São Paulo, Segunda-feira, 10 de Maio de 1999
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TELECOMUNICAÇÕES
Privatização acaba com empresa concebida para atuar na África; nenhum projeto foi executado desde 97
Império luso-brasileiro de teles fracassa

ELVIRA LOBATO
da Sucursal do Rio

Dois anos depois de ter sido anunciada com pompa em Lisboa, chega ao fim a "Aliança Atlântica", empresa concebida pelos governos do Brasil e de Portugal com a pretensão de criar um império telefônico luso-brasileiro em países africanos de língua portuguesa.
A criação da empresa, em maio de 1997, envolveu investimentos totais (pelos dois países) de US$ 160 milhões.
Ela seria um braço internacional da Telebrás e da Portugal Telecom, que, na época, eram monopólios estatais.
Com sede prevista na Holanda, seu primeiro investimento seria a compra de 10% do capital da telefônica de Cabo Verde, administrada pela Portugal Telecom.
Com a privatização da Telebrás, em julho do ano passado, a "Aliança Atlântica" perdeu o sentido, admitiu à Folha, em entrevista exclusiva, o presidente da Portugal Telecom, Francisco Murteira Nabo. Ele disse que a empresa está sendo extinta sem ter executado nenhum projeto.

Ações
Por orientação do então ministro das Comunicações, Sérgio Motta (morto em abril do ano passado), a Telebrás comprou US$ 80 milhões em ações da Portugal Telecom.
Esta, por sua vez, investiu igual valor em ações da operadora brasileira.
As ações foram adquiridas no segundo semestre de 97 e ficaram na tesouraria da Telebrás até o final de maio do ano passado, quando o Sistema Telebrás foi dividido em 12 empresas, para o leilão de privatização.
Na mesma assembléia que autorizou a reestruturação da companhia, a Telebrás transferiu as ações da Portugal Telecom para a Telesp Participações (de telefonia fixa), que hoje é controlada pela Telefónica de España, em associação com os portugueses.
Os compradores receberam, como parte do patrimônio da Telesp, ações equivalentes a 1% do capital da Portugal Telecom.
"Nós somos acionistas da Telesp Participações, que, indiretamente, é também nossa acionista. Um total nonsense", afirma Murteira Nabo.
Segundo ele, a "Aliança Atlântica" já não vale nada, pois a Telebrás está em liquidação e não tem patrimônio para fazer investimentos internacionais.
A Portugal Telecom é acionista minoritária da Telesp Participações e acionista controladora da Telesp Celular.
A empresa, segundo seu presidente, já trocou as ações da Telebrás que havia adquirido na criação da "Aliança Atlântica" por ações da Telesp Celular.
A extinção da "Aliança Atlântica" agora depende apenas do acerto de contas entre os espanhóis e os portugueses. A Telebrás, embora oficialmente ainda não tenha sido extinta, não participa da transação.
Na avaliação de Murteira Nabo, a "Aliança Atlântica" não passou de um ato político, uma vez que o governo brasileiro já estava preparando a privatização do Sistema Telebrás quando formalizou a parceria com o governo português.

Política
Na ocasião em que o acordo foi assinado (26 de maio de 97), o então ministro Sérgio Motta estava desgastado pelas denúncias de compra de voto para aprovação da emenda que permitiu a reeleição do presidente Fernando Henrique Cardoso.
No auge das investigações, Motta foi para Lisboa e anunciou a criação da "Aliança Atlântica".
Em outubro daquele mesmo ano, a Telebrás comprou US$ 80 milhões em ações da Portugal Telecom, dando cumprimento ao acordo.
Já na ocasião, contudo, o governo não sabia que destino daria às ações da telefônica portuguesa depois que a Telebrás fosse privatizada. Uma das alternativas cogitadas era deixá-las como patrimônio da União.

Assembléia
Segundo a Telebrás, a transferência das ações para a Telesp foi aprovada em assembléia geral extraordinária dos acionistas. A Telesp teria sido escolhida, simplesmente, por ser a maior telefônica do país.
A empresa disse também que o comprador da Telesp no leilão de privatização também pagou pelas ações da Portugal Telecom, pois faziam parte do patrimônio leiloado.


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