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Para especialistas, receita deveria ter caído com o PIB no ano passado
SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL
Não é um bom sinal o aumento
da carga tributária em 2003, afirmam especialistas em tributação.
"Em um ano em que o PIB teve
desempenho negativo [caiu 0,2%]
era esperado que também a carga
tributária caísse", observa a economista Erika Araujo, especialista
em finanças públicas.
Isso porque, segundo Araujo, os
tributos, principalmente os federais, são altamente sensíveis ao nível da atividade econômica. Se a
economia dá marcha a ré, a arrecadação também recua. "Mas em
um ano de recessão, quando o
conjunto da renda nacional encolheu, o governo conseguiu não só
manter intacta como ainda aumentou um pouco a sua fatia do
bolo tributário", diz ela.
A carga tributária medida pela
Receita Federal aumentou 0,16
ponto percentual em 2003, atingindo 35,68% do PIB (Produto
Interno Bruto, a soma das riquezas produzidas pelo país). Em
2002, esse percentual foi de
35,52% do PIB. Para a Receita, esses valores mostram que a carga
ficou constante no ano passado.
De acordo com a análise de
Araujo, houve aumento da carga,
embora pequeno. "Ele foi obtido
numa conjuntura recessiva porque o governo se apropriou de
uma fatia da renda do setor privado -pessoas físicas e empresas."
Um estudo que Araujo fez em
parceria com o economista José
Roberto Afonso, assessor técnico
do PSDB, divulgado em maio deste ano, mostra que esse processo
de apropriação é antigo.
Famílias
Segundo o estudo, entre 1995 e
2002, enquanto o PIB cresceu
15,3%, em termos reais, a renda
apropriada pela administração
pública -arrecadação tributária- cresceu 41,4%, contra apenas 4,9% da renda apropriada pelas famílias e pelas empresas.
No ano passado, segundo Araujo, esse fenômeno prosseguiu.
"Mas, como as empresas têm
maior capacidade de se defender
do fisco, o governo conseguiu aumentar sua fatia na renda nacional se apropriando da renda das
famílias", acrescenta.
Os especialistas divergem não
apenas da leitura dos dados que
mostram a evolução da carga tributária, mas também dos valores
apresentados ontem pela Receita.
Para o IBPT (Instituto Brasileiro
de Planejamento Tributário), a
carga tributária de 2003 ficou em
36,11% do PIB, ou seja, 0,43 ponto
percentual acima do índice divulgado pela Receita.
"O governo não inclui as multas
e os juros dos tributos pagos com
atraso no cálculo da arrecadação,
e nós consideramos que isso também é tributo", diz Gilberto Luiz
do Amaral, presidente do IBPT.
Já os economistas Afonso e
Araujo calculam que a carga ficou
em 35,85% do PIB -uma diferença de 0,17 ponto percentual em
relação ao dado do governo.
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