São Paulo, terça-feira, 10 de junho de 2008

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IGP-DI registra maior taxa de inflação em cinco anos

Aumento de 1,88% em maio é o maior desde janeiro de 2003, segundo a FGV

Taxa foi pressionada por fortes reajustes de preços, no atacado, de minério de ferro, aço, combustíveis e commodities agrícolas

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Divulgado ontem, o resultado do IGP-DI (Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna) de maio acendeu um sinal de alerta: a inflação bateu em 1,88%, a mais alta taxa desde os 2,17% registrados em janeiro de 2003, segundo a FGV (Fundação Getulio Vargas).
Nos últimos 12 meses até maio, o índice acumulou alta de 12,14%. Trata-se da maior marca desde os 12,23% de novembro de 2004.
Pressionado por fortes reajustes de minério de ferro, aço, combustíveis e commodities agrícolas, os preços no atacado foram, mais uma vez, os vilões. O IPA (Índice de Preços por Atacado) subiu 2,22% e registrou mais um recorde negativo: foi o mais elevado percentual desde os 3,14% registrados em dezembro de 2002.
Diante de reajustes tão fortes e persistentes, a inflação já se mostra mais disseminada. "O IGP-DI indicou que há uma alta mais generalizada dos preços, especialmente dos industriais no atacado", diz o economista Rafael Castro, da LCA.
Já Salomão Quadros, coordenador de análises econômicas da FGV, avalia que a pressão em maio foi pontual e que o "espalhamento" maior de reajustes tende a não se repetir nos próximos meses.
Não quer dizer, porém, que ele espera taxas muito mais baixas nos meses seguintes, mas em maio foi registrada uma conjuntura negativa de reajustes, que deve se dissipar no futuro, segundo ele.

"Houve um choque"
Entre as altas de destaque no atacado, o economista cita os combustíveis, o aço e o minério de ferro, cujos ciclos de aumento já estão próximos do fim.
Os reajustes de maior peso ficaram com diesel (7,19%), arroz (15,98%) e minério de ferro (11,38%). Esses itens, sozinhos, contribuíram com 0,18, 0,24 e 0,20 ponto percentual do IPA.
"Houve, de fato, um choque. O índice em 12 meses deve se manter acima de 12% até agosto, mas a pressão tende a se dispersar. Muitas altas em maio foram pontuais. Essa taxa não deve se repetir", diz Quadros.
Além do aumento dos custos, os preços no atacado respondem ainda à maior demanda por alguns produtos, o que propicia reajustes, segundo Quadros. De acordo com a FGV, subiram com força tanto os preços industriais (2,13%) como os agrícolas (2,47%) no atacado.

No varejo
Parte dos aumentos no mercado atacadista já contamina o varejo. O resultado foi a aceleração do IPC (Índice de Preços ao Consumidor), cuja alta passou de 0,72% em abril para 0,87% no mês passado.
Os repasses foram mais fortes nos preços dos alimentos, que subiram 2,33% em maio -a alta em abril havia sido de 1,69%. Os destaques ficaram com o pão francês (alta de 7,08%), batata (18,87%), arroz (16,95%), tomate (11,45%) e leite longa vida (3,55%).
Para Castro, o Banco Central deve manter a política monetária apertada por conta da pressão inflacionária. Ele espera, pelo menos, mais três altas da Selic neste ano -todas de 0,5 ponto percentual. Atualmente, a taxa básica está em 12,25% ao ano. Se sua previsão se confirmar, a taxa de juros fechará o ano em 13,75%.
O contágio da inflação no atacado também é sentido nos preços da construção civil. O INCC (Índice Nacional da Construção Civil) saltou de 0,87% em abril para 2,02% em maio em razão de aumentos de serviços, materiais e especialmente mão-de-obra -inflada pelo reajuste salarial da categoria em São Paulo.


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