|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
VarigLog diz que não melhora proposta
Diretor da Volo nega acusação de que seja "laranja" de estrangeiros e diz que TAM e Gol querem dominar mercado
Audi diz que não pode se responsabilizar por dívidas da aérea e que oferta atual, considerada insuficiente, é o máximo que tem a dar
MAELI PRADO
DA REPORTAGEM LOCAL
"Não tem problema, a gente
sai fora." Essa é a resposta, sem
meias palavras, do empresário
Marco Antonio Audi, sócio-diretor da Volo do Brasil, dona da
VarigLog, quando a pergunta é
o que acontece se o fundo de
pensão dos funcionários da Varig, o Aerus, não aceitar a proposta atual da ex-subsidiária de
cargas pela companhia aérea.
A frase dá o tom da postura
que a VarigLog vem adotando
na negociação: com a única
proposta mais concreta na mesa pela companhia -outros interessados não conseguiram
provar a origem dos recursos-
o discurso é na base do "take-it-or-leave- it" (pegar ou largar), o
que rendeu acusações de que a
empresa da Volo quer comprar
a Varig na "bacia das almas".
Avaliação divulgada na sexta-feira pela Deloitte, administradora judicial da Varig, condena
os principais pontos da proposta e diz que a falência seria uma
solução melhor para os credores do que a venda à VarigLog.
A empresa ofereceu R$ 277
milhões pelas operações da Varig. O valor deveria ser repassado à "velha Varig", a parcela da
empresa que permanece em recuperação judicial, e é destinado ao pagamento de credores.
A Justiça marcou uma nova
audiência para hoje, quando a
VarigLog pode modificar sua
oferta. Em entrevista concedida à Folha na última sexta-feira, Audi disse que "a gente fez o
máximo que dava para fazer".
"Não fui eu quem criei a Varig, não fui eu quem criou a dívida da Varig. Não posso falar
que vou dar um jeito na dívida
da Varig. A dívida da Varig tem
jeito com a liquidação dos ativos e os passivos [encontro de
contas entre as obrigações do
governo com a Varig e as dívidas da aérea com a União]."
Sobre a acusação do Snea
(Sindicato Nacional das Empresas Aéreas) de que a brasileira Volo é "laranja" do fundo
americano Matlin Patterson
(no Brasil, companhias aéreas
não podem ter mais de 20% de
participação estrangeira), Audi
rebate que TAM e Gol querem
dominar o mercado. "É uma
guerra. É uma guerra violenta,
uma guerra de titãs", declarou.
Sob forte pressão política, a
Anac (Agência Nacional de
Aviação Civil) aprovou a venda
da VarigLog, que também é
uma empresa aérea, à Volo no
final de junho. A aprovação teria sido condição para a proposta pela Varig ser realizada.
Acompanhe abaixo trechos
da entrevista concedida à Folha na sexta-feira.
FOLHA - Quantos funcionários vocês pretendem manter na Varig [a
companhia aérea possui hoje cerca
de 10 mil trabalhadores]?
MARCO ANTONIO AUDI - A VarigLog é uma empresa de quase
6.000 funcionários. Boa parte
desses funcionários depende
do porão dos aviões da Varig.
Você tem a VEM que é de manutenção, são 4.700, a Sata que
são 5.500, só aí estamos contando com 17.000 funcionários. A Varig hoje opera apenas
16 aviões e com tendência de
parar outros na segunda [hoje],
na terça-feira por causa dos lessors [empresas de leasing] que
querem retomar aviões. O potencial dela, olhamos toda a
frota, é ficar com esses aviões e
mais um pouco, vai dar mais ou
menos 25 aviões, no máximo
30 aviões. Seria uma empresa
para iniciar de 2.800 funcionários mais ou menos, mas queremos voltar para 80 aviões o
mais rápido possível.
FOLHA - Pela proposta, a VarigLog
conta com rotas que a Varig operava
há um ano e que ela já perdeu.
AUDI - Em maio, foi feita uma
junção de todas os hotrans [horários de transporte de vôos] da
Varig, no primeiro leilão. Estamos nos baseando naqueles hotrans, mas não vai ser possível
operar todos. Vamos perder rotas. Não vai ser possível porque
não há avião, conseguir avião
hoje é difícil e demorado. Mas
não estamos entrando para ser
uma empresa de 15 aviões. Vamos voltar para uma empresa
de 80 aviões. Estamos trazendo
investidores estratégicos. Não
posso dar os nomes porque ainda não assinamos.
FOLHA - O Cerberus [fundo de investimentos que é um dos acionistas da Air Canada] está entre eles?
AUDI - Eles estão entre os fundos que estavam conversando
com a gente, mas há uma infinidade. Independentemente disso vamos, nós e o fundo de investimentos Matlin Patterson,
fazer o negócio.
