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PIB/ 1º TRIMESTRE
PIB cai 0,8%, mas consumo e serviços atenuam recessão
Gasto das famílias e massa salarial reduzem efeito do colapso da indústria e dos investimentos
Com 2 trimestres seguidos de crescimento negativo, país entra em recessão, mas setor de serviços, o maior da economia brasileira, resiste
GUSTAVO PATU
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
A produção de máquinas e
equipamentos, as obras de infraestrutura, as exportações e
as importações tiveram quedas
dignas de uma depressão econômica. Já salários, compras
do dia a dia e serviços básicos
como saúde e educação perderam o ímpeto de meses atrás,
mas voltaram a crescer.
O retrato da produção nacional no primeiro trimestre do
ano, divulgado ontem pelo IBGE, mostra um alívio imediato
dos efeitos da crise global para a
maior parte da população brasileira -afinal, o setor de serviços é o que mais emprega, o gasto público se mantém em alta e
o consumo das famílias move
quase dois terços da economia.
No entanto, a expectativa de
reviver momentos de crescimento mais robusto registrado
nos últimos anos esbarra nos
resultados dos investimentos
públicos e, principalmente, privados, necessários para ampliar a capacidade de produção
e que ainda estão distantes de
alguma recuperação.
Tudo somado, o PIB do país
no primeiro trimestre teve
queda de 0,8% na comparação
com o último trimestre do ano
passado, que já havia contabilizado uma perda de 3,6%, a
maior desde que o Plano Collor
promoveu o confisco da poupança e demais depósitos bancários, em 1990.
Pela regra de identificação
mais universalmente adotada,
o país entrou em recessão com
dois trimestres consecutivos de
queda do Produto Interno Bruto -a medida da renda nacional que compreende indústria,
agropecuária, comércio e serviços, consumo privado, gasto
público, investimentos, exportações e importações.
Embora tenha confirmado a
reviravolta mais aguda em quase 20 anos, o resultado do primeiro trimestre permitiu uma
leitura otimista já posta em
prática ontem pelo governo Lula. Após o susto com o inesperado desastre do final de 2008, o
período seguinte acabou melhor do que se projetava.
Na pesquisa periódica feita
pelo Banco Central, as estimativas do mercado apontavam
um PIB no primeiro trimestre
2,2% menor que o do mesmo
período de 2008 -a queda medida pelo IBGE foi de 1,8%, ainda assim a maior desde o final
de 1998, quando o país vivia os
efeitos da crise russa.
Vistos mais de perto, os números mostram que a recessão,
na sua definição mais vulgar,
não chegou para todos, nem sequer para a maioria. Basta dizer
que o setor de serviços, em que
estão 60% do PIB, não caiu por
dois trimestres consecutivos:
teve expansão de 0,8% no primeiro trimestre, após a queda
de 0,4% no final de 2008.
Nesse grupo estão atividades
do cotidiano que vão desde a escola dos filhos até os aluguéis,
da oferta de saúde ao seguro do
carro. É um setor que só costuma ver retrações quando há
disparada do desemprego ou
queda forte dos salários, até
agora inexistentes.
Pelo contrário: a massa salarial -que leva em conta o volume de emprego e os rendimentos- do primeiro trimestre
ainda foi 5,2% maior que a de
um ano antes. E o consumo das
famílias, depois de encolher
1,8% na derrocada geral do final
de 2008, subiu 0,7% na comparação com o trimestre anterior.
Boa parte da explicação está
em medidas que o governo tomou muito antes do agravamento da crise global, caso do
pacote generalizado de reajustes salariais para o funcionalismo, do aumento real do salário
mínimo e da ampliação dos benefícios do Bolsa Família.
Se o gasto público -mais as
medidas oficiais de redução de
impostos e aumento do crédito
nos bancos federais- e o mercado interno contribuíram para amortecer o impacto da recessão, menos claro é se e quando a economia retomará o ritmo de um ano atrás, quando o
consumo crescia no dobro da
velocidade.
Os investimentos, colocados
no centro da agenda econômica
com o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), passaram pela mais brusca reversão já medida pela atual metodologia do IBGE -caíram 9,3%
no final do ano passado e mais
12,6% no início do ano.
Do resto do mundo não há
muita ajuda disponível. As exportações tiveram queda pelo
terceiro trimestre consecutivo,
e desta vez de 16%, também a
maior, de longe, da série histórica iniciada em 1996.
Maior prejudicada pelo colapso dos investimentos e das
exportações, a indústria acumula queda igualmente recorde, de 8,2% no quarto trimestre
de 2008 e de 3,1% no primeiro.
O setor agropecuário, primeiro
a se ressentir da queda internacional dos preços dos produtos
primários, encolheu pelo terceiro trimestre consecutivo, à
taxa de 0,5%.
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