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LUÍS NASSIF
A TAM sem o comandante Rolim
A tam sobrevive sem seu
fundador, comandante
Rolim Adolfo Amaro. Também
continuará crescendo. A diferença é que, com Rolim, seria
questão de tempo para se tornar
uma empresa de dimensão
mundial.
A força de sua imagem poderia passar a impressão de que a
TAM era ele, mas há tempos era
uma empresa profissionalizada.
Rolim se conferiu três papéis na
companhia: a de ser sua imagem pública, a responsabilidade
pela qualidade do atendimento
e, mais importante, a visão estratégica.
Seus planos futuros eram de
larga envergadura. Sonhava
uma fusão com a Varig, que
conferisse à concorrente a presidência do Conselho de Administração e a ele a presidência executiva.
Sua idéia era montar um
acordo, inicialmente preservando a individualidade das companhias, até que conseguisse
reestruturar a Varig, para, então, completar a fusão. Dizia
que, com a nova geração de superjatos (com mais de 500 lugares), quem não tivesse escala seria alijado do mercado internacional.
A fusão com a Varig permitiria a ambos avançar rapidamente sobre o mercado latino-americano. Rolim considerava
um despropósito o Brasil não
dominar o mercado argentino,
já que os vôos da Argentina para a Europa passavam a maior
parte do tempo em céus do Brasil.
Rolim sempre foi preocupado
com a sucessão, mas, aparentemente, não se definira pelo seu
sucessor, pelo menos nas conversas que tivemos. Elogiava a
experiência e a visão estratégica
de um dos seus vice-presidentes
e o vigor e o comando de outro.
Se pudesse, seu sucessor seria
uma mescla dos dois. Era admirador, também, da eficiência de
Rubel Thomaz, o ex-presidente
da Varig que ele trouxe para organizar as linhas internacionais
da companhia.
Como empresário, Rolim era
avis rara no Brasil, ainda mais
trabalhando em um setor extremamente regulado, como sempre foi a aviação civil brasileira.
Era homem de grandes gestos,
mas jamais de adular ou fazer o
jogo das corporações. Empregou
em sua companhia alguns brigadeiros do Departamento de
Aviação Civil (DAC), mas estritamente pelo critério de mérito.
No geral, vivia às turras com a
burocracia do setor. Conquistou
o espaço, as novas rotas, por
conta de sua competência e do
espaço aberto por concorrentes
em crise.
Na vida pessoal, era quase um
imprudente, viajando pela
América Latina com sua moto
possante ou de helicóptero. Na
vida empresarial, o arrojo era
acompanhado da prudência financeira e de um prurido a toda
prova de depender de governos.
Na grande crise da aviação,
com o Plano Cruzado, enquanto as demais companhias mantinham o mesmo ritmo, para
conquistar "market share", Rolim pôs o pé no freio. Quando
veio a crise, a alternativa dos
concorrentes foi deixar de pagar
impostos, acumulando grande
passivo com o governo. A de Rolim foi pagar as dívidas, chegando ao ponto de empenhar sua
própria casa.
Quando o setor recuperou
margens, os concorrentes ainda
combalidos pela imprudência
anterior, Rolim estava com a
companhia enxuta, pronta para
ocupar espaço.
Durante algum tempo, logo
após ter superado um câncer na
garganta, Rolim chegou a pensar para a TAM um desenho societário similar ao do Bradesco,
com uma fundação com ações
distribuídas entre sua família e
os funcionários. Acabou recuando da idéia depois de ver os
problemas que esse modelo
trouxe para a governança da
Varig.
Quando necessitou expandir a
empresa, abriu capital, trouxe
investimentos de grandes fundos, colocou em seu Conselho
grandes empresários, como Jorge Paulo Lemann. Para abrir
capital, procedeu a um descruzamento amplo de ações e participações.
É esse modelo que irá vigorar e
garantir o crescimento da TAM.
É até possível que saia a fusão
com a Varig, que crie a grande
companhia aérea nacional.
Só que o fôlego de Rolim era
muito maior do que a estupenda herança que deixou ao país.
Por mais que a TAM seja, sempre irá pairar a imagem do que
ela seria, se o comandante não
tivesse partido tão cedo.
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E-mail - lnassif@uol.com.br
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