FOLHA - Essa proposta encontra
muita resistência dos credores, principalmente do Aerus. Hoje [última
sexta-feira] a Deloitte, administradora judicial, fez uma lista de críticas
à proposta. Existe espaço para melhorar e flexibilizar a oferta?
AUDI - Primeiro queria te dar
minha impressão como pessoa,
fora da Volo do Brasil e da VarigLog. Sentei com o fundo de
pensão Aerus, com o Brentano
[Erno Dionízio Brentano, interventor do fundo]. Sabe
quanto tempo levou a reunião?
Cinco minutos. Ele sentou e falou: "Eu não aceito nada. Se não
melhorar qualquer coisa para
mim eu não aceito nada". "Então me diz uma coisa", eu disse,
"o que é melhor para você, a
morte da companhia, e o conseqüente desemprego de todos
esses brasileiros, ou se é a mesma coisa para você pelo menos
falar: eu estou ajudando a salvar os empregos?". Ele parou e
falou: "Continuo na mesma.
Para mim não faz diferença nenhuma se vai ter emprego ou
não". Acabou a reunião.
FOLHA - E se o Aerus manter a postura e não aceitar [a VarigLog ofereceu R$ 24 milhões ao fundo, que é
credor da companhia em R$ 2,3 bilhões, R$ 1,1 bilhão repactuados durante a recuperação judicial]?
AUDI - Não tem problema, a
gente sai fora.
FOLHA - Não tem espaço para flexibilizar a proposta?
AUDI - Se você visse o tamanho
da equipe que está trabalhando
nisso, da área financeira, da
área de logística. A gente fez o
máximo que dava para fazer. A
gente acredita tanto no negócio
que da semana passada para essa está colocando US$ 20 milhões na companhia a fundo
perdido. Se alguém comprar recuperamos nosso dinheiro, se
alguém não comprar, o dinheiro foi embora.
FOLHA - A reclamação é que o percentual de faturamento que iria para a Varig "velha", que fica com as
dívidas, é muito baixo.
AUDI - R$ 278 milhões vão ser
colocados na Varig velha, mais
todo o patrimônio [segundo a
Deloitte, o real valor da oferta é
de R$ 126,96 milhões; o valor
anunciado estaria inflado porque inclui componentes como
aluguéis e arrendamentos]. É
muito desencontro de informações, não sei quem tem interesse de fazer todo esse desencontro de informações para que fique essa bagunça no mercado.
Agora não fui eu quem criei a
Varig, não fui eu que criou a dívida da Varig. Não posso falar
que vou dar um jeito na dívida
da Varig. A dívida da Varig tem
jeito com a liquidação dos ativos e os passivos. Nossa solução
pode não ser a melhor, mas é a
solução que a gente pode dar, é
onde a gente pode chegar.
FOLHA - Um parecer da Superintendência de Serviços Aéreos diz
que a Volo tem 94% de capital estrangeiro. Ou seja, a Volo seria uma
empresa controlada por estrangeiros. A legislação brasileira coloca o limite de 20% de participação de estrangeiros em companhias aéreas.
AUDI - Não estamos falando de
investimentos de milhões de
reais, mas em milhões e milhões de dólares. Os maiores investidores do Matlin Patterson
nos EUA são fundos de pensão,
é tudo fundo público. Você acha
que um fundo público desse
iria fazer qualquer coisa contra
a lei? Não iria. Eu tenho 30 e
poucos anos de mercado, eu jamais iria me prestar a um papel
desses. A pessoa que está dizendo isso [que a Volo é controlada
por estrangeiros] é uma só, se
chama Anchieta Hélcias [diretor do Snea]. Eu fui lá [ao Snea],
me apresentei, mas fui tão mal
tratado que fui embora. Fomos
descobrir que o Anchieta é diretor de relações da TAM. Só
tem uma coisa que enxergo disso tudo: sabe qual o único lugar
do mundo em que uma companhia aérea tem acima de 30%
de ebitda [lucro antes dos juros,
impostos, depreciações, amortizações e leasing]? É só no Brasil. O que você acha que eles vão
fazer até o fim? Vão brigar contra a gente, eu garanto. É uma
guerra, é uma guerra violenta, é
uma guerra de titãs. Hoje até
brincando um dos sócios nossos, um americano, virou para
mim e falou: "Marco, fica esperto que vão mandar matar
você". Aí disseram: o dinheiro
[para constituir a Volo] não
tem origem. Está tudo lá no
Banco Central. Você acha que
dá para trazer um dinheiro desse tamanho nas costas?
Texto Anterior: Mercado Aberto Próximo Texto: Frase Índice
|