São Paulo, domingo, 10 de junho de 2001

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TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS

"DOT Force" recomenda políticas públicas digitais

GILSON SCHWARTZ
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Falta pouco mais de um mês para a reunião do G-8 em Gênova, na Itália. A agenda do encontro inclui três pontos básicos: o perdão da dívida de países mais pobres, o combate à Aids e a definição de políticas de tecnologia da informação e comunicação para países em desenvolvimento.
Nesse terceiro campo destaca-se a "Força-Tarefa da Oportunidade Digital" (na internet: www.dotforce.org/). Esse grupo foi criado no ano passado, no encontro do G-8 realizado em Okinawa, Japão. A força-tarefa é secretariada pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) e pelo Bird.
Desde então tem aumentado o número de organizações governamentais, não-governamentais, empresas e centros de pesquisa voltados para os problemas da "exclusão digital", ou seja, os riscos de que as novas tecnologias criem novos processos de concentração de renda, novas formas de desemprego, de desigualdade no acesso à produção e aos frutos do desenvolvimento tecnológico.
É importante notar que, passada a euforia com a internet comercial, ganhou importância a dimensão pública da rede, seu potencial como instrumento de política e mudança social.
Uma dimensão dessa "exclusão" que tem recebido menos atenção é a da "exclusão linguística", ou seja, do predomínio de conteúdos em inglês.
As empresas, no entanto, prestam cada vez mais atenção a esse problema. Reportagem da "NewsFactor Network" divulgou no final de maio que, segundo o Grupo Aberdeen, 57 das 100 maiores empresas do mundo operavam com "sites multilinguísticos" durante o ano passado, praticamente duas vezes a quantidade registrada em 99.
Ainda segundo o Aberdeen, nada menos que 66% do faturamento no comércio eletrônico mundial terá origem fora dos EUA. Para quem pretende sobreviver, é preciso desenhar estratégias de marketing "otimizadas para transações internacionais", área em que as taxas de retorno podem chegar a 46%.
O título do relatório é revelador: "Web Globalization: Write Once, Deploy Worldwide" (Globalização pela Web: Escreva Uma Vez, Entregue Mundialmente"). Trata-se de operar por meio das várias línguas e culturas. Surgirão cadeias mundiais de suprimentos que operam como redes multilinguísticas.
Há pelo menos três questões estratégicas. Primeiro, qual a identidade cultural e política do conteúdo em português produzido comercialmente por essas redes de empresas globais?
Segundo, será que os conteúdos em português na web vão crescer por obra e graça de empresas multinacionais?
Finalmente, quais serão as estratégias de "adensamento das cadeias linguísticas" perseguidas pelas empresas do Brasil e de outros países em desenvolvimento em resposta a essa globalização multilinguística?
Entre as recomendações da "Força-Tarefa" para enfrentar o desafio está a criação de formas de acesso públicas.
É um caso raríssimo, no horizonte das recomendações de instituições multilaterais feitas a países mais pobres nas últimas décadas, em que os governos de países mais ricos não estão recomendando a abertura, a desregulamentação e a privatização como políticas de desenvolvimento e superação da pobreza.
Essa é uma grande novidade à qual poucos têm dado a devida atenção. Mais desleixo nessa área e teremos, no campo da nova economia, uma forma digital de apagão. A saber: empresas e empregos de países em desenvolvimento serão apagados do mapa econômico mundial.



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