Folha - Como o processo de globalização econômica afeta a administração de custos das empresas
brasileiras?
Robert Kaplan - Torna o controle
de custos muito mais importante.
As empresas brasileiras, acostumadas a operar numa economia
fechada à competição externa até o
início desta década, podiam repassar suas ineficiências e seus altos
custos para os preços e os consumidores tinham pouca escolha.
Mas com a abertura dos mercados
e a competição global, as empresas
brasileiras, para sobreviver, têm de
igualar as suas estruturas de custos
às estruturas de custos das melhores empresas do mundo. O mundo
globalizado não tolera ineficiência
e desperdício.
Folha - Como o sr. avalia as estruturas de custos das empresas brasileiras?
Kaplan - O Brasil, felizmente, parece ter deixado para trás a era de
alta inflação, que tornava impossível entender o comportamento
dos custos empresariais no país. A
estrutura de custos era fortemente
influenciada pelo rápido aumento
dos preços. As estruturas de custos
estavam excessivamente inchadas
e as operações eram ineficientes.
Com a eliminação da inflação, as
empresas não podem mais transferir os custos para os preços. As empresas têm de entender e atacar
seus custos.
Folha - Como os dois sistemas de
gestão de custos desenvolvidos
pelo senhor, em conjunto com outros especialistas da Harvard Business School, podem ajudar as empresas brasileiras?
Kaplan - Os dois sistemas são
complementares. O "balanced
scorecard" nos diz onde devemos
competir, que clientes devemos
conquistar, o que é preciso fazer
para criar valor para os clientes. O
ABC mostra como estamos ganhando dinheiro com esses clientes. Foram criados, há cerca de dez
anos, para resolver problemas de
indústrias norte-americanas que
estavam enfrentando a concorrência de empresas com atuação mundial, principalmente japonesas.
Mais tarde, as mesmas técnicas foram aplicadas com sucesso por
empresas prestadoras de serviços,
tais como bancos e companhias de
seguros.
Folha - Mas, no Brasil, a mera
menção de programas de reestruturação de custos provoca temores
de demissões em massa. Há uma
correlação direta entre controle de
custos e redução do nível de emprego?
Kaplan - Quando uma empresa
torna seus processos mais eficientes, ela pode alcançar o mesmo nível de produção com menos recursos, sejam esses recursos pessoas
ou máquinas. As empresas podem
tanto reduzir o número de seus
empregados quanto -e essa é a
solução preferível, em resposta ao
aumento da produtividade e da
eficiência- expandir a produção
e vender mais nos mercados locais,
regionais e também nos internacionais.
Folha - Quais são os principais resultados que as empresas brasileiras podem esperar da aplicação
eventual de seus métodos de controle de custos?
Kaplan - A maior visibilidade dos
custos, que passam a ser alvo de
medidas de aperfeiçoamento de
processos. O método revela também que um significativo número
de produtos ou de clientes pode estar na base de muitos prejuízos. O
ABC tem a ver com custos, fornecendo um modelo preciso de determinação de custos e mostrando
que fatores influenciam cada custo. Já o "balanced scorecard" ajuda
a compreender os fatores que influenciam a receita de cada empresa.
Folha - Quando uma empresa deve adotar sistemas específicos de
controle de custos?
Kaplan - O controle dos custos é
necessário para quem quer sobreviver e progredir no mundo global.
O objetivo deve ser tornar-se mais
produtivo e mais eficiente para
atingir mais mercados e mais consumidores.
Folha - As empresas e os empregados devem temer a adoção de
sistemas de gestão de custos?
Kaplan - É por isso que não chamo de redução ou de controle de
custos. Chamo de melhoria operacional ou de melhoria de processos. A idéia é melhorar a gestão dos
custos para aprimorar e tornar
mais eficientes os processos de
produção e de atendimento ao
cliente.
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