São Paulo, terça-feira, 10 de julho de 2001

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LUÍS NASSIF

A TAM sem o comandante Rolim

A tam sobrevive sem seu fundador, comandante Rolim Adolfo Amaro. Também continuará crescendo. A diferença é que, com Rolim, seria questão de tempo para se tornar uma empresa de dimensão mundial.
A força de sua imagem poderia passar a impressão de que a TAM era ele, mas há tempos era uma empresa profissionalizada. Rolim se conferiu três papéis na companhia: a de ser sua imagem pública, a responsabilidade pela qualidade do atendimento e, mais importante, a visão estratégica.
Seus planos futuros eram de larga envergadura. Sonhava uma fusão com a Varig, que conferisse à concorrente a presidência do Conselho de Administração e a ele a presidência executiva.
Sua idéia era montar um acordo, inicialmente preservando a individualidade das companhias, até que conseguisse reestruturar a Varig, para, então, completar a fusão. Dizia que, com a nova geração de superjatos (com mais de 500 lugares), quem não tivesse escala seria alijado do mercado internacional.
A fusão com a Varig permitiria a ambos avançar rapidamente sobre o mercado latino-americano. Rolim considerava um despropósito o Brasil não dominar o mercado argentino, já que os vôos da Argentina para a Europa passavam a maior parte do tempo em céus do Brasil.
Rolim sempre foi preocupado com a sucessão, mas, aparentemente, não se definira pelo seu sucessor, pelo menos nas conversas que tivemos. Elogiava a experiência e a visão estratégica de um dos seus vice-presidentes e o vigor e o comando de outro. Se pudesse, seu sucessor seria uma mescla dos dois. Era admirador, também, da eficiência de Rubel Thomaz, o ex-presidente da Varig que ele trouxe para organizar as linhas internacionais da companhia.
Como empresário, Rolim era avis rara no Brasil, ainda mais trabalhando em um setor extremamente regulado, como sempre foi a aviação civil brasileira. Era homem de grandes gestos, mas jamais de adular ou fazer o jogo das corporações. Empregou em sua companhia alguns brigadeiros do Departamento de Aviação Civil (DAC), mas estritamente pelo critério de mérito. No geral, vivia às turras com a burocracia do setor. Conquistou o espaço, as novas rotas, por conta de sua competência e do espaço aberto por concorrentes em crise.
Na vida pessoal, era quase um imprudente, viajando pela América Latina com sua moto possante ou de helicóptero. Na vida empresarial, o arrojo era acompanhado da prudência financeira e de um prurido a toda prova de depender de governos.
Na grande crise da aviação, com o Plano Cruzado, enquanto as demais companhias mantinham o mesmo ritmo, para conquistar "market share", Rolim pôs o pé no freio. Quando veio a crise, a alternativa dos concorrentes foi deixar de pagar impostos, acumulando grande passivo com o governo. A de Rolim foi pagar as dívidas, chegando ao ponto de empenhar sua própria casa.
Quando o setor recuperou margens, os concorrentes ainda combalidos pela imprudência anterior, Rolim estava com a companhia enxuta, pronta para ocupar espaço.
Durante algum tempo, logo após ter superado um câncer na garganta, Rolim chegou a pensar para a TAM um desenho societário similar ao do Bradesco, com uma fundação com ações distribuídas entre sua família e os funcionários. Acabou recuando da idéia depois de ver os problemas que esse modelo trouxe para a governança da Varig.
Quando necessitou expandir a empresa, abriu capital, trouxe investimentos de grandes fundos, colocou em seu Conselho grandes empresários, como Jorge Paulo Lemann. Para abrir capital, procedeu a um descruzamento amplo de ações e participações.
É esse modelo que irá vigorar e garantir o crescimento da TAM. É até possível que saia a fusão com a Varig, que crie a grande companhia aérea nacional.
Só que o fôlego de Rolim era muito maior do que a estupenda herança que deixou ao país. Por mais que a TAM seja, sempre irá pairar a imagem do que ela seria, se o comandante não tivesse partido tão cedo.


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