São Paulo, quinta-feira, 10 de agosto de 2006

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Câmbio provoca demissão e afeta balança de eletrônicos

LG.Philips no Brasil deve cortar funcionários e deixar de vender para a Turquia

De janeiro a junho, Brasil importou, em dólares, 29,4% mais componentes ante 2005; capacidade ociosa de fábricas no país aumenta


ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

A LG.Philips deverá demitir quase 15% de seu quadro de funcionários da unidade de São José dos Campos (SP), com 1.380 trabalhadores. O corte é atribuído à desvalorização do dólar. A fábrica produz cinescópios (tubos de imagem), e hoje haverá reunião entre a direção da empresa e os trabalhadores para discutir a questão.
O câmbio desfavorável às exportações também fará a companhia deixar de vender cinescópios do Brasil para a Turquia. A venda aos turcos dos tubos para TVs de 14 e 20 polegadas para os próximos meses ficará a cargo das fábricas da China e da Coréia do Sul. As informações são do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, onde fica a fábrica. A companhia não fez comentários. Vários setores da indústria criticam o governo por conta da desvalorização do dólar -quem vende lá fora recebe menos reais pelo produto.
Em reunião hoje na empresa, sindicalistas e LG.Philips tentam buscar uma solução para evitar cortes. "A venda do Brasil para fora deixou de valer a pena para a empresa por causa do câmbio", explica Adílson dos Santos, presidente do sindicato. Com base na expectativa de que a relação entre dólar e real não deverá sofrer grande variação a curto prazo, a estimativa da empresa é que, em 2007, a fábrica da LG.Philips produza 1,7 milhão de cinescópios para 14 polegadas, outro 1,7 milhão para 20 polegadas e 1,4 milhão para as TVs de 21 polegadas.
Mas a capacidade de produção da unidade é de 7 milhões de tubos, diz Santos. Ou seja, haverá ociosidade -por isso, a necessidade de cortes.
Companhias como LG.Philips e Samsung no Brasil aceleraram as importações de componentes e reduziram o fôlego exportador, depois do tombo do dólar. A sangria das importações de insumos eletrônicos -há anos, esse é o segundo item da balança brasileira em volume importado- está estampada nos resultados mensais da balança comercial.
De janeiro a junho, o Brasil importou, em dólares, 29,4% mais componentes eletrônicos ante 2005. Isso ocorre porque, quando o dólar perde valor, fica mais barato importar peças.
A Samsung Eletrônica da Amazônia -uma das principais empresas vendedoras de tubos de imagem no Brasil- importou US$ 486 milhões em produtos de janeiro a junho, 72% acima do verificado no ano passado. Dobrou o peso da empresa no giro total de importações da balança brasileira no período, com 1,17% de participação ao final de junho. Por conta das maiores compras lá fora, a Samsung é a sexta maior companhia importadora do Brasil - em 2005, era a oitava.
A LG Electronics da Amazônia, unidade que fabrica TVs, DVDs e outros eletrônicos, comprou no exterior R$ 208 milhões no primeiro semestre do ano -114,19% acima do apurado em 2005. Nessa conta, não está a importação de peças para celulares ou computadores, só para a linha de imagem.

Tela plana
De janeiro a junho, o país importou 3,6 milhões de cinescópios para TVs, grande parte vinda da Ásia -em todo o ano de 2005, foram 3,8 milhões. A forte demanda pelas TVs de tela plana de 20 e 29 polegadas puxou essa importação. Só para comprar os tubos, o país mandou para fora US$ 211 milhões em seis meses. No ano passado inteiro, foram R$ 262 milhões.
Não se trata só de tubos de imagem. Eles têm a sua importância -custam US$ 58, em média. Mas o país tem comprado de tudo, e essa expansão incomoda fabricantes nacionais. Só não atrapalha tanto os resultados de empresas locais porque: 1) há forte demanda por eletrônicos no mercado interno e as companhias nacionais ainda têm um segmento a atender; 2) a recente greve dos auditores fiscais barrou importações por um período. Isso ampliou, em parte, a compra local.


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