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Governo quer descontos maiores em vôos
Se adotada, medida flexibilizará limite para redução de tarifas em viagens ao exterior, hoje fixado de acordo com a rota
Maior preocupação está em
trechos fora da América do
Sul, pois existe receio de
instalar guerra tarifária com
perda para as brasileiras
Filipe Redondo - 7.jun.07/Folha Imagem
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Movimento para embarque no aeroporto de Cumbica, em Guarulhos (São Paulo), o que mais recebe vôos internacionais no Brasil
MAELI PRADO
DA REPORTAGEM LOCAL
JANAINA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO
O governo estuda dar maior
liberdade às companhias aéreas para praticarem tarifas
mais baixas em vôos internacionais, incluindo os de longo
curso. Em reunião realizada na
semana passada, o Conac (Conselho de Aviação Civil), responsável pela formação de políticas
para o setor, determinou que
uma série de resoluções tomadas em 2003 pelo conselho seja
atualizada.
O Conac é um órgão formado
por sete ministérios e se reuniu
pela última vez em 2003. Tem
como função estabelecer diretrizes do governo para os órgãos responsáveis pelo setor.
O prazo para que essas atualizações sejam feitas (na prática
elas já vinham sendo estudadas) é de 30 a 40 dias, de acordo
com o que foi decidido na reunião da última quarta-feira.
Entre as recomendações, de
acordo com o que a Folha apurou, poderá constar a maior flexibilidade para tarifas em vôos
internacionais, que já está em
estudo na Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), órgão
regulador do setor aéreo.
Hoje, há um limite dos descontos que as companhias podem dar em trechos internacionais sobre os preços de referência estabelecidos pela Iata
(Associação Internacional do
Transporte Aéreo, na sigla em
inglês) ou por acordos bilaterais entre países.
Nos vôos para o Canadá, por
exemplo, permite-se atualmente descontos de, no máximo, 20% para passagens da
classe executiva e de 35% para
a classe econômica. No caso da
primeira classe, é de 10%.
"Guerra" assusta
O que está sendo estudado é a
permissão para descontos
maiores. A proposta é alvo de
discordâncias dentro da própria Anac. O argumento dos
que discordam é que uma
maior liberdade na concessão
de descontos desencadeie uma
guerra tarifária em condições
desiguais para as brasileiras.
Em alguns casos, como os de
vôos na América do Sul, a avaliação é que não haveria problema de extinguir essas bandas
tarifárias ou jogar para baixo as
tarifas permitidas. Quando se
fala de vôos de longo curso, há
uma resistência maior de empresas, principalmente da
TAM, segundo a Folha apurou.
À discussão de maior liberdade
para as tarifas internacionais,
soma-se o estudo de outras
medidas na linha de maior
abertura do setor aéreo.
O presidente da Anac, Milton
Zuanazzi, já afirmou que o cenário de "céus abertos" (maior
liberdade para as aéreas atuarem em países que não os seus)
é uma tendência mundial e que
o governo quer, com o apoio do
Uruguai e do Chile, o fim dos
acordos bilaterais para vôos na
América do Sul, o que ampliaria as freqüências de vôo permitidas entre esses países. Ele
ressalva que é contra a cabotagem (estrangeiras operarem
trechos internos no país).
Para Paulo Bittencourt Sampaio, consultor em aviação, a
mudança na referência de passagens internacionais é sinônimo de modernização do setor.
"Sempre tivemos uma política
de transporte aéreo criada para
proteger as empresas. O que
está sendo feito agora é uma
política de defesa do usuário."
Para ele, a flexibilização trará
ao cenário internacional a
competição existente nas rotas
domésticas mais procuradas.
Capital externo maior
A ampliação da participação
das estrangeiras em empresas
brasileiras também vem sendo
discutida: o limite máximo no
Brasil é de 20%, percentual
considerado muito pequeno
por especialistas. A TAM vem
defendendo que o limite seja
ampliado para 49%.
"Na América Latina, o Brasil
é um dos poucos países que ainda tem restrição à participação
de capital estrangeiro", afirma
o advogado especializado José
Gabriel Assis de Almeida.
O argumento para o limite é
que aviação é um setor estratégico -e que para as estrangeiras a receita de um país como o
Brasil é pouco significativa.
"Essa restrição é anacrônica.
É anterior à Constituição atual,
que não faz diferença entre empresas estrangeiras e brasileiras. Não sei por que a aviação é
um setor mais estratégico que
telefonia ou energia", diz Lucia
Helena Salgado, do Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada.
Para Sampaio, não há risco
de as estrangeiras comprarem
parte significativa das nacionais. "É uma questão de pulverização das ações em Bolsa ou
de entrada de fundos de investimento. Só há interesse no caso de aéreas que operam na
América Latina, que poderiam
fortalecer a posição no Brasil."
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